Se tivessem feito a depuração, não estaríamos vendo o filme de agora
Expulso do PT em 1998, depois de ter denunciado o esquema operado pelo compadre de Lula para arrecadação de dinheiro em prefeituras administradas pelo partido, Paulo de Tarso Venceslau vê semelhanças entre o atual escândalo petista e o caso CPEM
Luiz Maklouf Carvalho
Especial para o Estado TAUBATÉ
Estadão - Quinta-feira, 28 de Julho de 2005
Na pequena redação do jornal que escreve e dirige, o tablóide semanal Contato, o economista Paulo de Tarso Venceslau assiste, de camarote, mas sem alegria, ao desenrolar da maior crise na história de um partido que já foi seu, o PT.
Expulso no começo de 1998, depois de denunciar o caso CPEM - esquema de arrecadação de dinheiro junto a prefeituras do PT, operado pelo advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula -, ele sustentou, e continua a sustentar, que sua expulsão foi injusta e teve dois objetivos: proteger o amigo de Lula e evitar a investigação profunda da até ali mais grave denúncia de corrupção na história do PT. "Eu dei a eles essa grande oportunidade. Se tivessem aproveitado, e feito a depuração, não estaríamos vendo o filme de agora."
Ele cita documento que foi boicotado na época pela direção do PT: a explícita condenação dos métodos de Teixeira por uma comissão de investigação integrada pelo economista Paul Singer e pelos juristas Hélio Bicudo e José Eduardo Martins Cardozo, hoje deputado e integrante da CPI dos Correios. "Apesar disso, o expulso fui eu."
A denúncia do caso acabou com sua amizade com o hoje deputado José Dirceu, que na época negou as denúncias, assim como o presidente Lula. Em março de 1995, o economista entregara a Lula carta em que relatava a atuação de Teixeira e da Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM).
Também em carta pediu a Dirceu, Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante a apuração da denúncia. Depois de 2 anos sem providências internas, em 1997 ele tornou público o que sabia, em entrevista ao Jornal da Tarde. Lula, Dirceu e outros dirigentes o processaram. Mas até aqui Paulo de Tarso não perdeu nenhuma das ações, que continuam tramitando.
Na entrevista, ele aponta semelhanças entre o caso CPEM e o de agora, diz que seria "ingenuidade" acreditar que Dirceu não soubesse do esquema Delúbio Soares-Marcos Valério. Procurado para comentar, Dirceu não quis responder. Por sua assessoria, informou que não falaria porque o assunto "é requentado". Lula, Teixeira, Silvio Pereira, Delúbio Soares e José Genoino não deram retorno. O deputado José Mentor, relator da CPI do Banestado, negou que tenha "blindado" Teixeira. "O Roberto é meu amigo há 40 anos, mas não houve blindagem."
Com que sentimento o sr. está assistindo à maior crise do PT?
Diz o ditado que o pepino se torce enquanto é novo. O PT teve essa oportunidade há dez anos, quando contei para Lula que Roberto Teixeira estava usando o nome dele para arrecadar dinheiro para o PT, com métodos que não eram lícitos, o que foi comprovado por uma auditoria externa e uma sindicância interna. Lula reagiu com destempero, achando que eu devia ser expulso, para preservar o compadre. Isso quando havia um relatório de investigação, assinado por Bicudo, Cardozo e Singer, pedindo a cabeça do Teixeira.
Qual foi o papel do José Dirceu?
O Zé Dirceu era o executor. Até então aparentava manter uma velha amizade comigo, mas passou a ser meu algoz. Naquele momento ele provou pro Lula sua extrema lealdade. Um caudilho com esse poder, um partido de joelhos e um executor como o Zé Dirceu só podia levar a isso que estamos vendo hoje. Os atores são praticamente os mesmos, com pequena variação.
Quem seria o Valério na época?
O Teixeira. Ele era o grande operador. Ele se apresentava nas prefeituras em nome do Lula, para pegar dinheiro para o PT.
Como pode ser possível a montagem dessa máquina de dinheiro - o valérioduto - dentro do PT?
Silvio, Delúbio, essas pessoas foram postas no entorno de Dirceu. Silvinho, por exemplo, sempre foi uma pessoa medíocre no PT. Foi alçado a dirigente pelo Zé Dirceu e virou pau-mandado. Assim como o Delúbio. São pessoas que raciocinam muito pouco, não precisam pensar muito. Tinham de executar.
Paus-mandados de quem?
Do Zé Dirceu, que era o grande comandante, o grande chefe desse pessoal. Quem mandava e desmandava era Dirceu. A maquina partidária era controlada a mão-de-ferro por ele.
DISTO SE CONCLUI, SEM SOMBRA DE DÚVIDA, QUE ESTE ESQUEMA DE CORRUPÇÃO MONTADO PELO PT É MUITO ANTIGO E QUE A PROCLAMADA ÉTICA DO PARTIDO E DO LULA É CONVERSA PARA BOI DORMIR.