Lembranças do período da luta armada contra a ditadura causaram tumulto no depoimento do ex-presidente do PT José Genoino à CPI do Mensalão nesta terça-feira. O depoimento, que durou mais de quatro horas, trouxe poucas novidades para as investigações.
Depoimento de Genoino foi marcado por tumulto. Assista a trecho no UOL News
Ainda no começo dos trabalhos, durante a inquirição do relator Abi-Ackel, o depoimento foi interrompido em razão da presença de coronel Lício Augusto Maciel, o militar que prendeu Genoino quando ele era integrante da guerrilha do Araguaia (1972-75). Maciel foi levado à sessão a convite do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Ao notar a presença de Maciel, o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), expulsou da sala tanto o deputado Bolsonaro quanto o coronel.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) interrompeu o depoimento de seu colega de partido para dizer que a presença desse coronel era uma "afronta". A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) seguiu a mesma linha, e disse que o fato é uma "agressão à CPI e à história política de Genoino".
O deputado Bolsonaro disse que pagou a passagem do coronel e argumentou que ele é seu convidado para assistir à CPI. O coronel disse que aceitou o convite como cidadão.
Sem mensalão, sem novidades
O depoimento de Genoino não trouxe informações novas à CPI. Genoino negou a existência do "mensalão", o suposto esquema de compra de apoio dos partidos aliados ao governo denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
"Participei de todas as negociações das principais polêmicas no Congresso. Nunca tratei, nem ouvi tratar, de troca de apoio por dinheiro. Portanto, não houve mensalão", disse Genoino quando inquirido pelo relator da CPI, o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG).
Genoino também desmentiu suposto acordo envolvendo valores entre PTB e PT. "Nunca discuti valor de transferência de recurso para a direção do PTB, muito menos malas de dinheiro para o PTB", afirmou, em depoimento repleto de frases contundentes e assertivas que reafirmam o que ele vem dizendo desde o início da crise.
O ex-presidente do PT voltou a atribuir a Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, a responsabilidade de toda a movimentação financeira. Disse que apenas assinou documentos para empréstimos de R$ 5,4 milhões de empréstimos junto ao BMG e ao Banco Rural em confiança a Delúbio. Sobre o valor dos empréstimos ser de mais de R$ 50 milhões, Genoino apenas disse que todas as operações financeiras do PT foram declaradas ao TSE. Acrescentou que o partido "vai honrar os compromissos que assumiu.
Ao mesmo tempo em que dizia não haver ilegalidade, Genoino repetiu algumas vezes que todas as ações de Delúbio eram feitas sem conhecimento do partido. Disse, ainda, que José Direceu não sabia dos empréstimos avalizados por ele.
Diante das seguidas negativas de Genoino, o presidente da CPI do Mensalão, senador Almir Lando (PMDB-AC) chegou a propor o fim da sessão. Na parte da tarde, houve poucas perguntas. A maior parte das intervenções eram elogios à história e à conduta de Genoino ou manifestações contrárias ao PT e ao governo Lula.
(Com informações da Reuters)
"Quando todas as armas forem propriedade do governo, este decidirá de quem serão as outras propriedades." Benjamin Franklin