Praza que não, praza que as notícias sobre o gravíssimo estado de coma assistido de Ariel Sharon correspondam à ideia de que a esperança é sempre a última a morrer. Todavia, quanto a mim, que vou seguindo a situação lendo perspicazmente nas entre-linhas, o primeiro-ministro de Israel já estará morto.
Para anunciar oficialmente ao mundo o passamento, aguarda-se apenas que o seu já indigitado sucessor tome em mão plena as rédeas do novo partido que o vitimado governante acabara de fundar com perspectivas eleitorais assaz credíveis e percentualmente ganhadoras.
Assim sendo, embora se afirme a intenção de prosseguir na linha de pacificação que Sharon estava tentando efectivamente implantar, não é provável que Israel logre enfim paz concreta em relação à Palestina. Jerusalém, enquanto não for proclamada cidade do mundo, ou seja, cidade de todos e de ninguém, constituirá pomo de permanente discórdia e impositiva causa de guerra sem fim. Ali conflui em profusa erupção o imbróglio religioso e político do bem e do mal de ambos os lados até que a fusão do nada se estabeleça. Não há saída política face ao trauma religioso.
A propósito, para que o Leitor estabeleça ideia mais lata sobre o mais permanecente conflito bélico do mundo hodierno, transcrevo aqui uma excelente resenha opinativa do deputado brasileiro pelo Acre, Moisés Diniz.
000099>ALGO QUE TRANSCENDE HITLER...
Após a morte do patriarca Moisés (Dt.34,5), Josué atravessa o rio Jordão e, conduzindo os israelitas, entra na Terra Prometida. Israelita é judeu ou israelense e Terra Prometida é Palestina. A travessia do rio Jordão (Js.3,17) marca a passagem da vida seminômade dos israelitas para o repouso da vida sedentária. Repouso que, até hoje, não conseguiram. E não conseguirão enquanto considerarem que toda terra é Terra Prometida, disponível para invadir, matar velhos e crianças, conquistar. A multissecular disputa sangrenta entre judeus e palestinos carrega algum componente bíblico, como pregam os primeiros, ou representa um mero jogo de interesses geopolíticos? Nos debrucemos sobre o primeiro.
Há cinco mil e quinhentos anos, a Palestina era habitada por várias raças: canaanitas, amorreus, hititas, moabitas, fenícios, filisteus. Segundo a Bíblia, um dos ramos do povo judeu, em 2000 a.C., comandado por Abraão, veio estabelecer-se na Palestina. Mais tarde, um de seus bisnetos, José (filho de Jacó), se tornou ministro do Faraó no Egito. Por volta de 1250 a.C., os judeus deixaram o Egito, tornando-se vítimas da profunda xenofobia que tomara conta do povo egípcio, devido a ocupação dos hicsos alguns séculos antes. Em torno de 900 a.C., os judeus ocuparam territórios da Palestina, permanecendo lá por treze séculos. Durante todo esse tempo, nunca ocuparam todo o território ou lhe deram o nome de Israel, como queriam os patriarcas. No século VI a.C., Nabucodonosor exilou-os durante setenta anos na Babilônia e o Imperador Adriano, no ano 135 da nossa era, dispersou-os pelo mundo. Quanto aos árabes, conquistaram a Palestina em 637 da Era Cristã, misturando-se com os habitantes originais e, com eles, constituíram o povo palestino.
Dito isso, a tentativa dos judeus de expulsar os palestinos, sob argumentos bíblicos ou históricos, é a mesma coisa que os povos indígenas das Américas exigissem a expulsão de todos os brancos do continente. Destituído o argumento histórico, passemos ao processo de construção da teoria sionista e conseqüente ocupação da Palestina, através de colônias agrícolas.
