Até aqui, pelo menos, a ordem dentro da TV Globo é de não repercutir a entrevista dada ao jornal O Estado de S. Paulo pelo caseiro da alegre mansão de Brasília frequentada pelo ministro Antonio Palocci, da Fazenda - salvo se a CPI dos Bingos decidir convocar Palocci para ouvi-lo novamente.
O Bom Dia Brasil ignorou o assunto. O telejornal Hoje, idem.
O ministro suou a camisa para evitar a publicação da entrevista, mas suou mesmo. Agora sua a camisa para limitar ao mínimo sua repercussão. Ele vive correndo atrás do prejuízo.
Na última quarta-feira, de Londres, telefonou para senadores da oposição pedindo para baixarem a bola da CPI dos Bingos que ouvia o motorista de Vladimir Poletto, seu ex-assessor em Ribeirão Preto, amigo de fé, camarada.
O motorista disse que viu Palocci duas ou três vezes na mansão. À CPI, Palocci havia garantido que jamais pusera os pés por lá.
No dia seguinte, Palocci telefonou para Lázaro Brandão, presidente do Bradesco, e pediu a ajuda dele para que a CPI dos Bingos não apertasse o delegado de Ribeirão Preto que o acusava de peculato, extorsão e formação de quadrilha.
O banqueiro ligou para dois senadores da oposição expressando sua preocupação com a sorte de Palocci. O estrago na imagem dele, contudo, estava feito.
O governo aposta no efeito paralisante de uma denúncia sobre a outra. Confia que uma acaba anulando a outra e que no fim o distinto público, cansado, não presta mais atenção em nada.
Lula tudo fará para manter Palocci no ministério. Prefere acreditar que ele visitou a mansão só para se distrair e relaxar um pouco, afinal é muito dura a vida de ministro da Fazenda.
Lula entregou a cabeça do seu primeiro ministro (José Dirceu) para salvar a sua, ameaçada pelo escândalo do mensalão. Acha que será um desastre entregar a cabeça do segundo ministro que virou primeiro. Teme que depois se diga:
- Mas que governo é esse onde as principais peças desabam por suspeita de prevaricação?
Sem coragem para citar Dirceu como um dos que o traíram, Lula não terá nenhuma para um dia admitir que também foi traído por Palocci. Até porque não foi traído por ninguém.
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Comentário:
Félix Maier
A "alegre mansão de Brasília" a que Noblat se refere era utilizada para receber - além de políticos com malas de dinheiro - as "meninas" de Jeany Mary Corner, a cafetina petista, para alegrar a companheirada em trânsito pela Capital. A respeito do assunto, a revista "Veja" desta semana (nº 1947, de 15 de março de 2006), traz um artigo com o título "O achaque de Mary Corner (pg. 62 e 63). Segundo o articulista, Miss Corner, além de receber R$ 50.000,00 para não revelar as maracutaias e orgias pecúnio-sexuais de clientes-políticos, teve participação direta na corrupção petista, a saber:
"- Além de fornecer as recepcionistas que animavam as festas de uma mansão no Lago Sul de Brasília, alugada por ex-auxiliares de Palocci, Jeany também ajudou a turma de Ribeirão a pagar, em 2003, uma espécie de mensalão de 50000 reais a políticos na capital federal. Oito deputados teriam recebido o dinheiro
- O operador desse mensalão era Rogério Buratti.
- Para ajudar Buratti a operar o esquema, ela o apresentou aos doleiros de Brasília Fayed Antoine Traboulsi e Chico Gordo. Também permitiu que sua própria casa fosse usada para a divisão do dinheiro.
- Os valores eram dividiso pelas "meninas" de Jeany seguindo instruções deixadas por escrito por Buratti. Depois de contado, o dinheiro era escondido dentro de revistas, colocadas em envelopes de papel.
- Algumas garotas de Jeany rodavam Brasília de carro entregando os envelopes. Quem guiava era Francisco, ex-motorista de Buratti. Em 2003, a operação repetiu-se cinco vezes.
- Jeany chegou a receber 50000 reais para ficar quieta. O dinheiro teria sido entregue por Feres Sabino, ex-secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura de Ribeirão Preto. Sabino nega ter sido o emissário, embora admita conhecer os advogados de Jeany. Há dois meses, Veja recebeu a informação de que o pagamento teria sido intermediado por outro advogado: José Firmo Ferraz Filho, o mesmo que, há dezessete anos, protagonizou o Caso Lubeka, um dos primeiros escândalos de corrupção do PT" (Veja, art. cit., pg. 63).
O senador Demostenes Torres, do PFL goiano, o primeiro a falar em Miss Corner numa das CPIs, disse:
"Já ouvi de duas fontes diferentes que ela, realmente, tentou extorquir o ministro Palocci. Resta saber se o pagamento foi concluído" (Veja, art. cit., pg. 63).
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O STF concede habeas corpus a Duda Mendonça, para ficar calado ou mentir à vontade em mais um "depoimento" à CPI dos Correios (15/03/2006). Com mais essa Suprema patifaria, que vem se repetindo nos últimos meses, para blindar bandidos diante de comissões investigativas do Parlamento brasileiro, sugiro que a sigla passe a ser, não mais Supremo Tribunal Federal, mas São Todos Filhos da p. (F.M.).