"O luce eterna, che sola in te sidi/Sola t intendi, e, da de intelletta/ E intendente te, ami e arridi"! (Dante Alighieri, Divina Comedia, Paraíso, Canto XXXIII, v. 124).
Transcrevo este belíssimo verso de Dante para homenagear um grande brasileiro. Sim, o mestre Oscar Dias Corrêa, chamado à presença do Criador há poucos dias, foi um verdadeiro brasileiro, neste nosso apaixonante país que tanto está a carecer de bons exemplos. Filho dileto das Minas, nascido em Itaúna em 1919, apaixonou-se pelos grandes escritores e poetas clássicos, especialmente pelo gênio de Dante, aos 19 anos. Advogado, jurista, professor-titular da UFMG, da UFRJ e da UERJ, na área de economia política, foi deputado estadual e secretário de Educação em Minas, deputado federal, ministro do Supremo Tribunal Federal, presidente do Supremo Tribunal Eleitoral e ministro da Justiça de janeiro até agosto de 1989, quando, por discordar - com toda a razão - da política econômica do governo Sarney, pediu, em um gesto de grandeza, demissão. Foi membro da Academia de Letras, sucedendo a Menotti del Picchia na cadeira nº 28.
Escrever sobre um homem como o professor Dias Corrêa, exaltar-lhe as qualidades morais, enaltecer-lhe a cultura jurídica e econômica, perfilar-se diante de seus conhecimentos de literatura é tarefa quase impossível no curto espaço de um artigo de jornal, embora o brilhante decano do jornalismo político brasileiro, Villas-Boas Corrêa, em artigo publicado há poucos dias aqui no JB, tenha conseguido executá-la magistralmente, traçando o seu perfil de político preparado, honesto e sério.
Por isso, limito-me a relatar um fato recente, mais precisamente um telefonema que recebi, antes de uma palestra que iria proferir em Volta Redonda, em meu celular, na noite de 4 de julho deste ano. Ao atender, aquela voz amigável, mesmo sem que nos conhecêssemos pessoalmente: Doutor Iorio, aqui é o Oscar Dias Corrêa. Li o seu artigo de hoje sobre Dante e quero felicitá-lo pelo conteúdo e porque fiquei muito feliz ao ver que a tradução que o senhor fez dos versos 76 a 78 do Purgatório é muito parecida com a minha. Por isso, tomei a liberdade de pedir o seu telefone a um dos diretores do JB e espero não estar atrapalhando os seus afazeres . Estupefato com a humildade daquele sábio, que se anunciou como o Oscar e não como o ministro Oscar , trocamos gentis palavras, conversamos um pouco sobre economia, Dante e outros poetas italianos e ele pediu meu endereço, pois gostaria de enviar-me alguns livros. Dias depois, recebi em casa Meus versos dos outros: traduções de poetas italianos, Quase ficção, um delicioso livro de contos, e O sistema político-econômico do futuro: o societarismo, todos de sua autoria e todos com dedicatórias em que revelava mais uma vez que a modéstia é companheira inseparável dos verdadeiramente grandes.
Fiquei de responder-lhe, dizendo que lera e apreciara bastante os seus livros, mas as correrias deste mundo impediram-me de fazê-lo. Peço-lhe perdão por isso e corrijo o meu desleixo, fazendo-o agora. No emblema da ABL, no alto da capa do livro sobre os poetas italianos, lê-se o dístico latino ad immortalitatem. Como a alma é imortal, muito obrigado, dr. Oscar. De consolo, uma certeza: a de que agora, tendo a vida transformada, o senhor sabe que estou sendo sincero!
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Alertado por um atencioso e atento leitor, faço uma devida correção ao meu artigo da semana anterior: quem substituiu Lucas Lopes no Ministério da Fazenda no governo JK foi Sebastião Paes de Almeida e não José Maria Alkmim, que antecedeu Lucas Lopes. O inigualável professor Gudin referia-se a Alkmin como "uma ignorância especializada em assuntos econômicos"...
(*) Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (Cieep) e escreve às segundas-feiras nesta página (JB)