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Artigos-->O Almoço -- 17/08/2005 - 10:01 (Marcelino Rodriguez) |
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J pensou que seria melhor almoçar no bar
que frequentava ha´ vinte e cinco anos,
para não perder tempo no seu caminho diário.
Era domingo.
Naquele bar J bebia cerveja, comia,
tomava café desde os quatorze anos. Os próprios
recepcionistas
sorriam ao vê-lo e ele conhecia a todos
pelo nome.
Pensou naquele domingo que era gente,
e não apenas um
número como exige o comércio.
Teve a idéia genial de pedir o almoço
para pagar depois,
outro dia, afinal era um freguês
de vinte e cinco anos.
Entrou no bar.
_ Cadê o bigode? perguntou vendo que não tinha visto
o gerente habitual-
_ Tá de folga hoje, respondeu o novato,
procurando
ser simpático.
Resolveu arriscar mesmo assim e dirigiu-se
ao novato,
afinal era apenas um homem querendo almoçar.
_ Olha só. Eu gostaria de almoçar. Vc anota meu
nome aí que eu pago depois. Pode ser?
O novato virou para um dos funcionários e
perguntou:
- Você conhece ele?
_ Conheço, mas não coloco a mão no fogo, não,
disse rindo o balconista.
J ainda brincou com o ele, chamando-o
de querida. Brincavam assim com os anos de convívio.
O novato assentiu então que ele almoçasse, mas preferiu
confirmar com o dono, seu Mauro, que já saia da cozinha.
Afinal ele tem que confirmar que J queria comer
sem pagar naquele momento.
J sentiu-se aliviado. Seu Mauro, o portugês o conhecia
a mais de vinte e cinco anos.
O novato vira-se para o Sr Mauro:
- Seu Mauro, esse rapaz quer almoçar, o Sr Conhece ele?
_ Oi, seu Mauro, tudo bem, sorriu J? È que tenho que
sair rápido pro centro e tou sem tempo de ir em casa,
vou almoçar e pagar depois. Pode ser?
- Ta brabo - respondeu o Portugues?
- Brabo? Como assim, se Mauricio?
- Ta brabo. Dá não.
petiu sem lhe olhar...
J sentiu o chão fugir-lhe dos pés.
Ele que pensara que era gente. Vinte e cinco anos
de bar fleixieiro! Pensava ser "o freguês , o amigo.
Não descobrira ainda na sua humanidade culta, que ele
era apenas um número, um pagante. E que para comerciante
vinte e cinco anos são como minutos.
J sentiu uma estranha mistura de vergonha e nojo.
Recusava-se sempre no íntimo a ser apenas um número, um rótulo. E
agora que achava Deus iútil, sua dor aumentou,
pois sentia falta
do seu cristianismo primitivo. Desejou do fundo do coração
que que seu Maurício fosse irremediavelmente
para o inferno. E que o diabo falasse eternamente pra ele: ta brabo!
23.08.2005
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