MOISIS... A Filha das Águas...

Ah... Senhor Presidente, se bem visse esta imagem...Na vida, meus Amigos, entre a complexa diversidade de funções, nos nossos dias, e hoje cada vez mais do que nunca, gera-se a luta quotitiana, dantes por almejos de sobrevivência estóica, algo que fazia investir nos actos atitudes de valorosa e autêntica heroicidade. De sonho em sonho, agora, o sonho ampliou-se até ao ponto do mais culminante dos ridículos: outrora ia-se ao mar sob convicto sinal da cruz, afrontar a morte para ganhar o pão salgado em banhos de suor. Actualmente, sobre um pedaço de plástico, plana-se sobre as ondas por puro prazer e exuberante espectáculo sem qualquer finalidade útil. De resto, tudo-tudo tende a ser assim, até as palmas, que deixaram de ser uma manifestação de exclusivo e espontâneo aplauso para passarem a uma espécie de negaça emotiva, nítida "ratoeira comercial". Estamos pois no tempo dos palmeadores profissionais, representando ao invés o papel das antanhas carpideiras fúnebres, lúgubres símios com garbosa inteligência.
O progresso, meus caros, na instante sofreguidão de ultrapassar os limites, em nome de todos os nomes, do pai, da mãe, do filho e de Deus, afinal de contas degrada inexoravelmente a humanidade, mas, na abrupta levada que impante galga, ninguém recua e, ainda que alguns pretendam um ritmo mais suave, ninguém poderá recuar. O mérito do antigo ditado de "prá frente é que é o caminho" apresenta-se-nos hoje exactamente a sensação inversa. O prenúncio da tragédia avoluma-se ante a indiferença de biliões de seres racionais que aspiram possuir um carrinho para andar estupidamente às voltinhas em velocidade louca.
Os pulhas - sobretudo os padres, os políticos e os proxenetas - continuam incessantemente a verborrear e a gesticular, levando assim uma aprazível vidinha. Repare-se que os proxenetas, dentre o nefando e estafado triângulo parasita, são ainda os que produzem mais efectiva utilidade à existência, consolando as prostitutas das violentas agruras do passeio e das sevícias a que permanentemente se sujeitam.
Apre, mas aonde estou e vou eu com esta escrita? Ah... Relançando o meu mágico pião da relatividade, estou e vou aqui: observem-me.
No tranquílo lago de Pampulha, em Belo Horizonte, um pequeno saco negro, amarrado a um pedaço de madeira, desliza ao sabor da calma ondulação e da morna brisa. Alguém na margem escuta algo parecido com mios e vê o saco mexer-se. - Diacho, exclama, quem terá sido o malvado que meteu ali um gato?... Logo que do estranho invólucro, à cautela, se extrai o recheio, surge uma bebezinha com dois meses, de fitinha cor-de-rosa à volta da cabeça, bem vestinha, a esbracejar e a espernear. Eis Moisis, a filha das águas, em pleno ano 2006, milénios após o milagre do Nilo, que deu ao mundo o líder de um povo que atravessou o tempo à procura da Terra Prometida, esta em que vivemos e aonde cavamos estupidamente um abismo de trampa, no qual a pouco e pouco nos afundamos de olhos bem abertos.
Os políticos e os padres, pois, solicitam tacitamente aos seus fieis acólitos que investiguem a mãe de Moisis até ao fundo da vagina. Os proxenetas continuam a consolar as heróicas prostitutas que por sua vez consolam o insaciável "pai da humanidade".
Ah... Sabem o que Lula terá dito quando soube da surpreendente ocorrência? Disse: - Doa a quem doer quero o caso esclarecido até às últimas consequências...
Consequências?!... Uma meia dúzia de milhões delas que morrem ou se salvam por mero acaso.
Oi... Amigos, a vida é uma merda onde milagrosamente aparecem coisas lindas: Salvé Moisis!...
Ah... Caramba, não será nunca com palavras que a cambada de cabrões deixará de escornear. Todavia, ainda há imbecis que presumem que, com palavrinhas lindas, Deus escutará as preces e salvará enfim a humanidade.
Talvez Moisis cresça, se desenvolva e se empolgue para conduzir um dia o Brasil à terra da realidade que, por ser tão grande, não se consegue ver com a vista. É pois urgente passar os olhos para a testa e para a ponta dos dedos.
António Torre da Guia |