Em crise, a frente parlamentar Brasil sem Armas -favorável à proibição da venda de armas de fogo e munição- trocou o comando e a estratégia de sua campanha. A medida ocorreu depois que pesquisas internas indicaram redução da vantagem, em favor do "sim", de 22 pontos percentuais para cerca de dez pontos.
Além disso, ocorreram divergências entre o comando político da frente e a coordenação da campanha quanto ao tom e ao conteúdo que os programas de rádio e televisão deveriam adotar.
O marqueteiro Luiz Gonzales -que realizou a campanha do prefeito José Serra (PSDB)- assumiu a produção e na reta final centralizará o discurso na "satanização" das armas de fogo e nos interesses da indústria e do comércio do setor que, segundo o grupo, estão ligados à frente Pelo Direito da Legítima Defesa -a favor da manutenção do comércio de armas e munição.
O horário gratuito termina dia 20, a três dias do referendo.
Gonzales assumiu o posto do ex-coordenador Paulo Alves, que nesta semana pediu afastamento da função. De acordo com o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), secretário-geral da frente, "a saída do Paulo [Alves] se deu porque queríamos ser mais incisivos em relação à arma de fogo". Segundo ele, a campanha agora irá "satanizar as armas". "O comando político achou que o foco da campanha tinha que fechar em cima disso. Ele [Alves] achou que não. Tudo bem, cada um para o seu lado, e vamos adiante", afirmou.
De acordo com o deputado, pesquisas realizadas pelo grupo mostraram que "uma diferença inicial de 22 pontos veio caindo, caindo. Há uns cinco dias, estabilizou em torno de dez pontos". "Daqui para a frente nós vamos mostrar o [grupo que defende o] "não" e suas conexões com o comércio e a indústria de armas e seus lucros", disse Jungmann.
Paulo Alves afirmou que saiu da coordenação da campanha porque havia uma série de propostas para os rumos dos programas "nem sempre compatíveis com a minha própria leitura como estratégia". Segundo ele, sua saída ocorreu de forma "civilizada".
Alves disse que o uso freqüente de artistas famosos no início da campanha "teve um efeito questionável". "Na comparação, foi como se a outra propaganda [contrária à proibição] fosse mais real, e a nossa, mais distante."
Já na campanha da frente parlamentar Pelo Direito da Legítima Defesa, a tendência é que os programas permaneçam com a atual linha de argumentação, centrada na proteção do direito do cidadão de comprar uma arma de fogo e na dificuldade de o Estado garantir a segurança da população.
"Não muda nada. Temos uma estratégia que está caminhando. Não vamos proceder uma mudança drástica porque a campanha vem crescendo", afirmou Chico Santa Rita, marqueteiro do grupo. Segundo ele, porém, dependendo do resultado de algumas pesquisas de opinião, pequenas alterações poderão ser feitas.
Vínculo vetado
O ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) José Delgado proibiu a TV Globo de vincular o referendo ao desarmamento. A rede de televisão deverá usar a expressão "referendo sobre a proibição ou não do comércio de armas e fogo e munição" quando se referir à consulta. A Globo informou que vai cumprir a decisão.
Colaborou a Folha Online
TSE suspende mais trechos do programa do Sim
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu hoje, dia 12 de outubro, mais dois trechos da propaganda gratuita do sim. O ministro José Gerardo Grossi declarou “equivocada” a informação de que “o Estatuto do Desarmamento garante o direito de posse de arma a residentes nas áreas isoladas”, como vinha sendo divulgado pela propaganda vote 2.
Outra suspensão do TSE, também divulgada hoje, impede a veiculação do trecho em que a Frente Brasil Sem Armas afirma que a Frente do NÃO chega ao cúmulo de desrespeitar vítimas de tiros dizendo que essas vítimas são exceções. Para o ministro José Gerardo, a propaganda veiculada "descamba para a ofensa; deixa de enaltecer as idéias". O ministro José Gerardo Grossi cita em seu despacho que as frases "...nos diferencia deles...", "...para nós..." usadas pela Frente do sim leva o debate a um nível pessoal.
Seguem os trechos do programa do sim.
1) Trecho impugnado (considerado inverídico):
Frente do SIM: “Proibir o comércio de armas, além de evitar milhares de mortes ou conflitos pessoas, vai ajudar a desarmar os bandidos. Mas toda a regra tem exceção. O Estatuto do Desarmamento garante o direito de posse de arma a pessoas que tenham necessidade real, como os residentes nas áreas isoladas. A proibição aumenta o controle das armas. Defenda o seu direito à vida”.
Decisão do Ministro Gerardo Grossi (liminar): "Da transcrição feita, à uma primeira visada, soa-me, quando nada, equivocada, a assertiva de que o Estatuto do Desarmamento garante o direito de posse de arma a pessoas residentes nas áreas isoladas. Neste exame preliminar não divisei no Estatuto esta permissão veiculada na propaganda. Por isso, defiro a liminar pedida e suspendo a veiculação da propaganda até julgamento da representação".
2) Trecho impugnado (considerado ofensivo):
"O programa do NÃO insiste em fazer confusão com informações sérias apresentadas na TV SIM. Ontem chegaram ao cúmulo de desrespeitar vítimas de tiros. Eles disseram que essas vítimas são apenas exceções.(repórter, na propaganda do NÃO) ...Que casos tristes como os que foram mostrados são exceções. (repetição de voz e imagem) ...são exceções.Aí está o que nos diferencia deles. Para nós, a possibilidade de salvar uma única vida é motivo suficiente para continuar a luta pelo controle de armas”
Decisão do Ministro Gerardo Grossi
(liminar): "Neste exame preliminar, parece-me que a propaganda assim veiculada descamba para a ofensa; deixa de enaltecer as idéias que sustentam a Frente Representada para trazer o debate a um nível pessoal: ... nos diferencia deles... , ... para nós... , chegaram a desrespeitar... . Tendo em conta o que dispõe no art. 11, da Resolução n. 22.032, do TSE, suspendo a veiculação da propaganda impugnada até o o julgamento final da Representação".