Em dezembro de 2003 eu via nas lojas peças de natal baratinhas, e nem essas podia comprar. Estava so´e financeiramente perdido. A viagem para a Argentina marcada de modo irreversível.
Passei com meu passaporte Espanhol pela aduana Argentina em janeiro de 2004, para viver uma experiência de autodescoberta e uma aventura humana impar.
Embora deixasse o Brasil de cabeça erguida, tendo já alguns livros com algum valor deixados aqui e tendo sempre sido um cidadão relativamente sensato e responsável, precisava achar outros elementos, como a língua espanhola, por exemplo, que me excitava sempre o espírito ao ouví-la. Senti-me em casa na Argentina, embora não fosse uma vida sem problemas. Num cassino em Córdoba, uma advogada disse-me que eu, com a minha condição ibero-americana, era "um cidadão do mundo".
A viagem foi para acrescentar e juntar peças pouco resolvidas na alma, além de lutar pela sobrevivência.
Sob o retrato de Perón e Evita, na casa em que estava hospedado, vi pela televisão em prantos uma jovem espanhola gritar, exaltada "Nós
somos o futuro dessa nação e ninguém vai nos amedrontar". No dia seguinte, milhões de espanhóis estavam nas ruas sob a chuva. Aquela jovem gritou o fundo senso de cidadania que sempre tive na alma e andava soterrado por não achar espaço. Eu sabia que a Espanha era imbatível. Com toda sua loucura, sua mística e sua beleza, a Espanha é "Madre del Mundo". Esse livro e toda essa esperiência foi vivida dentro de uma solidão singular, embora a crônica Bom Dia, Espanha! estreitasse, via internet, meus laços com outras pessoas de todo o mundo. Recebi muitas mensagens de solidariedade e pude perceber e compartilhar um momento que transcendeu a esperiência pessoal e atou-me novamente a história do mundo. Para a Espanha, para suas filhas e netas nações do continente americano, no desejo que esse livro dê uma
contribuição na experiência de ser e viajar e sentir nesses tempos de hoje.