Em fins de 2003, a arte gráfica dos índios Wajãpi, do Amapá, recebeu da Unesco o título de " Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
Tal conquista passou despercebida no Brasil, mesmo tendo sido o 1ª título concedido pela Unesco ao país, e o 3º no mundo, sendo que os outros dois são: O Canto Polifônico da República da Geórgia e a música da corte Nha Nhac do Vietnã.
A arte gráfica " Kusiwa" dos Wajãpi representa o conhecimento religioso, humanista e social que essa tribo acumulou através dos tempos, abrangendo também a prática diária de tais valores para o aperfeiçoamento moral e cultural dos membros da tribo.
Assim, os desenhos e formas gráficas criadas por eles, aliados à narração que é feita para explicá-los, eternizam os elementos particulares do modo de pensar e de viver desses índios brasileiros que conseguiram escapar - embora em número reduzido (atualmente 580 pessoas) - à colonização portuguesa e depois, ao Império e a República.
A Unesco entende, acertadamente, que Patrimônio Imaterial é " a porção intangível da herança cultural de um povo" e que depende para que seja manifestada, da participação do indivíduo, ou seja, de uma pessoa que se expresse e esta expressão seja identificada por outros do mesmo grupo que entendem o que significa tal manifestação. Assim, quando uma pessoa dança o frevo ou o maracatu está exteriorizando a existência dessas danças, que passam a fazer parte do Patrimônio Imaterial daquele povo.
Mário de Andrade, já em 1930, intuía o patrimônio imaterial quando afirmava que : o patrimônio cultural está presente na alma popular, para além da pedra e do cal" .
Daí a diferença imensa entre os patrimônios arquitetônicos ou históricos, que podem ser tombados, preservados e protegidos, como, por exemplo, o Forte das Cinco Pontas e o Monte dos Guararapes.
O fato da arte gráfica dos índios Wajãpi ter sido agraciada com o título de Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade reveste-se de uma importância imensa para o Brasil, porque representa o reconhecimento mundial de uma tradição cultural que não pode desaparecer.
