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Artigos-->Maria Mortalha -- 16/10/2001 - 16:34 (maria da graça almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O servir -ainda que, às vezes, religiosamente

correto- cansa. Cada um responde ao servilismo

como melhor lhe aprouver.

Maria da Graça ALmeida



Maria Mortalha



Maria da Graça Almeida







Cedo, deitou-se Maria, pronta pra logo morrer,



vestindo a alva mortalha, sem medo de adormecer.



Os olhos, tanto mais fundos, coroados por olheiras,



cerravam-se moribundos, nessa hora derradeira.







Implorando-lhe ajuda, veio um moleque qualquer



- Vó, apanha uma agulha, tira-me o bicho do pé!



Servil, levanta a Maria, desvestindo a alva mortalha



e já mais morta que viva o bicho do pé estraçalha.







Volta, esvaída, Maria para o bom leito de morte,



quando lhe chega a nora , chorando a fome e a sorte.



Maria, do quarto, dormente, sai e aquece o fogão,



serve-lhe o leite fervente e duros nacos de pão.



Com a fome, então, saciada e o corpo fortalecido,



parte a jovem senhora com olhos agradecidos.







Maria assim, novamente, põe-se no leito de palha,



julgando que certamente não mais tiraria a mortalha.



E eis que lhe chega a vizinha com um pote tosco à mão.



Queria do sal só um pouco que lhe salgasse o feijão.



Maria deixa o leito... que a Morte espere um instante...



pra atender a boa vizinha, ergueu-se mesmo ofegante.



Bem cheio o pote de sal, a dona vai-se embora.



Maria já fria descora e aguarda da Morte a hora.







A Morte, que vinha chegando, notou-a em pele ardente,



porém, percebeu que a lida tornara Maria valente.



Vendo a mulher à espera, recolhida em seu leito,



ordena que se levante e atenda-a com medo no peito.



Maria coloca, surpresa, os olhos esbugalhados



sobre as vestes que a Morte trazia em trapos rotos, rasgados.







A Morte impõe, soberana: - Sobreviva só mais um dia,



ainda que condenada, cosa-me a capa, Maria!



E apontando-lhe as entranhas, ressecadas e vazias,



exige-lhe que ao fogo torne o leite que frio jazia.







Maria salta do leito, arranca a tal da mortalha



e sem mesura ou respeito, rebelde, à Morte detalha:



- Em face dos desmandos alheios,



viverei mais um ano e meio.







Maria da Graça Almeida/2001

texto publicado na Antologia Prêmio Cultura Nacional







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