Rememorizando a hora americana a que o primeiro avião suicida foi de encontro a uma das torres do World Center, os EUA e o mundo televisivo ocidental guardaram um minuto de silêncio em honra das vítimas que pereceram no brutal atentado.
Quanto a mim, se por um lado, muito bem, por outro lado, muito mal, porque a par dos inocentes covardemente mortos, desde logo nos surgem na ideia os hediondos assassinos, protagonistas que deveriam ser varridos da memória humana para todo o sempre.
Sobre o horripilante "11 de Setembro" - dois aviões em choque com as duas torres do World Center e um outro avião que falhou o terceiro objectivo, o Pentâgono, graças à heroicidade dos passageiros coagidos - interrogo-me porque estranho motivo o golpe terrorista não concentrou as três naves sobre a Casa Branca.
É que, achar-me-ia tremendamente estúpido, no caso do meu vizinho, à direita, partir-me os vidros duma janela, eu, em desforra, ir partir os vidros à janela do meu vizinho, à esquerda.
Estou neste momento a lembrar-me de um acto terrorista em Espanha, há muitos anos, em que a viatura blindada do general Carrero Blanco, arrancou da rua onde transitava e voou por cima de prédios de três andares, caindo na outra rua. Parece-me que os méritos do passado general são idênticos aos de Bush... Ou não?!...
Ainda hoje, num perpasse televisivo sobre os estupidificantes conflitos do mundo, tomei nota actualizada do que se passa entre Israel e a Palestina, no Iraque, em África, e procuro abismado a contínua razão dos minutos de silêncio para uns e para outros não.
Então não se diz que o silêncio é uma poderosa arma para evitar os inimigos?... Apre, os famigerados minutos de silêncio fazem um ruído do caramba na memória.
Em face da hipocrisia que se serve da dor daqueles que em vida sofrem a perda dos seus queridos familiares sem remédio possível, oh, se eu fosse bomba, palavra-palavrinha, não erraria eficazmente um dos alvos vitais.
Porra, "eles", que vão para o Diabo: o minuto de silêncio está cansado, tão cansado, que persiste em fazer um favor glorificante aos assassinos.
Os mortos que em vida foram os meus queridos vivos, honro-os e alivio a alma pensando neles recolhidamente, sozinho, tranquílo com a minha dor. Não admito espalhafato algum sobre tão delicado e doloroso momento. Estou-me nas tintas para o "Dia dos Fieis e Defuntos". Esse dia é e será sempre nos dias todos que a minha alma necessitar de conviver com os meus mortos.
Vai-te Bush o mais depressa possível desta vida, tu, e os grandes patifes como tu. Os terroristas são exclusivo produto da tua corrupta e conspurcada administração. A natureza, ao flagelar Nova Orleães, a mim, demontrou-me essa evidência sem equívoco ou dúvida alguma.
Repito, a quem me ler, com profunda convicção: o minuto de silêncio está cansado e serve tão só para desesperar mais ainda as incautas vítimas vivas que sofrem no corpo e na alma o desaparecimento dos seus entes queridos.
António Torre da Guia |