993300>Há uns tempos a esta parte, dada a profusão das notícias do mesmo teor, estamos perigosamente a habituar-nos, sem dar por isso, à ideia de que aquelas bombas que vão explodindo na cidade dos outros, ceifando dezenas de vidas dia a dia, embora lamentando tão criminosas e nefastas ocorrências, não são connosco.
Não aprofundamos, por exemplo, que as vítimas são em geral cidadãos comuns como nós, ou, quando se trate de personalidades cimeiras, a morte recai sobretudo em pessoas com reconhecida dignidade humana, como foi o caso de Sérgio Vieira de Melo.
Os grandes patifes deste mundo, tais como Hitler, Truman, Estaline e quejandos, bombistas de alto potencial, morreram porque tinham de morrer e, quanto a mim muito estranhamente, também sobre aqueles que hodiernamente encimam as tensões e persistem nas fórmulas bélicas - Bin Laden, Bush, Blair - não há meio de cair-lhes em cima uma providencial bombinha.
Raio... Quem deveras afinal, directa ou indirectamente, financia, promove e provoca o terrorismo? Então não se está a ver o filme todo desde que o flagelo começou?...
A mim, não, não me deitam fumaça para os olhos, nem me distraiem ou desviam o pensamento com bolinhas de sabão: sei a história de fio a pavio - é sempre a mesma - e também sei essencialmente que a história real das pessoas comuns é um "passado-presente" que se confirma sempre muito tarde e sem remédio.
Não acharão porventura oportuno, caras Leitoras e caros Leitores, uma vez que estamos em "evocada democracia" e não vislumbramos hipótese da carnificina acabar, logo que formos chamados ao "dever cívico" de votar, rasgarmos o voto bem à frente de todos esses paspalhões e lançarmos os pedacinhos ao ar, como se fosse uma bomba?!...
Quiçá - ó minha mãe, minha mãe - acertássemos em cheio no cérebro dos humanóides - eles consideram-nos parvos - que ensaiam ternos sorrisos ao espelho para tão-só sistematicamente enganar os benquistos cidadãos que, se gozam qualquer coisinha na vida, pagam-na com suor de ouro.
Mas... Para rasgar o voto e lançar os papelinhos no ar, o que não faria mal a nenhum de nós, é preciso "tê-los" ou "tê-la" no sítio. Eu que sou o da ideia - concerteza - vou ser o primeiro a lixar-me, mas tenho fé e esperança, pelo menos, de que deixarei semente à espera do futuro.
António Torre da Guia
O Lusineiro |