O termo sionismo vem de Sião, uma das colinas de Jerusalém, que acabou por ser aplicado à cidade inteira. Sião aparece 152 vezes no Antigo Testamento e 7 vezes no Novo Testamento. É o lugar onde Jeová habita. Carregando uma ressonância poética, religiosa e profética, o sionismo visava estabelecer um Estado Judeu na Palestina, como se estivessem a retornar à terra de seus antepassados, onde corria o leite e o mel. As linhas teóricas do sionismo foram criadas pelo jornalista austríaco Theodor Herzl, publicadas em 1896, no seu livro Der Judenstat (O Estado Judeu). A primeira ação do sionismo foi transferir para a palestina imensas e permanentes levas de colonos judeus. Era a primeira fase para, utilizando a diplomacia, exigir a instituição de um Estado Judeu na Palestina, o que ocorreu em 1947, com o voto de dois terços dos membros da ONU, incluindo o voto da URSS.
O que fez o sionismo para que, em exíguos 51 anos, passasse de um frágil movimento teórico para um Estado consolidado e poderoso? O componente geopolítico foi determinante. Todavia, o componente ideológico e tático constituiu-se no alicerce principal do sionismo. O povo judeu, espalhado pelo mundo na sua eterna diáspora e perseguido de forma letal pelo nazismo, amparou-se na Bíblia e suas promessas poderosas para reconstituir-se como povo. Anotemos 4 pontos da teoria sionista, professada no Primeiro Congresso Sionista, em 1897:
a) A diplomacia terá um lugar fundamental;
b) Não esperar da diplomacia mais do que ela pode dar: a diplomacia facilita a ação, mas não a substitui;
c) Não mudar jamais de objetivo, mas aceitar alcançar esse objetivo por etapas e evitar inquietar o mundo revelando as etapas futuras. Afirmar, ao contrário, a cada etapa, que ela é a etapa final, mas passar a segunda etapa, uma vez consolidada a primeira;
d) Dotar a causa de todos os ornamentos da arte e da cultura, a fim de que ela deixe de ser árida e atraia até aqueles que nela não tenham grandes interesses.
Quem leu a biografia de Adolf Hitler e teve acesso à sua macabra tática nazista, não encontrará nenhuma diferença entre esta e a tática sionista. Os judeus, que tiveram 6 milhões de homens e mulheres esquartejados pelo nazismo, utilizam deste a tática política. No presente, estão a utilizar os mesmos procedimentos que os nazistas utilizaram contra eles. Os palestinos estão sendo humilhados, enjaulados, varridos, esquartejados. Ariel Sharon, como Theodor Herzl, Ben Gurion, Menahem Beguin, não é mais do que um produto do sionismo. É apenas uma excrescência do que se produziu a partir de 1896. Ariel Sharon não é uma exceção! Basta ver que mais de 70% do povo de Israel apoia a brutalidade de seu líder nos territórios ocupados. Isso posto, não será a mesa de negociação que fará Ariel Sharon recuar. Somente uma coalizão militar de países árabes fará Israel, definitivamente, voltar para casa!
Há mais motivos na Palestina/Israel para uma intervenção militar do que havia na Somália, Haiti, Iraque ou Afeganistão, para onde os norte-americanos apontaram a sua máquina de guerra. Os mesmos motivos humanitários que fizeram a OTAN intervir nos Balcãs estão presentes no Oriente Médio. Por que os norte-americanos não intervêm? Por que a OTAN se cala? Por que a ONU pune ferozmente Cuba com sanções econômicas, invade o Iraque e se ajoelha frente a Israel? Por um motivo único: os países ricos do Ocidente, tendo à frente os Estados Unidos, precisam de Israel!
Por hora, resta aos povos condenar o sionismo, sua barbárie e o massacre do povo palestino. O holocausto do povo palestino, perpetrado pela brutalidade de Israel, está a nos dizer que Adolf Hitler, no Oriente Médio, atende pelo nome de Ariel Sharon. Este ressuscita a memória do primeiro, fazendo recrudescer os movimentos neonazistas e, tristemente, está apagando a memória histórica do holocausto judeu!
Moisés Diniz
António Torre da Guia |