Pedofilia, venda de drogas e comércio de receitas médicas são praticados livremente nas comunidades do site
Rodrigo Martins
O Orkut perdeu a inocência e virou uma terra sem lei. Criada pelo programador turco Orkut Buyukkokten com o intuito altruísta de "conectar as pessoas", a comunidade virtual mais famosa do Brasil está se tornando palco de crimes bem reais.
No site, pedófilos divulgam seus e-mails para trocar fotos de menores em situações eróticas. E traficantes propagandeiam livremente a venda de drogas, como ecstasy, LSD e lança-perfume.
Há ainda falsários que comercializam receitas médicas para a compra de remédios de tarja preta. Outros grupos reúnem praticantes de rachas automobilísticos, que usam o espaço virtual para agendar os "pegas" nas ruas.
"O Orkut se tornou o maior repositório de criminosos da web brasileira", denuncia Thiago Tavares, da organização Safernet, que luta contra crimes de direitos humanos na web. As denúncias recebidas pela ONG apontam que, hoje, o Orkut é o campeão em pedofilia na internet: está envolvido em 48% dos casos reportados.
Já na Polícia Civil paulista, os crimes virtuais no Orkut são os responsáveis por 30% das denúncias recebidas pela delegacia de meios eletrônicos. E, segundo o delegado Francisco Bondioli, essa participação está crescendo. "Hoje, o Orkut só perde para o roubo de dados bancários pela web."
O grande responsável por isso, segundo Tavares, da Safernet, é a impunidade de que goza atualmente quem faz práticas ilegais na página. "O Orkut virou um paraíso para os criminosos. O Google - dono do Orkut - não incomoda nenhum membro da comunidade. E a polícia não consegue chegar aos criminosos", diz ele.
E, pelo visto, os bandidos virtuais já se deram conta disso. "Todos os dados do meu perfil no Orkut são falsos. Nunca vão me prender", provoca um dos pedófilos, que afirmou chamar-se Luciano ao ser contactado, via comunicador instantâneo, pelo Link.
Procurado pela reportagem, o Google disse, via Assessoria de Imprensa, que não quer conteúdo ilegal no Orkut, mas não disse o que faz para evitá-lo.
Enquanto isso, a polícia diz que a falta de resultados nas investigações se deve à inexistência de leis adequadas às características do universo virtual. Um exemplo: o Orkut é uma empresa do grupo Google, baseado nos EUA. Então, que leis - as brasileiras ou as norte-americanas - valem para ir atrás de eventuais ilegalidades cometidas por meio do site?
Assim, traficantes, como o membro Junior Spy, deitam e rolam na comunidade. Ele, inclusive, acha mais cômodo vender drogas pelo site do que comercializá-las em raves. "Consigo vender LSD em cartelas inteiras. Se fosse em raves, teria que vender em pedacinhos", disse, via MSN.
Nesta edição, o Link mergulha no submundo do Orkut e mostra no que se transformou o ingênuo projeto de Orkut Buyukkokten.
