Nos países comunistas, não existe jornalismo propriamente dito. Existe a imprensa oficial, que é parte integrante dos serviços de inteligência. O jornalista estrangeiro que ocupe qualquer cargo na mídia de um desses países está lá por ser pessoa de confiança do serviço secreto local, e nenhum serviço secreto que se preze tem confiança senão em seus agentes pagos ou em indivíduos que de algum outro modo estejam sob o seu controle.
Quando esse jornalista volta para o seu país de origem, volta como voltou José Dirceu, que nunca explicou como veio a operar o milagre de desligar-se da inteligência cubana, da qual ninguém antes dele jamais saiu senão pelas vias estreitas da aposentadoria vigiada, da deserção ou da morte.
Assim como Dirceu decerto apenas mudou de posto, do mesmo modo o jornalista brasileiro que retorne à terra natal depois de ter trabalhado na Rádio Havana, na Rádio Praga, na Agência Tass, no jornal Granma ou em instituições similares volta em geral a serviço do mesmo governo comunista, apenas com função diferente. Dadas as suas qualificações profissionais, o mais razoável é que se torne um agente de influência.
Agente de influência é termo técnico. Designa o oficial encarregado de (des)orientar a opinião pública conforme as necessidades da estratégia revolucionária. No Brasil, quase ninguém sabe da diferença entre agentes de influência e meros jornalistas de esquerda. Mas o critério distintivo é bem simples: verifique se o sujeito trabalhou na mídia de algum governo comunista e se, uma vez no Brasil, continua agindo em prol do comunismo. A possibilidade de que esses dois capítulos entrem numa mesma biografia por mera coincidência é tão pequena que não vale o cálculo.
No momento, as duas prioridades máximas da estratégia comunista na América Latina, fora a aposta periclitante na transição pacífica do Brasil para o socialismo, são a revolução bolivariana de Hugo Chávez e a narcoguerrilha colombiana que financia atividades subversivas no continente. Quanto a este último ponto, qualquer navegante da internet pode observar a pressa desesperada com que se montou um esquema mundial de proteção a Olivério Medina, para apresentá-lo como vítima de uma conspiração americana e impedir que a polícia obtenha dele alguma prova do auxílio criminoso que, segundo ele mesmo declarou numa festa de políticos, as Farc deram à campanha eleitoral do PT em 2002. O movimento é protagonizado por entidades estreitamente vinculadas às Farc através do Foro de São Paulo, isto é, beneficiárias ao menos políticas, se não também financeiras, das atividades de Medina.
Quanto à revolução venezuelana, seus feitos mais escandalosos, que os exilados divulgam nos EUA, jamais saem nos nossos jornais e TVs, entidades cuja circunspecção nesses assuntos é um exemplo edificante para a juventude desbocada dos nossos dias. Mas o silêncio obsequioso da maioria não satisfaz a quem exige rendição total. A Associação Brasileira de Imprensa, por exemplo, acaba de aprovar uma moção de repúdio ao antichavismo obsessivo da mídia brasileira, o qual, embora jamais tenha sido notado por nenhum leitor ou telespectador, deve ser mesmo de uma onipresença brutal e constante, já que sustentado por espúrios interesses ianques e servido, segundo a moção, por muitos jornalistas nesta parte do planeta. Como os antichavistas no jornalismo nacional são meia dúzia e me acontece ser um deles, agradeço a honrosa multiplicação imaginária do nosso contingente, coloco meus extratos bancários à disposição dos interessados em saber das forças ocultas que me subsidiam (pedindo que me informem caso descubram alguma, para eu poder mandar a conta), e aproveito a ocasião para informar que o autor da moção é Mário Augusto Jacobskind, ex-editor da revista estatal cubana Prismas. Em caso de dúvida quanto ao significado possível desta informação, clique back to top.
[08/SET/2005]
"Quando todas as armas forem propriedade do governo, este decidirá de quem serão as outras propriedades." Benjamin Franklin