Hoje, quando dava um passeizinho pela Internet, fui dar ao desactivado fórum da Usina de Letras. Deparou-se então um texto que escrevi dias antes de começar a guerra no Iraque. - Diacho - digo para meus poucos botões - das duas, uma: sou um previdente articulista em cima dos acontecimentos do futuro, ou, em objectiva designação à moda antiga, sou um grandessíssimo bruxo. Por curiosidade, observe-se o que, há quase três anos, escrevi:
993300>Data: 18/03/2003 01:27:54
De: António Torre da Guia
IP: 194.65.14.67
Assunto: E uma areiazinha de nós... Sou eu !
Onde irá parar o "Bushaddam" no decurso da próxima dezena de anos?! A década que aí vem interessa-me-ia a todo o preço se estivesse neste momento embuçado de egoísmo em face do futuro da humanidade. Mas não estou... Vou indo conforme a benção natural dos dias e das noites. De resto, estou persuadido que o futuro da humanidade é um continuado busílis insondável. Quantos "fins-de-mundo" foram já anunciados no interior dos espíritos egoístas, espíritos cujos olhos viram deformadamente a realidade dos jovens que então acreditavam na vida, como eu acreditei?
- Olhai que tristeza é esta pálida juventude hodierna! Exclama a maioria dos actuais idosos, de olhos à sua maneira, como que forçadamente ignorando as responsabilidades que lançaram e deixaram sobre o terreno da vida. Não é nada com eles. O joio que brota da seara não lhes sugere uma só gota de culpa...
É em nome do futuro que o "Bushaddam" vai eclodir. Pretende-se prevenir muitas das atrocidades que apoquetam e ameaçam a vida da humanidade. Quantos ser humanos completamente inocentes vão ser eliminados sem mais? Quantos mortos-vivos irão permanecer à face da vida em permanente e atroz sofrimento? Quantos "fins" se darão com pleno direito ao "princípio"?
A máquina de guerra americana, 200.000 criaturas musculadamente adestradas para a carnificina guerreira, aguarda que o polegar de Bush se volte para baixo. E Saddam?! Porque não cede e salva milhares de vidas ao seu sofrido povo? Quem se convence que o objectivo do títere americano é o tirano de Bagdad?...
Ando cinzento, vazio de entusiasmo, quase despido de alma. Não... Não é a vida que é assim... Somos nós... E uma areiazinha de nós... Sou eu!
Bem... Feitas as contas ao morticínio até à data operado, a propalada operação cirúrgica, "sábia e cuidadosamente" projectada para eliminar as armas químicas que afinal não existiam, deu no que deu e no que ainda está a dar.
Quanto pesarão as dezenas de milhar de vítimas inocentes no cérebro de Bush, de Blair, de Durão Barroso e de Aznar ?... Pois, a morte só tem peso nas primeiras 24 horas.
Somos então governados por uma cambada de irresponsáveis ou por programados assassinos disfarçados de anjos?
Para tantos, para tantos-tantos de nós, oh, que se lixe, os mortos não somos nós...
António Torre da Guia |