 993300>O Jornal de Notícias é sem dúvida o maior diário de Portugal e, na devida proporção, também um dos maiores do mundo: sério, digno, sóbrio e sobretudo espectacularmente lúdico, espécie de companheiro que sem qualquer excepção está sempre disposto a tudo.
Vocês, amigas e amigos brasileiros, principalmente aqueles que na vida estão bem entrosados, terão decerto aí no Brasil o paradigma do JN. Ora então relacionem e confiram.
Além da essencial função de pedagógico veículo incisivamente cultural através da notícia e da interacção entre os seus milhões de leitores, hoje, como ontem, cada vez mais o JN serve para tudo.
Sou do tempo em que o JN servia para fazer papagaios e bivaques de garotos a fingir de soldadinhos, rendilhados toalhetes de mesas e prateleiras, embalagens cónicas para castanhas, azeitonas e amendoins, e até, pasme-se, entre a infindável diversidade de aplicações, para simular um grosso pacote de notas no conto do vigário. Logo a seguir, em derradeira utilidade óbvia, servia como providencial pedacinho de papel higiénico, revolucionário e cómodo substituto da pedrinha ou do tufo de ervas. Lembram-se?
Actualmente, todas os criativos e improvisados papeis a que o JN dava azo, foram de lés a lés tomados pela desalmada indústria do mundo hodierno, tal como a aproveitável beata foi banida pelo filtro, tal como o bem informado e precavido traseiro está a dar no que se vê.
Agora, as montanhas de lixo existem, sim, não para extremo socorro dos mais necessitados, mas tão só para mais e mais engordar a insaciável ambição dos ricos, que não cessam de se apoderar do sobrevivente engenho dos pobres para mais e melhor explorá-los.
Enfim e mais avante ainda, nada me admiraria se num destes próximos dias, ao comprar o JN pela manhã, viesse o pequeno almoço incluído e de imediato fosse assaltado...
António Torre da Guia
O Lusineiro |