Sob a inspiração do Soldado Desconhecido, símbolo pátrio dos combatentes tombados nos campos de batalha, queremos reverenciar aqueles aviadores heróicos dos tempos de paz, imolados no bojo da
progressão acelerada da arte de voar, cujos sacrifícios extremos concorreram para despertar a vocação aviatória nas mentes da juventude de uma época pouco distante.
Da invenção do avião até o seu pleno desenvolvimento como hoje conhecemos, não decorreram cem anos, possibilitando assim que uma
única geração pudesse viver os melhores momentos dessa epopéia.
Mas houve um preço elevado para esse fenômeno do século XX: as vidas de muitos pioneiros, de sonhadores audaciosos e temerários
conquistadores dos céus, que sucumbiram vítimas da incipiente infra-estrutura, do primarismo da máquina, das tempestades indomáveis e do incontido ímpeto pessoal acima da prudência; fatalidades que transportaram esses aviadores ao pedestal da glória, heróis de uma época romântica da aviação que hoje é apenas lembrança.
As duas grandes guerras ocorridas nos períodos 14/18 e 39/45, onde o emprego do avião foi determinante para os seus resultados, com
episódios de extrema bravura e altruísmo patriótico dos aviadores de então, contribuíram decididamente para arrebatar de vez os corações
valentes da estirpe brasileira precursora da aviação militar.
Não se pode negar que os riscos inerentes ao vôo, ainda no estágio de aperfeiçoamento, foram causadores de muitos acidentes fatais,
considerados porém como desafios a serem vencidos, como foram, pelos destemidos pilotos daquele tempo, que sentiam nisso o doce sabor de
vitórias conquistadas. Nada os detinham. Muitos "cavaleiros do século do aço" consagraram a vida ao ideal de voar a serviço da Pátria.
De fato, quem não se lembra dos mártires que repousam na Cripta dos Aviadores distinguidos com "A Glória pelo Dever"? Dos Cadetes de
quase todas as turmas formadas no Campo dos Afonsos, que erigiram a Galeria do Cadete Imortal? Dos exímios pilotos de T-6 da Esquadrilha
da Fumaça? Dos desbravadores da Amazônia? Dos pioneiros do CAN? Dos líderes e alas de Esquadrilhas, "sempre prontos à batalha", ceifados
pelo realismo das missões, treinamentos e simulações táticas de emprego aéreo? Dos tripulantes operacionais que desguarneceram seus
Esquadrões prematuramente? E dos novos Ícaros que romperam os limites prescritos e pagaram com a vida por suas audácias? Foram tantos!
Estes e muitos outros de histórico semelhante merecem o nosso preito e uma posição na Galeria de Honra do Reservaer, mas na impossibilidade
de evocá-los individualmente, destinamos um lugar perene no repositório de nossas melhores recordações, sem tristezas, mas com o
júbilo próprio de uma confraternização deleitável como nossos encontros festivos, pois é bem verdade que todos nós incorporamos um pouco de cada um deles, pela formação, convivência, admiração, respeito e saudades.
Justamente para não ficarmos apenas com a lembrança da época e perdermos a referência dos seus personagens marcantes, o Reservaer
concita os companheiros da Reserva e Reformados, colegas, amigos, parentes e contemporâneos daqueles que "decolaram sem mensagem de
chegada", para um momento de meditação, voltando o pensamento ao passado e, exercitando a memória, rever nossos aviadores heróicos, sua
personalidade, camaradagem e aspectos cotidianos, como um tributo legítimo e reconhecimento do amor profissional de quem, com ânimo forte fez "dos céus o holocausto da vida, a voar", transformando o sangue derramado em seiva fertilizante das sementeiras de vocações aeronáuticas. Todos serão lembrados!
(*) Noberto de Castro Brum é Coronel Aviador Reformado
