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Artigos-->Conexão Havana -- 16/08/2005 - 10:41 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Conexão Havana



por Carlos I. S. Azambuja (*) em 16 de agosto de 2005



Resumo: Em uma ditadura como em Cuba, é impossível que entre droga no país sem o apoio ou consentimento de membros do governo.



© 2005 MidiaSemMascara.org





“O canal das Bahamas, por suas proximidades com as costas dos EUA, se converteu na zona preferida pelos narcotraficantes para fazer chegar seus carregamentos de drogas às costas desse país. Os aviões deixam cair suas cargas sobre as águas nas proximidades dessa rota, de onde são recolhidas por lanchas rápidas de três potentes motores que se movem a quase 100 quilômetros por hora. Operações similares se realizam entre embarcações de médio porte e as lanchas rápidas. As mesmas escapam, quase todas... Por isso, nos últimos tempos aumentaram as atividades do narcotráfico internacional nas águas dessa área... Cuba tem mais de 1.200 quilômetros de largura, localizada entre o canal de Yucatán e o estreito mar que a separa do Haiti. Este país é o único ponto de onde se podem controlar realmente as águas internacionais e suas próprias águas ao sul das ilhas das Bahamas que, por sua proximidade com as costas dos EUA, se prestam... à atividade dos narcotraficantes” (Fidel Castro, em discurso pronunciado em 26 de julho de 1999).



Aos olhos de milhares de pessoas em todo o mundo Cuba segue envolta em um ar místico. Havana evoca na imaginação coletiva praias paradisíacas, ruas coloniais, o Malecón, o calor da gente, o rum e a alegria do som...



Porém, essa cara amável de Cuba se desvanece e surge uma outra realidade mais sinistra. A Ilha ocupa um lugar privilegiado no mapa das rotas do narcotráfico e poucos sabem que a maior parte da cocaína procedente da Colômbia faz escala na Ilha antes de ser levada para a Europa e EUA. Essas operações dificilmente poderiam ser feitas sem o beneplácito de Fidel Castro, um homem obcecado com a segurança, a vigilância e a Inteligência.



Santiago Botello e Mauricio Ángulo, dois jornalistas espanhóis, se infiltraram nas máfias do narcotráfico, em Cuba, com uma câmera oculta e demonstraram a implicação do regime castrista nas redes do narcotráfico internacional. O resultado foi o livro “Conexión Havana”, editado em Madri em janeiro de 2005 e em fevereiro de 2005, já em sua terceira edição. Abaixo um breve extrato de um dos capítulos desse livro.



A sombra do narcotráfico sempre esteve projetada sobre o governo cubano, porém nunca como em 1989. Acabavam de cair os regimes comunistas na Europa e a CIA acreditava ter cercado Fidel Castro, pois tinham provas da implicação no narcotráfico de alguns de seus chefes militares em Angola. E Cuba, graças à conivência de Fidel, havia se convertido em uma rota segura no negócio do narcotráfico internacional. A rota da cocaína fazia escala em suas águas, de onde os carregamentos eram protegidos pelas forças de segurança do Estado cubano.



Ao tomar conhecimento desses informes em poder da CIA, Fidel reage e, imediatamente, monta um processo sem garantias a dois dos homens que durante anos gozaram de sua mais absoluta confiança: o comandante Antonio de la Guardia (“Tony”) e o general Arnaldo Ochoa, um dos cinco oficiais cubanos condecorados como Heróis da República. O Estado os acusava de narcotráfico, venda ilegal de diamantes, marfim e outros produtos durante os anos que comandaram as tropas cubanas em Angola.



Depois de permanecerem incomunicáveis durante 23 dias, o general Arnaldo Ochoa e o coronel Antonio de la Guardia foram fuzilados em 13 de julho de 1989, juntamente com dois de seus mais estreitos colaboradores, os também militares Amado Padrón e Jorge Martínez Valdés. Esse foi o fim da Causa I, o processo em que Fidel Castro tentou colocar um paradeiro nas acusações de Washington.



Na data do fuzilamento, Ileana de la Guardia, filha de “Tony” e sobrinha de Patrício de la Guardia, também processado e condenado à prisão na Causa I, abandonou Cuba juntamente com seu marido, Jorge Masseti (Jorge Masseti, nascido na Argentina, é filho de Ricardo Masseti, jornalista argentino que chegou a Cuba em 8 de janeiro de 1960, com sua mulher e filho, então um menino, no mesmo dia em que Fidel Castro entrava em Havana à frente de seus guerrilheiros. Nesse mesmo ano Ricardo Masseti fundou a agência de notícias "Prensa Latina", que existe até hoje. Tornou-se amigo de Che Guevara e, em 1965, foi mandado chefiar um grupo guerrilheiro em Salta, Argentina, onde foi morto) ex-agente dos serviços secretos do Ministério do Interior. Em 2004, 15 anos depois dos fatos, Ileana e Jorge continuam defendendo que tudo não passou de uma operação política em que Fidel Castro, além de desfazer-se de um de seus principais rivais nas Forças Armadas – general Ochoa, considerado um herói por seus comandados -, simulou ter cortado pela raiz a cooperação de seu governo com os cartéis colombianos.



