Donde venho, não sei, e o que sei, adquirio-o percorrendo as estradas que me trouxeram até aqui, pela direita, no meu país, desde sempre e ainda hoje, ou pela esquerda, quando fui de visita a Inglaterra ou vivi em Moçambique. Pelo centro, vou sempre em todos os caminhos sem trânsito. É a melhor forma de pelo menos ter a possibilidade de ver antecipadamente as sombras que se acoitam nas bermas.
(- Estás a ler?)
Terá o conceito enunciado alguma lógica, ou tão só a lógica é uma batata que, se plantada num jardim, dá cabo da beleza individual das flores?
(- Estás a ler?)
Confesso que, em face da perversa - mesmo perversa - e propositada estupidez provocatória, me dá ganas de entrar pela esquerda, voltar à direita, e assim permanecer em sucessivas voltas e reviravoltas, sempre para a frente, na mão, bem preso, com o pescoço do estúpido que estivesse com os pés acorrentados no meu ponto de partida, e finalmente chegasse triunfal ao mesmo sítio.
(- Estás a ler?)
Estúpido?!... Apre!... Sequer uma só vez na vida pensou no antes e depois, ali, sucessivamente imediatos, de qualquer humano. De frente um para o outro, dois humanos, têm braços direitos e esquerdos em situação paradoxal e, se voltam as costas entre si, mais reforçam o paraxoxismo, ou melhor e para rimar, o oportunismo, essa felina codícia que derrota em absoluto o dengoso predador humano, o tal que faz o insustentável bico de pirâmide para sentar-se em cima a ver-se ao espelho...
(- Estás a ler?)
Eu... Lamento que o azar político me persiga. Nunca estou no sítio, à direita, à esquerda, ao centro, ou nas extremas, quando Deus começa a cagar. Tanto desejava apanhar com um bocadinho de endeusada merda em cima!...
(- Estás a ler?)
Se calhar estás a ler, mas não sabes ler. Não adianta. Eu só escrevo para quem sabe ler pelo menos um bocadinho do que não está escrito.
António Torre da Guia |