Faz parte de seu limitado arsenal a tática diversionista de imputar aos inimigos as ações de que são acusados. Estamos no século 21 e eles não mudam?
Ubiratan Iorio (*)
Não é que alguns festejados intelectuais de esquerda vêm soltando gritos, típicos dos que agonizam, tentando apregoar que a crise terminal por que passa o governo petista seria uma conspiração das elites , da mídia e da direita em geral, que desejariam manter-se no poder para conservar seus privilégios e impedir assim as tão propaladas mudanças ? Tal berreiro merece ser comentado, não por seu conteúdo lógico, mas por sua espantosa expressão do que o marxismo e seus derivados são capazes de produzir em termos de aberração mental e de agressão à racionalidade. Faz parte de seu limitado arsenal a velhíssima tática diversionista de imputar aos inimigos, sem a menor cerimônia, exatamente as ações de que são acusados, mas - mamma mia! - estamos no século 21 e eles não mudam? Pensam que somos cento e oitenta milhões de idiotas?
Que essa turma de adoradores do Estado-Elefante sempre usou tais métodos não é novidade para quem possui mais do que um neurônio, mas acontece que sua repetição, em pleno ano de 2005, torna-se absolutamente intolerável, 88 anos depois que os comunistas tomaram de assalto o poder na Rússia dos tzares, 57 que Mao roubou a liberdade dos chineses e 46 após o Grande Carniceiro do Caribe ter abolido a propriedade privada em Cuba, transformando-a em uma bela ilha particular, de propriedade dele e de seu séqüito de bajuladores. Conspiração? Golpe? Coisa de conservadores inconformados com o governo popular comandado do ar, diretamente de seu Airbus, pelo semi-analfabeto ex-metalúrgico e tocado da terra - até que fosse pilhado pelo affair do mensalão - pelo Dirceu? Aqueles mesmos pretensos argumentos que usaram em 1964, quando Jango e sua turma tudo fizeram para implantar o socialismo no Brasil? Poderiam, pelo menos, ser mais criativos, pensar em novos chavões, introduzir palavras de ordens menos mofadas, parir ratos menos pestilentos.
Pois que a verdadeira conspiração é bem outra. Apresento apenas os fatos, deixando ao leitor a ilação. O que vem constantemente fazer no Brasil o patético Hugo Chávez, portando no sovaco aquele livrinho que denomina de constituição bolivariana , do qual emana todo o seu poder, inclusive o de transformar em prisioneiros políticos todos os que se opõem ao seu estilo populista de pastelão e que dividiu o povo da Venezuela? Por que esta figura tragicômica, fruto serôdio de práticas espantosamente insepultas, vem dando tantos palpites infelizes sobre a crise ética-política do governo Lula, sempre tentando defender o colega que, segundo ele, estaria sendo vítima de um complô para impedir a integração latino-americana - na verdade, a cubanização da América Latina -, formada e firmada pelo Foro de São Paulo, ao qual a mídia nunca deu a importância devida?
Por que Luiz Inácio, sempre que pode, faz questão de afirmar que Chávez é um exemplo de líder democrático, chegando ao extremo de declarar que existe um excesso de democracia na Venezuela, quando a verdade é que pairam enormes suspeitas sobre a lisura do referendo que manteve Chávez no poder, que nomeia e demite juízes, julgando-se Bolívar reencarnado como quem troca de camisa, que vem promovendo enormes agressões ao direito de propriedade usando e abusando de expropriações criminosas, perseguindo sacerdotes católicos, além de manter milhares de militares cubanos na Venezuela?
Eis a verdadeira conspiração! Assumam-na de vez, ao invés de tentarem enganar mentes pouco habituadas a pensar. Em nome de todos os que observam e pensam - e, sobretudo, em nome de todos os brasileiros que amam verdadeiramente o Brasil - temos que exigir do presidente venezuelano que vá cuidar de suas galinhas e que pare de dar palpites sobre o nosso país! Mesmo porque, em termos de parvos perigosos, já temos muitos similares nacionais...
(*) Ubiratan Iorio (lettere@ubirataniorio.org) é economista e presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (Cieep). Escreve às segundas no JB.