Os autores de “Conexão Havana” conversaram com Ileana e Jorge Masseti em Miami. Masseti recorda que a televisão difundia todos os dias a sessão de julgamento do dia anterior. Os acusados foram submetidos a uma tortura branca sistemática. Não para que a verdade fosse obtida, mas para garantir a mentira. Uma carta de Patrício de la Guardia, enviada clandestinamente da prisão, datada de 05 de outubro de 1991, em poder de Jorge Masseti, diz o seguinte: “Do dia 12 de junho até o dia 15 de julho, não me permitiram dormir, pois a cada 20 ou 30 minutos me despertavam (...). Durante todo esse tempo em que permaneci encarcerado, sem nenhum assessoramento por parte de um advogado, me sentia idiotizado, com a mente embotada, como um zumbi. Tinha que ler os documentos três ou quatro vezes para compreender o que diziam. Caí em um estado depressivo muito profundo. Um dia me tiraram da cela pela manhã e me disseram que devia convencer minha família a não buscarem um advogado e não recorrerem à Comissão de Direitos Humanos, pois isso nos prejudicaria e que a Revolução nos defenderia como revolucionários que éramos”.



Os irmãos de la Guardia eram filhos da burguesia cubana, dois gêmeos amantes do esporte e da aventura. Em 1959, apesar de terem estudado nos EUA, optaram pela Revolução e por Castro, mais por romantismo do que por convicções ideológicas. Em poucos anos se converteram em personalidades importantes. Diz Ileana: “Meu pai, depois de criar as Tropas Especiais, desempenharia um triplo papel. Conforme as conveniências, seria um homem de negócios, representante dos interesses cubanos, outras vezes atuaria como militar, e outras como político, negociador”.



“Tony – prossegue Ileana – chegou a converter-se no máximo responsável pelo MC. O escritório MC é um departamento ministerial cuja sigla significa Moedas Convertíveis, e seu objetivo era conseguir divisas para uma Cuba estrangulada pela pressão internacional. O MC, popular e oficiosamente, era conhecido como ‘marihuana-cocaína’. Essa era a ocupação de meu pai. Conseguir divisas para a Cuba que os Castro estão arruinando. Foi ele quem levou a Genebra os milhões de dólares extorquidos pelos Montoneros argentinos a uns industriais através de seqüestros, e quem tirou do Líbano jóias e dinheiro com destino a Praga. Em 1979, quando Somoza foi derrubado, meu pai estava em Manágua. Meu pai era um homem que havia efetuado mais de 100 saltos de pára-quedas e se mantinha em plena forma aos 50 anos. Porém, ele nunca traficou drogas, embora tenha ajudado aos narcotraficantes dando-lhes apoio logístico, com o conhecimento das mais altas instâncias cubanas, cobrando em dólares para o Estado cubano. O mais ridículo do processo em que foi acusado de narcotráfico e que se fale de dinheiro, foi o fato de ninguém lhe perguntar onde foi parar esse dinheiro, e que nem a Polícia e nem a Justiça tenham se preocupado em demonstrar que Ochoa ou meu pai tenham metido dinheiro no bolso”.



A “Tony”, o acusaram de ter organizado 17 operações relacionadas com drogas desde 1987, em território cubano; e ao general Ochoa, de ter estabelecido contato com o narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Como seria possível imaginar que essas idas e vindas de embarcações e aviões tenham podido durar três anos, desde as costas cubanas, sem que o Ministério das Forças Armadas e as mais altas autoridades do Estado não tenham sabido de nada? Pelo menos, teria que existir um acordo tácito do narcotráfico com o governo.



Uma exigência estranha dos que processaram Ochoa e “Tony” foi a de que jamais se pronunciasse o nome do Ministro do Interior, general José Abrantes Fernandez (“Pepe Abrantes”), pois de seu ministério dependia diretamente o departamento MC. Durante o processo, nem “Tony” e nem nenhum dos 14 militares julgados mencionaram seu nome. Foi a Lei do Silêncio, imperante nas máfias de todo o mundo.



“Tony” recebeu Fidel Castro, em sua cela, durante 3 horas, que lhe pediu que não fizesse referências a qualquer superior em suas audiências. Tudo deveria ficar em família... Ninguém fez referência a “Pepe Abrantes”, Ministro do Interior, e nem sugeriu qualquer responsabilidade sua. Todavia, sabe-se que, naqueles dias, Fidel, Raúl e “Pepe” acompanhavam as audiências de um compartimento anexo, através de um falso espelho. A um determinado comentário feito por Fidel, “Pepe Abrantes” lhe recordou que ele – Fidel – sempre estivera informado de tudo, o que provocou a ira de Fidel e de Raúl e precipitou a queda de “Pepe Abrantes”. Abrantes, então, foi detido e julgado a portas fechadas, sendo condenado por “haver ocultado informações vitais para o Estado e pela utilização abusiva de fundos”. Pouco tempo depois, segundo a versão oficial, ele, que ainda não tinha 50 anos de idade, morreria no cárcere, de infarto...



