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Artigos-->Engolindo sapo barbudo -- 09/08/2005 - 09:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ENGOLINDO SAPO BARBUDO



MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA (*)



Foi Brizola quem apelidou o então candidato Lula de barba grande e desgrenhada de sapo barbudo. O apelido pegou e até hoje muitos se recordam da alcunha. Pois bem, no dia 3 de agosto, em Garanhuns sua terra natal, o presidente Luiz Inácio em ritmo acelerado de campanha e tom de porta de fábrica avisou com o rosto crispado de raiva: “Com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir”. Será que de novo os brasileiros vão engolir sapo barbudo? Que gosto exótico nosso povo tem.



No comício de Garanhuns (porque foi um comício cuidadosamente preparado) não faltaram manifestações de apoio e apreço de tradicionais aliados como Jaime Amorim, líder do MST, e Manoel dos Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Como exemplares sabujos eles prometeram ir às ruas para defender o presidente. E o farão pela bandeira da ética, contra a oposição e o atraso da direita, ou seja, contra o inexistente.



Palavras empolgantes, mas vazias de realidade no contexto de absurdo em que se vive reboaram na pequena Garanhuns e encantaram aproximadamente oito mil pessoas que foram aplaudir os oradores. Possivelmente aquele público acreditou no espetáculo burlesco no qual, um Lula bem distante da paz e do amor vai assumindo cada vez mais sua porção Hugo Chávez, seu lado de caudilho latino-americano, sua face populista. Vale qualquer estratégia para escapar ao temido impeachment, inclusive, a de deixar a comodidade luxuosa da corte para buscar os braços do povo.



Sem dúvida, o presidente Luiz Inácio deve perceber que a lama da corrupção, dos caixas 2, dos mensalões, dos acertos de milhões, dos paraísos fiscais, dos cartões de crédito são os espectros que rondam o Palácio do Planalto e se aproximam cada vez mais de sua pessoa. E intui que o cidadão medianamente informado sabe que sua estreita proximidade com os companheiros torna impossível seu total desconhecimento dos fatos escabrosos que se presenciam no momento.



Esta situação deve tornar o presidente Luiz Inácio temeroso de não poder levar adiante o projeto de poder petista, vislumbrado em pelo menos vinte anos. Afinal, ele é grande admirador de Fidel Castro, de Hugo Chávez, dos ditadores africanos que visitou, e quatro anos é tempo bastante reduzido diante do tamanho de sua ambição e a de seu partido.



O jeito, então, é apelar melodramaticamente para a origem com o intuito de obter identificação com o eleitorado mais suscetível de se deixar levar pelas emoções. Por isso o alterar da voz para se jactar que nasceu de mãe analfabeta (como todos nesse mundo, aliás), o auto-elogio de ser o homem mais ético do país, a queixa do coitadinho perseguido pelas elites que disseram que ele não podia ganhar a eleição porque não sabia falar inglês.



Nada contra, é claro, aqueles que, vindo das camadas mais humildes da população conseguem subir na vida, mas o presidente, ao colocar como um bem em si suas raízes pobres, subverte valores e se torna extremante preconceituoso diante dos que não tendo se utilizado das artimanhas da política empreenderam uma trajetória de esforços configurados em estudos e trabalho.



Essa distorção de valores tem sido apresentada constantemente pelo presidente e pior, é aplaudida por milhões de brasileiros que puseram Lula lá porque ele foi pobre, como se fosse suficiente eleger um negro pelo simples fato de ser negro, ou uma mulher pelo fato de ser mulher. Não se percebe que gênero, raça ou origem não são curriculum, mas o é o mérito baseado na competência e na visão de bem comum que fazem de um pobre, de um negro ou de uma mulher, um estadista.



Infelizmente, aos brasileiros em geral basta a retórica vazia, as emoções piegas, o gosto pelo pior, o prazer da mentira. Isso explica o sapo barbudo ter sido finalmente engolido na sua quarta tentativa de chegar ao poder. Foi também engolido pela elite econômica que continua a mantê-lo lá porque teme dois “sapos” na ordem de sucessão caso o impeachment viesse a se confirmar: o vice-presidente José Alencar e o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti.



Gira o mundo enquanto nosso mundo político sofre abalos consideráveis e o PT, ex-partido da ética, vai mostrando sua cara corrupta em todas as partes do país. Nas voltas que o mundo dá o presidente Luiz Inácio discursa ora em prantos, ora se comparando em mais um acesso de grandeza, a Getúlio Vargas. Nenhum príncipe aparece e o Brasil emerge como uma grande República das Bananas onde a dieta política consiste em engolir sapo barbudo e outros batráquios. Desse jeito, continuaremos a ser um país grande em vez de um grande país.



(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga e articulista.



Publicado originalmente em www.diegocasagrande.com.br









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