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Artigos-->De cueca, eu ainda explico... -- 15/08/2005 - 10:46 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De cueca, eu ainda explico



por João Nemo (*) em 12 de agosto de 2005



© 2005 MidiaSemMascara.org



Acredito piamente que o mundo do humor abriga grande parte da nossa mais profunda sabedoria. O fato de que consegue abarcar não apenas o ridículo, mas mascarar, de certa forma, as nossas mais corriqueiras tragédias, talvez ajude a explicar o porquê. Os últimos acontecimentos que têm envolvido o país num rodamoinho de informações, contra-informações, acusações que nem precisam ser provadas, pois em seguida provam-se sozinhas, mentiras e tramas de toda a espécie, ilustram bem esse fenômeno. Vivemos uma daquelas situações em que é preciso procurar rir para não chorar. Não se trata de alienação, mas de um artifício para suportar tantos e tão deploráveis cenários.



Vamos procurar, portanto, em citações clássicas dos nossos humoristas, algumas das mais ilustrativas imagens do que ora vivemos.



A primeira que me ocorre, não sem boas razões, é a antológica frase de Chico Anísio, que se referindo, naturalmente, a um flagrante de adultério dizia: “de cueca eu ainda explico”. De certo modo é uma prescrição de cinismo para que o flagrado resista, estoicamente, até o último recurso, ou seja, a cueca. Mesmo nessas condições deve-se, segundo esta máxima, recorrer ao “não é nada do que você está pensando” e dar uma explicação. Como a cueca dolarizada é a mais recente personagem do nosso mundo político, não se pode negar que esta é uma imagem oportuna. Mas, existem cuecas metafóricas que nos vêm brindando, recentemente, com explicações do arco da velha. Quanto mais tempo passa, mais complicados ficam os rodopios tentando canalizar tudo para os tais caixas dois de campanha, ou seja, para nada. Quando Collor, de forma até mais verossímil, tentou dar essa justificativa, a resposta foi um faz-me-rir geral. Ninguém no PT ou no governo teve, ainda, a genial criatividade daquele adúltero da piada que ao chegar à casa de madrugada teve o cuidado de sujar os dedos de giz e colocar um pedaço sobre a orelha. Interrogado pela mulher absolutamente furiosa, dispara com coragem a verdade: havia estado em um motel com aquela super-gata cobiçada por todos. A mulher, com desprezo, aponta o dedo para o giz na orelha e esbraveja: “Cara de pau! Fica jogando bilhar até a esta hora e ainda vem contar vantagem?” No governo petista ninguém teve esse brilhantismo, mas a cara de pau é a mesma. As explicações são norteadas pela tática militar medieval, que consiste em sucessivas barreiras defensivas a que se vai recorrendo na medida em que são superadas as anteriores além, é claro, de oferecer, como no caso do giz, falsos caminhos para levar o inimigo a becos sem saída. Este segundo recurso é o que se chama de contra-informação, especialidade cubana do ex-capitão do time. O óbvio, então, se torna uma coisa inacessível. Nelson Rodrigues dizia que o óbvio é o mais desconhecido dos personagens. As pessoas trombam com ele e o ignoram, cruzam com ele em toda esquina e não o reconhecem, sequer o enxergam na maioria das vezes. Acrescento: a vontade de não ver, realmente, cega.



Quanto ao que temos ouvido sobre o grande estadista que nos preside, então, o velho Nelson tinha uma imagem perfeita. Assistimos muita gente agir como aquele marido traído, tipicamente rodrigueano, que sabia o local, a hora, como e com quem ocorria o adultério. Sabia tudo, mas ia de esquina em esquina, de boteco em boteco, e anunciava que a mulher era uma santa. Insistia, obsessivamente, ao estilo do genial cronista: um anjo de pureza, uma santa, minha mulher é uma santa. Chega a ser esquizofrênico ouvir pessoas supostamente esclarecidas e inteligentes fazendo cara de nojo ao falar do lamaçal que assola o país, mas ressalvar que não se trata do PT como um todo – que tem uma linda história - e, principalmente, o Presidente deve ser deixado fora disso, porque ele “é maior que o Partido” e supostamente tem, também, uma linda biografia. Até o próprio, em recaídas recentes do seu estilo rouquenho de oratória, já incorporou essa paranóia de invulnerabilidade. Acho, sinceramente, que está na hora da oposição começar a falar sério a respeito dele, sem rebater bravata com bravata, mas apenas colocando alguma lógica nessa conversa.



