E nós nos mantínhamos... e nós nos mantivemos... talvez ainda haja os que se mantém.
Eu, porém, já não vejo sentido - não nessa união, mas no "em torno".
Cheguei à conclusão que a união em torno dos chefes só serviu para protegê-los. É, proteger a eles, a suas carreiras, aos cargos que ocupavam e
às mordomias que desfrutavam. Nossa união e nossa disciplina serviu apenas de anteparo à fragilidade de suas lideranças.
Lideranças ? Não, lideranças não ! Comandantes, por hierarquia, e chefes, por uma questão funcional; mas líderes, por respeito, por
competência, por confiança, por apreço... jamais ! Justamente por faltar-lhes a liderança, conclamavam-nos. Se a tivessem, bastaria nos
apontar o caminho. Não souberam fazê-lo, não souberam nos conduzir, nos liderar.
Mantivemo-nos unidos... parados... estaganados... cercando-os... protegendo-os. Nossa pseudo-união foi o blefe que permitiu continuarem no carteado de suas realizações pessoais. Nos enganaram, não cuidaram de nossos
destinos - que lhes confiamos. Nos faltaram, não foram leais conosco !
Hoje, o que temos, o que somos ?
Uma Força de moral elevada, de combatentes prontos a orgulhosamente
darem suas vidas pela mãe-pátria, liderados por homens da estirpe de Caxias, Osório e Sampaio ? Nada disso ! Mais parecemos um sindicato de homens fardados, com nossas mulheres fazendo passeatas, panelaços, e com nossos
pelegos, de duas, três e quatro estrelas, esquecidos de nosso passado, a nos
pedirem paciência, a justificarem a burocracia de um Estado entregue à predação de uma nomenklatura corrupta, incompetente e revanchista.
Mas... talvez, nos últimos anos, jamais tenha havido uma oportunidade como esta para recuperar nossa dignidade: a opinião pública e a
midia, mesmo aquela comprada e comprometida, reconhecem razão em nossas reinvidicações salariais. Bastaria que os Comandantes das três Forças reunissem a imprensa e apresentassem a renúncia a seus cargos, coletivamente, por não terem mais condições morais de comandar homens aos quais mentiram, respaldados em promessas de ministros e presidente. Os que lhes sucedem assumiriam interinamente, mas nenhum militar, da ativa ou da reserva, aceitaria nomeação para seus cargos. Tropa de prontidão... os
clubes das Forças em assembléia permanente... o resto seria conduta.
Talvez voltássemos a ser respeitados. Talvez voltássemos a respeitar e acreditar em chefes.
(*) Coronel páraquedista, da Reserva do Exército Brasileiro