Fidel, Raúl e “Pepe” formavam um trio formidável e havia um grande afeto entre eles. “Pepe Abrantes”, Ministro do Interior e chefe dos Serviços de Inteligência cubanos era considerado a figura mais chegada a Fidel Castro. Eram inseparáveis. “Pepe” era seu confidente e chefe de sua guarda pessoal. Pela manhã, tomavam café juntos e “Pepe” sempre levava os medicamentos utilizados por Castro.



Mortos Abrantes e de la Guardia, baixou o moral do MININT. Desde então, alguns dos mais ferozes inimigos de Fidel Castro e de sua Revolução são os antigos membros do MININT. Alguns agentes, que operaram naquela época, asseguram que Fidel Castro estava a par dos negócios de Ochoa e de de la Guardia. Um desses agentes é Dariel Alarcón Ramírez, conhecido como “comandante Benigno”, companheiro de Che Guevara na Bolívia.



“Tony” era um dos poucos autorizados a permanecer nas dependências privadas de Fidel Castro enquanto ele se vestia ou se banhava, e tinha o poder de tomar decisões em nome de Fidel. Decisões que Fidel ratificava rotineiramente. Recorda o “comandante Benigno” que “Tony” tinha acesso livre a Fidel Castro. Chamava Fidel de “Uno”, da mesma forma que Fidel era chamado de “El Caballo” por Ochoa.



No entanto, segundo o “comandante Benigno”, quando o processo teve início, Fidel perguntava com freqüência: “Quem são esses irmãos de la Guardia?”



O processo, ante o Tribunal de Honra, teve início dia 30 de junho; desde 03 de julho o “Granma” publicava cada dia um informe. Depois disso, no processo ante o Tribunal Especial: em 05 de julho, requisição do Juiz; 07 de julho, veredicto do Tribunal Especial; 08 de julho, a confirmação pelo Tribunal Supremo das quatro penas de morte contra Ochoa, de la Guardia, Amado Padrón e Martínez Valdés; 09 de julho, confirmação pelo Conselho de Estado; e dia 13 ... – Ileana não conseguiu continuar...



Segundo Masseti, “que tivessem morto ‘Tony’ no Líbano, no Chile, em Miami, em qualquer dos lugares onde cumpriu missões secretas; que Ochoa tivesse sido morto em Angola, Venezuela, Nicarágua ou na Eritréia, se concebia e era o curso natural da História. Porém, que encontrassem uma morte violenta em Cuba estava acima de tudo que pudesse imaginar. O Conselho de Estado exerceria o seu direito de graça. Porém, em 09 de julho, reunido em sessão extraordinária, ratificou o veredicto. Por unanimidade. Seus membros desfilaram, um por um, pronunciando-se a favor da pena de morte. Parecia um desfile fúnebre celebrado por veteranos da Revolução, companheiros de armas dos condenados. Ao final, Fidel apontou o polegar para baixo”.



Diz Ileana que no dia 13 de julho, às 5 da manhã, tomou conhecimento, pelo rádio, de que a sentença havia sido executada. “Minha mãe recebeu um cartão no qual informavam que o corpo de seu marido estava enterrado no cemitério Colón, em uma tumba sem nome, sob a matrícula 46.427, junto a outras três tumbas anônimas. Eram as sepulturas dos quatro revolucionários”.



No entanto, segundo fontes da oposição castrista, os fuzilamentos dos implicados no caso Ochoa não fizeram cessar as operações de narcotráfico de Cuba.



O escritor Norberto Fuentes, antes mimado pela Revolução e agora odiado, diz saber que as operações de narcotráfico continuam. Fuentes foi amigo de Fidel e de Raúl e movimentava-se com tranqüilidade nos círculos dos altos comandos militares. Serviu em Angola em 1981 e 1982 e foi condecorado por Fidel com duas medalhas por seus serviços como combatente. Ao estourar o caso Ochoa, foi posto sob vigilância pelos Serviços de Segurança, junto com outros amigos de “Tony” de la Guardia. Conseguiu abandonar a Ilha graças a Gabriel García Marques, ilegalmente, em um avião particular. Agora, no exílio, confirma a associação do governo com os narcotraficantes colombianos. Diz que Cuba “facilitava as águas territoriais e, em alguns casos, permitia que aviões carregados, pousassem em Cuba para reabastecimento, pois são aviões DC-3 e DC-4 que consomem muito combustível. A técnica utilizada era a do bombardeio, lançando ao mar seus carregamentos, recuperados por lanchas, e regressavam à Colômbia”.



Finalmente, segundo o médico Miguel Ángel Garcia Puñales, diretor do Centro de Informação de Estudos Cubanos, “em Cuba, está claro que há drogas, pois existem os drogadcitos, marginalizados em hospitais especiais. E, está claro que em uma ditadura como em Cuba, é impossível que entre droga no país sem o apoio ou consentimento de membros do governo. Segundo as informações que eu tenho, as guerrilhas e os traficantes de drogas se associaram. E os narcotraficantes disseram: Se vocês nos dão acesso à Flórida, por Cuba, parte do pagamento poderá ser feito em armas para as guerrilhas”.





(*) Carlos I. S. Azambuja é historiador.









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