Coluna de Hélio Fernandes - Tribuna da Imprensa - 08 08 05
Lula agora ou Lula sem futuro?
Cidadãos de todos os tipos me telefonam, me escrevem, me param na rua, e a pergunta é sempre a mesma: o que vai acontecer depois desse tumulto todo, dessas investigações, de tantas CPIs esmiuçando tudo?
Sincera, ou melhor, compreensivelmente, não sei. As variantes são muitas e todas ruinosas. Mas há uma indagação reveladora e constante: por que Dona Marisa não aparece mais com Lula? Outra questão irrespondível. Acho que ela tem mais autocrítica do que ele, já "viu" numa profundidade que a vaidade de Lula não consegue atingir de maneira alguma.
Diante de tanta incerteza e exercendo a satisfação da reflexão, tão pouco praticada, coloco algumas possibilidades que estão mais que visíveis por cima de todo esse charco político, econômico, financeiro, administrativo, social, republicano, e mais assustador do que tudo: a deterioração completa e em alta velocidade que ronda as Instituições.
Quebra das Instituições significa mais um golpe, uma sucessão deles, mutilando a sucessão política e eleitoral, interrompendo, diminuindo ou até destruindo mandatos.
Hipóteses bastante discutidas e que examinaremos rapidamente, estamos tratando da vida e da continuidade de um país potência mas já com 505 anos de atraso e do futuro de 180 milhões de pessoas. As hipóteses, algumas (ou todas) assustadoras.
1 - Impeachment.
2 - Substitutos.
3 - Desistência de Lula no final de 2006.
4 - Candidatura e vitória.
5 - Candidatura e derrota.
6 - Nova Constituição.
7 - Possíveis vencedores.
1 - Impeachment
Não existem provas, por enquanto tudo se resume ao subjetivo: "Lula sabia ou não sabia". A maioria responde afirmativamente, mas sem segurança. Também não haveria tempo. O impeachment de Collor levou 16 meses, agora teríamos menos de 14. E Collor só foi cassado por imprudência, sentido de onipotência, e o mal que ataca e atinge todos que chegam ao Poder, a ilimitada arrogância.
Além do mais, Ibsen Pinheiro ajudou muito, encurtou prazos, tirou Comissões do exame do problema, reduziu o tempo que cada deputado dispunha para discursar. Se Collor tivesse sido alertado desde o início de que a cassação-impeachment seria perfeitamente possível, poderia ter dominado o Congresso facilmente. Não fez nada disso, perdeu o mandato, ganharia depois, várias vezes, no Supremo.
Nos EUA, o impeachment de Nixon levou 10 meses, e ele só renunciou, facilitando as coisas por um motivo: a emenda constitucional, que limitou os mandatos presidenciais a uma eleição e uma reeleição, foi radicalíssima. Depois de 8 anos no cargo, o cidadão não pode ser mais nada, não pode se candidatar a qualquer coisa, não pode disputar nenhum cargo nunca mais. Dessa forma, estando no início do terceiro ano do segundo mandato, Nixon não sofreria maior punição, perderia menos de 2 anos de vida pública.
Diferente para Lula. Perderia uma parte do primeiro mandato, não poderia disputar o segundo. Expulso do governo, inelegível por 8 anos, o que fazer? Se fosse cassado em 2005 ainda poderia disputar alguma coisa em 2014, com 68 anos. Se fosse cassado em 2006, perderia a sucessão de 2014, teria (?) chance em 2018, ainda bem mais moço do que FHC hoje e ambiciosíssimo.
2 - Substitutos
Pela linha constitucional, viriam: José Alencar, Severino Cavalcanti, Renan Calheiros, Nelson Jobim. Nossa Senhora, o povo se ajoelharia na catedral do Poder, implorando a Lula: "Fique, presidente, o senhor é uma catástrofe com encontro marcado com o final do mandato, os outros serão (ou seriam) catástrofes sem prazo certo e com expectativas incertas.
Nesse processo, digamos correto, quem sabe não surgiriam alguns aventureiros que colocariam a coroa na cabeça de forma espúria e ilegal? Nada imprevisível.
PS - Mesmo analisando em alta velocidade, deixo as outras hipóteses para amanhã. Desistência de Lula na reeeleição, confirmação da candidatura e vitória, confirmação e derrota, possíveis vencedores, outra Constituição, fica tudo para amanhã.
PS 2 - Apenas 1 dia de espera, num País que já desperdiçou 505 anos.