Esta expressão latina diz de forma breve uma grande verdade: a corrupão dos melhores é a pior que existe . Houve corrupção em políticos do PT e em outros, não pontual nem episódica mas intencionada e planejada. Esse tipo de corrupção, como muitos atestaram, vem praticada há muito pela política convencional de forma sistemática: a criação de caixa dois para financiar campanhas eleitorais e comprar eventualmente votos. Se todos fazem isso (reservado fica o direito da dúvida), o PT não poderia jamais fazer o mesmo. Ele surgiu no cenário histórico com a bandeira da moralidade pública, das mudanças, da centralidade do social e da democratização da democracia. E eis que agora setores importantes do PT resvalaram para a vala comum, desonraram uma história gloriosa, atraiçoaram os que viviam de esperança e deram um tranco formidável na evolução política do Brasil. A corrupção destes melhores é a pior coisa que possa existir. Quem será agora o portador coletivo da ética embora ninguém tenha o monopólio dela ? Não dá para reanimar um cadáver. Este tem que ser enterrado.
Graças a Deus que existem pessoas no PT que sempre resistiram às tentações das benesses do poder, que não negociaram com as más companhias , que sempre alimentaram uma relação orgânica com os movimentos populares e que sempre mantiveram alto teor ético-místico em sua prática política. Estes formam a reserva ética, ganharam, nesta crise, credibilidade e emergem como pontos luminosos de referência. Se não forem escutados, se não ocuparem posições intrapartidárias importantes na reconstrução da figura do partido é sinal que este não se dispõe a aprender nada da crise e persiste na arrogância e no farisaísmo.
Esta crise ética nos faz pensar. Não é suficiente uma ética social, expressão de um projeto coletivo, representado, por exemplo, pela generosa tradição marxista/socialista. Em função de um bem coletivo e por causa do dinamismo próprio da dialética, há na prática marxista a tendência de justificar deslizes éticos como passos toleráveis para se conseguir certos avanços na luta de classes. A ética pessoal é sacrificada em nome de um fim mais alto.
Esta posição não é esposada pelos cristãos de onde vêm muitos do PT. Se há uma colaboração perene que o cristianismo trouxe ao discurso ético é certamente este: o caráter inegociável da ética pessoal. A razão reside no entendimento da consciência como norma interiorizada da moralidade. Esta interiorização é um fato irredutível. Não é fruto de algum superego social, nem é eco da voz do dominador externo. Há lá dentro, no íntimo de cada pessoa, uma voz que não se cala, sempre vigilante, aprovando e proibindo, advertindo, aconselhando e dizendo: não faças isso, faça aquilo . Por mais que psicanalistas, marxistas e outros mestres da suspeita tenham tentado desconstruir essa voz, ela perdura soberana. Sócrates e Kant a chamaram de voz de Deus em nós . Ela não cessa de falar. Os corruptos do PT e outros não escutaram esta intimidação da consciência. Nenhum projeto de poder, nenhuma vitória eleitoral justifica a desobediência à consciência. E assim, poderão ser punidos pelas leis e muito mais pela própria consciência. Não adianta fugir, ela sempre os perseguirá.