Bill Gates, Fidel Castro e a biotecnologia em Cuba
por Carlos Wotzkow em 27 de fevereiro de 2006
Resumo: Os avanços tecnológicos da biotecnologia cubana algum dia serão bem conhecidos por sua crescente falsidade. Cuba é o país que mais mente em matéria de êxito biomédico.
Não faz muito tempo a revista Nature (Editorial Vol. 436/21 de julho de 2005) e o website de Pugwash (Meeting nº 259), faziam eco ao “dano que causa à colaboração científica o embargo dos Estados Unidos da América contra Cuba”. O protesto fazia menção a um prêmio de 70.000 dólares outorgado a Cuba pela Fundação Bill & Melinda Gates para programas de investigação imunológica, porém que não pôde ser entregue porque o Departamento do Tesouro americano ameaçava em sancionar o ilustre fundador da Microsoft. Pobrezinho!
Desperdícios mentais à parte, o que mais chamava a atenção a alguns era, por que agora os Gates desejavam doar dinheiro a Castro (eles dizem que foi o comitê da fundação e do Pugwash que decidiram premiar o Programa Nacional de Imunização) sem razões válidas? E, claro, ninguém se punha a pensar que as transações comerciais em um país como Cuba, são decididas por um só homem: Fidel Castro. Durante décadas a companhia Microsoft esteve flertando com Castro para assegurar um mercado ditatorialmente exclusivo em Cuba, porém, nessa época Castro não tinha com quê lhes pagar.
Agora, desde que Castro virou gerente plenipotenciário do banco da Venezuela, muito apesar dos argumentos esgrimidos por Pugwash, a realidade de Cuba e a solvência de seu ditador é outra. Hugo Chávez, caudilho imposto ao povo venezuelano graças à ajuda inestimável de Carter, outorgou a Castro todos os poderes para fazer e desfazer com o tesouro nacional desse país. O casal Gates, extremamente sensíveis a este tipo de transferência de poderes econômicos, não quis, portanto, demorar com seus afagos ao tirano. Sabe-se que se Castro quer modernizar sua tecnologia eletrônica (e depois pirateá-la e triplicá-la com a ajuda de Ramiro Valdez) necessita de certa legitimação de compras ao produtor original.
Quer dizer, uma cifra que, a julgar pelos conhecedores do tema e o limitado emprego desta tecnologia em Cuba, rondaria os 500 milhões de dólares a favor do gentil dono da Microsoft. Quando o amigo leitor compara um presente de 70.000 dólares à exclusividade de ser dono e senhor em um mercado fechado e sem competidores, as conclusões são elementares. A partir daí, seria capaz de imaginar Bill Gates criando um fundo de milhares de dólares anuais para a recuperação do papagaio cubano. Quer dizer, oferecendo dinheiro a Castro, com pleno conhecimento de que essa maravilhosa ave tropical há mais de um século é uma criatura extinta.
Entre as maravilhas que convenceram Bill e Melinda está a declaração do MINSAP cubano que diz que “Cuba pode vacinar toda sua população em menos de 24 horas”. Se uma velhacaria como esta é um dos elementos de mérito para ganhar semelhante soma de dinheiro, o que podemos esperar acerca do rigorismo científico dessa comissão encabeçada pelo Pugwash? Para os que gostam de delirar, notem que outro dos fatores que influíram no outorgamento deste prêmio inclui a firme crença de que todos os médicos de família (um para cada 600 habitantes, segundo Pugwash) podem contactar seus pacientes mais distantes (incluídas as zonas rurais) em menos de 30 minutos!
É atraente que se outorgue a Cuba o papel protagonista da vacinação no Haiti, quando todo mundo sabe que foi a França que doou as vacinas e Cuba apenas uns quantos médicos e centenas de agentes desestabilizadores (contados como médicos) que levaram meses depois o caos total a esse país. Os cubanos que sabemos como aquele sistema opera, nos perguntamos: como podem as agências inernacionais crer nas cifras oferecidas por Cuba, sem questionar-se sua credibilidade? Ou seja, como pode funcionar um policlínico para 30.000 cubanos, se Cuba não pára de exportar médicos por interesses políticos (Haiti, Nicarágua, Argélia, Angola, Ghana), por interesses propagandísticos (Costa Rica, África do Sul, Honduras), e por dinheiro e energia (Venezuela e Bolívia) que outros lhe presenteiam?
A lista de fracassos imunológicos em Cuba é tão longa e escandalosa que a mim me apetece muito perguntar pelos detalhes das provas clínicas seguidas em Cuba para a vacina contra a meningite B. Como foram informados os pacientes? O que se passou com a suposta elaboração e colocação no mercado desta vacina (tesouro mimado do Instituto Finlay) na qual participaria a firma Glaxo Smith Kline? Por que a propaganda liberal ameaça que a vacina poderia não chegar nunca ao público norte-americano por culpa do embargo, se a realidade é que o Departamento do Tesouro jamais pôs obstáculos ao Reino Unido para co-patenteá-la em seu território?
