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Artigos-->Baixa nos quartéis -- 14/03/2006 - 15:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Baixa nos quartéis

Leonel Rocha - Da equipe do Correio

Correio Braziliense 12/03/06



Orçamento enxuto, salários pequenos, falta de prestígio e sucateamento do aparato frustram oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que abandonam, em ritmo cada vez maior, a carreira militar



***



As Forças Armadas brasileiras estão enfrentando um inimigo invisível e silencioso: a frustração profissional dos seus oficiais. Atingidos pela falta de política de defesa do país, orçamento curto e mal gasto, atraso tecnológico e desprestígio pós-ditadura, muitos abandonaram os quartéis. Nos últimos seis anos, mais de 600 deixaram o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, trocando a farda por uma carreira em outro setor do serviço público ou na iniciativa privada. Somente nos primeiros dois meses deste ano foram cerca de 40 baixas. Quase todos desistiram da profissão antes do que deveriam para complementar a aposentadoria trabalhando em outra área na reserva.



Os fatos que levam à decepção com a carreira não são novos. Mas o sentimento se agravou na última década, com a redução continuada do orçamento militar. Para este ano o governo propôs R$ 4,9 bilhões. Menor do que o executado em 2005 (veja tabela nesta página). Um corte de R$ 1,2 bilhão porque este ano os gastos com a força de paz no Haiti serão menores. Mas cada uma das forças perde recursos. Além do corte, ainda há R$ 1,4 bilhão de dívidas do ano passado.



Os militares gastam cerca de 85% da receita pagando salários, aposentadoria e pensões. Algumas repassadas a filhas e até netas de oficiais mortos. Uma pequena parte dos recursos fica para investimentos em atuação tecnológica e treinamentos. Os oficiais estão frustrados porque não podem aplicar o que aprendem nas academias. Terminam utilizando seus conhecimentos para fazer concursos públicos e ingressarem no Legislativo, Judiciário e na administração direta da União, que pagam muito mais. Os destinos mais comuns são Polícia Federal, tribunais e auditorias fiscais. Os salários dos oficiais variam de R$ 3 mil (tenente) a R$ 7 mil (general quatro estrelas).



Deixar a força não é fácil nem barato. Por lei, o oficial que pede demissão antes de três décadas de serviço é obrigado a pagar pelos cursos que fez nos últimos cinco anos. No caso de um oficial engenheiro, por exemplo, o custo pode ultrapassar R$ 100 mil. Mesmo assim, as empresas interessadas nesta mão de obra pagam a multa. No final do ano passado, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão da reserva, participou da formatura de 120 policiais rodoviários federais e constatou que 12 deles eram sargentos de carreira, tenentes e oficiais superiores. Tinha até um capitão de Marinha e oficiais da Aeronáutica.



Um deles contou que decidiu ser policial rodoviário porque iria ganhar mais logo no começo da nova profissão do que receberia se esperasse 10 anos na Força. Bolsonaro impetrou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal para acabar com a multa que os oficiais pagam quando deixam a Força. “Nós fazemos parte de um teatro onde somos enganados”, protesta.



Equipamentos ultrapassados



O soldado do Exército que faz parte do grupo que está cercando as favelas do Rio de Janeiro não usa coletes à prova de balas. A arma que utiliza é o Fuzil Automático Leve (FAL), modelo da década de 1960, mais pesado e menos preciso que o HK empunhado pelos traficantes. A última compra de armamento do Exército foi feita há quase 20 anos. Na Força, há carros de combate utilizados na guerra da Coréia, ocorrida na década de 1950.



Desta espécie de museu vivo militar, fazem parte os antigos Urutus e Cascavéis que são da década de 1970. Recentemente foram reformados pela terceira vez. A Infantaria do Exército ainda usa equipamentos descartados como sucatas pelos Estados Unidos depois da guerra do Vietnã. “Não temos uma boa força armada e por isto nunca faremos parte do conselho de segurança da ONU”, lamentou o coronel aposentado e professor da Universidade de Campinas Geraldo Cavagnari.



Estudioso das Forças Armadas, ele detecta uma revolta surda contra o status quo. Segundo Cavagnari, não há perspectiva profissional. Não somente por falta de salário, mas porque o oficialato já descobriu que o Brasil é um país desarmado. “O ressentimento está aumentando. Estamos silenciosos, mas atentos”, disse.



Em dezembro, durante palestra a 50 capitães-de-mar-e-guerra e almirantes da reserva, o comandante da Marinha, almirante de esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, traçou um quadro da falência: no ano passado, teve que “desincorporar” nove navios de guerra. Conseguiu repor somente quatro. Este ano, outros cinco navios serão encostados por velhice e não há previsão de reposição.



No ar os problemas são os mesmos. A comitiva precursora da viagem a Londres feita na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula a Silva teve que pousar nas Ilhas Canárias com uma pane no avião. Falta peça nova para o antigo “sucatinha”, como é conhecido o avião da Força Aérea que serve à Presidência como substituto do Aerolula.



Dinheiro minguado



O orçamento militar não vai mesmo crescer. Hoje é o quarto do governo federal, atrás da Saúde, Educação e do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa Fome Zero. Estas distorções ajudam a aumentar o desprestígio no Congresso e baixar ainda mais o moral da tropa, nos últimos meses atingida pelos suicídios de dois importantes oficiais – o comandante das forças de paz no Haiti, general Urano Bacelar, e o chefe do Exército em Minas Gerais, general Luiz Alfredo Jeffe, na semana passada.



Para constrangimento da tropa, o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, colaborou como desprestígio na semana passada. Usando do poder do cargo, interrompeu a decolagem de um avião comercial lotado e embarcou com a mulher de Campinas para Brasília. No Rio de Janeiro, traficantes levaram armas e munições de um quartel. Depois de alguns dias cercando favelas e trocando tiros com traficantes, as armas não foram encontradas e o saldo contabiliza inocentes feridos por balas perdidas.



Mesmo com o orçamento curto, as Forças Armadas ainda mantém ilhas de excelência. A aviação da Força Aérea, por exemplo, é uma delas. Outra é o Centro de Guerra Eletrônica em Brasília. Os comandos paraquedistas que ficam em Goiânia e as academias de formação de oficiais engrossam as exceções.



Uma das prioridades são os quartéis na Amazônia, para onde vão 80% dos oficiais recém-formados pelo Exército. Para não ficar inteiramente atrasado em comparação com outras forças da América Latina, os “milicos”, como eles mesmos se tratam, priorizam estes setores na pequena fatia do orçamento destinada a investimentos.



Depois de dar um golpe em 1964 e passar 20 anos no poder, os militares brasileiros descobriram que hoje estão sem prestígio junto ao governo e no Congresso, adotam um regimento interno ultrapassado, aplicam instruções arcaicas e aplicam um sistema de promoções antiquado. Apesar de serem considerados em pesquisas de opinião a instituição de maior credibilidade no país, acima da igreja, dos Correios e da mídia, o poder militar, hoje com 350 mil homens – 220 mil só no Exército – é olhado com desconfiança e não consegue definir, junto com o poder civil, que tipo de Força Armada o Brasil precisa.





EVASÃO DE OFICIAIS NAS FORÇAS ARMADAS entre 2000 e 2005



Exército 244

Marinha 211

Aeronáutica 224

Total 679











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