Dirceu fez sua estréia na década de 60. Era muito jovem e como não se simpatizou com o regime político, passou a viver como um fora-da-lei que imaginava e fantasiava grandes embates contra as forças dominantes. Mas era imaginação, na verdade o nosso Leão da Montanha (personagem Hanna Barbera) não era de enfrentar nada nem ninguém. Para fugir de situações complicadas ele tinha sempre uma “saída estratégica pela” esquerda ou direita, como melhor lhe conviesse. A seu favor, tinha a aparência charmosa que simulava boa índole e um ar de ator “canastrão”. Articulado, agradava o público, mas era extremamente desastrado. O nosso Leão da Montanha tinha um caráter flexível e, para salvar a própria pela, não titubeava em envolver amigos. Esse é José Dirceu, o personagem da semana.
Com a mesma habilidade com que construiu o PT e consequentemente Lula, ele está colaborando e muito com a destruição dos dois. Durante esses dois anos e meio de governo, Dirceu agia nos bastidores com punhos de aço. Montou um esquema tão rígido que nenhuma nomeação saía sem o seu consentimento. Nos corredores de Brasília costumava circular a informação que cada nome indicado era investigado pela ABIN (agência brasileira de informação), que enviava um relatório ao então ministro. Tudo era muito bem negociado e Dirceu costumava cobrar caro suas decisões. E foi aí que ele foi pego, por comprar e não pagar. Imaginou-se com um poder ilimitado e infinito, fez inimizades, destruiu muita gente por meios sujos. No ano passado perdeu seu mais fiel operador, Waldomiro Diniz, também responsável pela destruição da imagem de Ibsen Pinheiro nos anos 90.
Dirceu contava então com um fiel escudeiro, um faz-tudo, Roberto Marques ou Bob Marques, mero desconhecido que esta semana foi descoberto na lista dos autorizados a sacar dinheiro das contas de Marcos Valério no Banco Rural. E de nada vai adiantar Dirceu dizer que não tem nada a ver com isso uma vez que o entrosamento dos dois era tamanho, que Bob, mesmo sem função definida, chegou a representar oficialmente o então Dirceu em compromissos.
Recentemente o Zé argumentou que tentava já havia algum tempo tirar Delúbio da tesouraria do PT. Quais foram suas testemunhas? Quem leu as resvistinhas do pato Donald os conhecem. São os “irmãos metralha”: João Paulo Cunha (ou 176-761); José Mentor (ou 176-671); e o prof. Luizinho (ou 176-617). Os outros dois irmãos Metralha que estão faltando, o 176-167 e 176-176, devem estar dentro de alguma gaveta do Banco Rural aguardando para dar o bote. A diferença é que neste caso o pato que eles estão roubando não é o tio Patinhas, mas nós mesmos, os patos brasileiros.
Mas não vamos mais ser patos nas mãos de quadrilha nenhuma. Temos a nosso favor o poder e a velocidade da informação. Não vamos nos deixar enganar por essa tropa. Não somos personagens da Disney, por mais que queiram nos conceder este papel. Patos são eles, que quase nadam, quase andam e quase voam, mas não fazem nada direito.
Nessa estória vejo Dirceu e Lula como Cascão e Cebolinha. Um é sujo e o outro tem língua “plesa”. Elaboram planos juntos, sempre “flacassados”.
(*) Adriana Vandoni Curvo é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT. E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: http://argumento.bigblogger.com.br