É uma ofensa à inteligência alheia pretender passar a idéia de que no governo petista eram todos macaquinhos do tipo “não falo, não vejo e não escuto” quando é sabido que, ao contrário, sempre foi um partido onde os debates são infernais e as decisões irrecorríveis. Onde pensar com a própria cabeça – Dona Erundina que o diga – nunca deu futuro. Agora, ninguém sabia de nada do que os outros faziam e o Presidente, então, vivia o tempo todo em órbita. O “capitão” Dirceu, que sempre afirmou nada fazer sem o conhecimento do Presidente Lula, desconhecia os atos da direção partidária; o tesoureiro, que vivia enfiado nos assuntos de Estado, não dava satisfações a ninguém; o Presidente do PT assinava sem saber o que assinava e o nosso grande líder, esperança e redenção dos oprimidos do mundo, ao que parece, quase não os conhecia a todos e, orientado para evitar a defensiva, retomou o dedo em riste contra as tais “elites”. O senhor Waldomiro Diniz, saia da Casa Civil para cooptar parlamentares e negociar fundos com “empresários do jogo” por conta própria. É dose!



Continuo dizendo que o governo e seu partido podem ser incompetentes em muita coisa, mas são excelentes em estratégia de conquista e confronto, pois isso está nas suas veias. Ao negar, contra todo o bom senso, os vínculos entre as ações de cada uma das suas áreas de ação buscam, tanto quanto possível, reproduzir artificialmente o método celular, em que a queda de uma não arraste a queda da outra. O elementar senso comum diz que é inverossímil, mas juridicamente funciona e confunde a opinião pública permitindo, depois, quem sabe, aquele processo de gradual reconstrução dos fatos, que hoje os habilita a apresentar a violência do passado, em prol da ditadura comunista que desejavam, como sacrifício feito na luta pela democracia.



Para aqueles que se dizem decepcionados com o PT e seus membros mais ilustres, sugiro que sejam mais justos e não se decepcionem. Não há porquê. Os grandes nomes do partido, Genoíno, Dirceu e outros não traíram seus ideais, apenas tentaram viabilizá-lo por meio de uma imensa máquina de drenagem de recursos. Possivelmente, como o próprio Lula, tenham se deslumbrado com as facilidades e honrarias do poder, com alguns acessos privilegiados a coisas de que a burguesia usufrui, mas nada fizeram visando propriamente o enriquecimento ilícito. Não é um projeto de roubo, embora toda a logística seja de crime organizado, como assevera a Juíza Denise Frossard. É muito pior, pois se trata da máquina de financiamento de um assalto às instituições e aos princípios da democracia representativa: um grande projeto de dominação nacional cuja tecnologia vem sendo aperfeiçoada ao longo do tempo. Não é coisa que possa ser ignorada por alguém relevante no sistema partidário e que, simbolicamente ou não, encabeça o projeto. Mas o que me preocupa, realmente, é que também não é coisa, uma vez exposta, que possa ser ignorada por quem quer que seja, principalmente pelos que se consideram entendidos ou protagonistas da política. Ignorar o óbvio quando este lhe dá um piparote no nariz já é falta de caráter.



A essa altura, mesmo quem tem consideráveis restrições às complacências e hipocrisias do governo FHC, fica tentado a repetir uma das mais geniais tiradas do Sr. Juca Chaves. Durante o desastroso governo Sarney, havia surgido, também, a devastação da AIDS. “A que ponto chegamos – dizia ele - ter saudades do Figueiredo e da gonorréia!”



Entre rir e chorar o brasileiro tem optado por rir. Até quando isso será possível?





(*) João de Oliveira Nemo é sociólogo e consultor de empresas em desenvolvimento gerencial.











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