Hoje pela manhã terminei a leitura do livro “Ainda sou eu”, do Christopher Reeve, o ator que interpretou o Super-Homem nos filmes mais recentes. São memórias dele.
Em 1995 (aos 42 anos) ele sofreu uma queda do cavalo enquanto praticava hipismo e lesionou a medula ficando tetraplégico além de precisar de aparelho para auxiliar sua respiração.
Em 1998 lançou o livro onde se lê que, nesse intervalo de tempo, fora a rotina intensiva do tratamento necessário, ele compareceu à entrega do Oscar, falou na Convenção Democrata, dirigiu um filme, escreveu o livro, trabalhou em questões políticas e viajou muito. Além de abrir a “Christopher Reever Foundation”, uma fundação cujo objetivo é arrecadar dinheiro para a pesquisas visando tratamento e cura de paralisias causadas por lesões na medula espinhal e manter programas voltados para questões relacionadas à qualidade de vida dos deficientes físicos.
Transcrevo abaixo um pequeno trecho:
“Muita gente pergunta como é ter lesão na medula espinhal e ficar confinado a uma cadeira de rodas. Afora todas as complicações clínicas, eu diria que a pior parte é abandonar o mundo físico – fazer a transição de ator para observador, muito antes do que se espera. Acredito que estamos preparados para abandonar gradualmente as atividades físicas, à medida que vamos envelhecendo. Certamente, eu não estaria participando das competições de hipismo com 60 anos... e não velejaria sozinho na velhice. A diferença é que eu teria tempo de preparar-me para curtir as coisas de que eu mais gosto de um outro jeito...
Desde que eu não me esqueça de que ser é mais importante do que fazer e que a felicidade depende da qualidade dos relacionamentos, dá pra agüentar. Acredito sinceramente nessas coisas, mas nunca imaginei que fosse sentir tanto a falta de liberdade, de espontaneidade, de ação e de aventura...
Ouvi de muitos ‘especialistas’ que com o tempo eu ficaria mais fisicamente estável e psicologicamente ajustado a minha condição. Descobri que não é nada disso... Acho que estabeleci uma base funcional: há dias em que estou para baixo, mas não me deixo abater. Isso não significa, porém, que aceitei a paralisia ou que viva em paz com ela.
A privação sensorial é o que mais me dói... o mundo físico continua sendo importante para mim; ainda não consegui afastar-me dele para viver inteiramente na cabeça. Embora acredite que nossa essência não é o corpo, mas ele é apenas a casa que ocupamos enquanto estamos na terra, trata-se mais de um conceito intelectual, que de uma filosofia a ser adotada na vida diária. Sinto inveja quando alguém conta que foi esquiar, quando vejo os amigos se abraçarem...
Se me perguntarem qual foi a lição mais difícil que aprendi com todo isto, não hesito: ser obrigado a dar quando, às vezes, o que quero é receber.”
O livro trata também da carreira dele como artista de cinema e teatro, das difíceis relações familiares na infância e adolescência e dos seus dois casamentos, numa linguagem simples e agradável.
Não preciso dizer o quanto essa história me comoveu. Consegui me identificar com muitas das aflições que ele descreve e isso sempre ajuda a entender minhas idiossincrasias. Portanto, recomendo a todos sua leitura.