Os avanços tecnológicos da biotecnologia cubana algum dia serão bem conhecidos por sua crescente falsidade. Cuba é o país que mais mente em matéria de êxito biomédico. Sua propaganda se nutre dessas mentiras desde há mais de quatro décadas. Se no mundo inteiro os pressupostos de investigação estão sujeitos aos resultados e, por desgraça, isto favorece a publicação de resultados falsos (lembremos o sul-coreano Hwang e a pompa e circunstância que lhe concedeu a revista Science, outra fiel admiradora das ciências cubanas), o que não farão os pobres investigadores cubanos para ganhar a liberdade à mais mínima oportunidade de receber permissão para uma viagem?
O que representa os investigadores cubanos terem conseguido progressos significativos na disseminação de vacinas contra a AIDS, o Cólera e outras enfermidades? Se o que querem dizer é que Cuba é hábil na hora de vender todo tipo de vacinas imprestáveis a vários países (o Brasil é o exemplo mais retumbante), estou de acordo. Porém, se o que querem nos fazer crer é que essas vacinas cumprem seu objetivo, ou que passaram pelo mínimo de controles necessários antes de efetuar sua venda, estão mentindo. Cuba engana os cubanos sobre os que experimentam essas vacinas e depois engana os países do terceiro mundo aos quais elas são vendidas.
O Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia é o mais conhecido do grupo de 38 instalações biotecnológicas priorizadas por Castro, para a guerra biológica que Cuba leva anos preparando (e aparentemente ensaiando) contra os Estados Unidos. O Grupo de Trabalho Pugwash efetuou em fevereiro de 2001, em Havana, um meeting denominado “Reforçando a Cooperação Internacional”, um tipo de conferências e “intercâmbios científicos” que o governo de Cuba aproveita sempre para amplificar sua propaganda, infiltrar agentes nos Estados Unidos e apropriar-se gratuitamente da tecnologia de ponta.
“Cooperação”, agora entendo, significa “jogar a toalha”, “encobrir”, “fazer-se de tonto” e divulgar no exterior como se fosse correto, tudo o que ao regime lhe ocorre ser positivo para sua imagem. Entre as excelentes medidas tomadas por Cuba para cumprir com o visto legal internacional está, segundo o Pugwash, a erradicação do uso do DDT em 1968. Ou seja, dois anos antes dos Estados Unidos. “Cooperação”, além disso, significa para o Pugwash afirmar que Cuba não possui antibióticos suficientes por culpa do maldito embargo norte-americano.
Dizer que Cuba deixou de utilizar o DDT em finais da década de 60 é rir-se das famílias cubanas que perderam seres queridos por culpa de terríveis ataques de asma, durante as fumigações em grau técnico (de DDT e outros pesticidas), efetuadas pelo MINSAP em 1980. Ainda lembro em meus anos de estudante de medicina veterinária, a quantidade de antibióticos que nos chegavam dos países do CAME para todo tipo de tratamentos infecciosos. Era a época na qual Castro assegurava que as vacas cubanas produziriam mais leite que as da Holanda. Porém, então, como Cuba pode produzir tão sofisticadas vacinas (às quais atribuem reconhecimento mundial) e não é capaz de produzir antibióticos?
“Cooperação” significa dizer ao mundo que em Cuba há apenas 3.200 doentes de AIDS aos quais se oferece internamento em sanatórios nos quais conservarão seu salário. Bom! Porém, será que estes liberais ficaram loucos? Cuba, o maior prostíbulo do Caribe, quase um país livre de AIDS graças à boa educação de sua população? “Cooperação” siginfica dizer que o embargo norte-americano inclui explicitamente os alimentos e medicamentos como produtos vetados a Cuba. Não será Castro quem viola o artigo 4º da Convenção de Genebra, ou o 12º da Carta dos Direitos Humanos das Nações Unidas? Pergunto porque foi ele quem rechaçou a ajuda médica e alimentar que os Estados Unidos lhe ofereciam, na passagem dos últimos furacões...
Como corolário, uma suspeita: por que Cuba, com um nível biotecnológico impecável e aplaudido por quase todo o mundo (e inclusive premiado pela Fundação Bill & Melinda Gates), não é capaz de contar com um sistema de produção de medicamentos que satisfaçam as necessidades vitais e essenciais de sua população? Em outras palavras, como é possível que se premie Cuba por produzir vacinas que ninguém mais pode descobrir e que esse mesmo país não seja capaz de abastecer de aspirinas (por exemplo) a sua depauperada rede de farmácias nacionais? É a meningite B a enfermidade mais comum do país, ou serão os dólares das transnacionais a verdadeira causa de semelhante apatia farmacêutica?
Para terminar, sugeriria a Bill e Melinda Gates que, a partir de agora, tratem suas doenças nos hospitais cubanos. Porém, não em centros como o CIMEC, ou na clínica Cira Frías (ambos abastecidos pelo roubo de medicamentos que o governo efetua nas agências de correios dos envios provenientes de familiares radicados nos Estados Unidos), mas em hospitais como o Nacional, o Clínico Quirúrgico, a Quinta Covadonga, ou o Militar de Marinao. Asseguro aos do Pagwash que se os Gates decidirem curar-se em qualquer destas ruínas (outrora hospitais de primeira categoria) destinadas ao cubano “a pé”, logo deixarão de contar com seus donativos.