Uma pequenina ocorrência, aparentemente sem importância alguma, espécie de coisinha que ao longo da minha vida sempre chutei para o lado, a partir dos últimos cinco anos que fruí, passou a ter a minha maior atenção e a merecer a mais cuidada análise reflexiva.
Ora, se é certo que uma grave mazela em nosso corpo começa através dum ínfimo pormenor, também certo é que tudo mais tem a mesma via consequente, quer para o mal, quer para o bem.
Um nosso muito afastado antanho, que infelizmente não sabemos quem é, experientemente inspirado pelo sintoma a que aludo, tomou a sua pena, mergulhou-a no tinteiro e escreveu esta incisiva maravilha racional: "Cesteiro que faz um cesto, faz um cento".
Tendo-me posto de raciocínio todo debruçado sobre esta pérola dos ditados da vida, veio-me de imediato ao cérebro a imagem do cesteiro, sentado e rodeado de fitas de vime, a fazer o cesto e a cestinha. Apre... Nem qualquer um o faz e tanto mais é difícil fazê-lo, consoante se percebe o ciclo total que envolve a paciente tarefa do princípio ao fim.
Por consequência, primeiro, um cesteiro só o é, se bem souber fazer cestos. Segundo: quanto a mim, na actualidade que perpassamos, há muitos mais "cesteiros" do que cestos, ou seja, tem de haver uma enormidade de fingidores que dão a ideia que fazem cestos, tão só para se apoderarem dos conteúdos que motivam a grande utilidade dos jigos e das jigas.
Assim, para que se entenda profundamente a mais válida ideia que emana do ditado - que contém um injustíssimo preconceito - eu atrevo-me a sugerir a sua evolução: "Cesteiro... Sem cesto?... Diacho!..."
A propósito: quantos fingidores de cesteiro estarão actualmente em redor da cestaria brasileira? Aliás, a mim parece-me, que Lula é o cesteiro-mor.
António Torre da Guia |