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Artigos-->A “SANTA”(???) INQUISIÇÃO -- 18/12/2004 - 03:06 (Lauro Denis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






A “SANTA”(???) INQUISIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA







Tribunal da Igreja Católica instituído ( Oficialmente ) no século XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia, embora historiadores . A Santa ( ou seria satânica ? ) Inquisição foi fundada pelo Papa Gregório IX (1148-1241) em sua bula Excommunicamus, publicada em 1231. Heresias são doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido como matéria de fé. Na época inicial da Igreja elas eram punidas com a excomunhão. Quando no século IV o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do estado.



Embora a Inquisição tenha alcançado seu apogeu no século XIII, suas origens remontam ao século IV. A Inquisição teve princípio na França, mas não pode manter-se nesse país. Na Itália e, principalmente, na Espanha, onde tomou o nome de Santo Oficio, criou fortes raízes e tornou-se instituição poderosíssima. Não havia parte nenhuma no mundo onde os protestantes ou hereges estivessem livres para o exercício de sua fé. Partindo da Europa, muitos procuraram refúgio nas Américas do Sul e Central, o "Novo Mundo". Mas para cá também vieram os inquisidores. A inquisição em Cuba iniciou-se em 1516 sob o comando de dom Juan de Quevedo, bispo de Cuba, E nem o Brasil escapou. A Inquisição Católica se instalou no Brasil em três ocasiões: A partir de 1591, na Bahia e em Pernambuco.





Na Europa , entre o século XI e XV, as heresias são geradas principalmente pelo desenvolvimento cultural, acompanhado de prosperidade econômica e crescimento urbano. As reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimento que contradizem a concepção de mundo defendida até então pelo poder eclesiástico. Além disso, surgem movimentos cristãos, como os cátaros em Albi, e os valdenses em Lyon, no sul da França, que pregam a volta do cristianismo às origens, defendendo a necessidade de a Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de albigenses são liqüidados por exércitos papais, entre os anos de 1208 e 1229.



A Inquisição é criada dois anos depois. A responsabilidade pela ortodoxia da religião passa dos bispos aos inquisitores, sob a direta jurisdição do Papa, e são estabelecidas punições severas. As penas podem variar, desde a obrigação de fazer uma abjuração pública ou uma peregrinação a um santuário até o confisco dos bens e a prisão em cadeia. A pena mais severa é a prisão perpétua, mas as autoridades civis automaticamente a converte em execução pública na fogueira ou na forca. Os heréticos não podem recorrer ao direito de asilo, e em geral, duas testemunhas constituem suficiente prova de culpa.



Em 1252, o Papa Inocêncio IV sanciona o uso da tortura como método de obtenção da confissão de suspeitos. As condenações dos culpados são lidas numa cerimônia pública no fim dos processos. É o chamado auto-de-fé. Nos séculos XIV e XV, os tribunais da Inquisição diminuem sua atividade e são recriados sob a forma de uma Congregação da Inquisição contra os movimentos da Reforma Protestante e contra as "heresias" filosóficas e científicas saídas do Renascimento. Vítimas notórias da fogueira da Inquisição são a heroína francesa Joana D"Arc (1412-1431), executada por declarar-se mensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno (1548 ? -1600), considerado o pai da Filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais consideradas contrárias às aceitas pela Igreja.



Uma forma ainda mais violenta da Inquisição surge surge em 1478, na Espanha, a pedido dos reis católicos Fernando e Isabel, contra os judeus e muçulmanos, que são convertidos pela força ao catolicismo.



"Nunca os seres humanos se atiraram mais cegamente uns contra os outros, nunca o cristianismo se desacreditou mais frente ao mundo inteiro, como no processo contra as bruxas."





Em três séculos, a Espanha teria mais de 45 inquisidores-gerais. Em 16 anos, sob o mandato do primeiro, Torquemada, são levantados cerca de 100 mil processos, seguidos de cerca de duas mil execuções. De acordo com os números do historiador Juan Llorente, foram queimados 297 condenados em Toledo, entre 1483 e 1501; 124 em Saragoça, entre 1485 e 1502. Antes de 1530, a Inquisição de Valência, uma das mais severas, tinha instruído 2354 processos, proferido perto de duas mil sentenças, queimado em efígie 155 condenados à revelia e entregue 54 ao braço secular para aplicação da pena capital.



Os judeus são as principais vítimas. Dizimados pela peste negra e pelos motins anti-semitas de Aragão ou de Sevilha, no século XIV muitos judeus apenas encontram salvação na conversão, pelo menos aparente, à fé cristã. Chama-se-lhes conversos ou marranos e continuam a praticar clandestinamente os seus ritos. Tidos por ricos e influentes, estes criptojudaizantes depressa serão acusados de ameaçar a integridade do reino. Para os soberanos católicos de Espanha e para Torquemada, que forçaram a mão do papa a fim de reorganizar a Inquisição, os judeus são as vítimas perfeitas. Calcula-se em pelo menos dois mil o número de conversos que terão morrido em Espanha pelo fogo, e em 15 mil os que sofreram outro castigo — apreensão de bens ou prisão —, antes que, a 31 de Março de 1492, o poder régio considerasse mais eficaz expulsar de Espanha todos os judeus.







O PROCESSO DE GALILEU



Autor da fundamentação científica da teoria heliocêntrica de Copérnico, publicada em 1632, na obra Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo, o físico italiano Galileu Galilei (1564-1652) é obrigado a renegar suas descobertas em 1633, sob ameaça de excomunhão pelo Tribunal da Inquisição. Após uma nova investigação iniciada em 1979, o Papa João Paulo II reconhece, em 1992, o erro da Igreja Católica.





OS PERSEGUIDOS



a) Os Excomungados

b) Os Simoníacos

c) Quem se opuser à igreja de Roma e contestar a autoridade que ela recebeu de Deus. ( Ver Obs.)

d) Quem cometer erros na interpretação das sagradas escrituras

e) Quem criar uma nova seita ou aderir a uma seita já existente

f) Quem não aceitar a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos

g) Quem tiver opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários artigos de Fé

h) Quem duvidar da fé Cristã





Obs.: DEUS MANDAVA MATAR E TORTURAR ???!!!







AS TORTURAS



A Inquisição usava como método de obtenção de confissão a tortura, e usada em alguns casos ao extremo, levando o torturado à morte. Segundo Enry Thomas, grande historiador norte-americano, poderia ser escrito um livro somente sobre as torturas empregadas pela inquisição, embora pouco agradável. Vamos colocar apenas quatro:



"O prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por uma corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do patíbulo ou do teto da câmara de tortura, em seguida, deixava-se cair o indivíduo e travava-se o aparelho ao chegar o seu corpo a poucas polegadas do solo. Repetia-se isso várias vezes. Os cruéis carrascos, as vezes amarravam pesos nos pés das vítimas, a fim de aumentar o choque da queda."



"Depois havia a tortura pelo fogo. Colocavam-se os pés da vítima sobre carvão em brasa e espalhava-se por cima uma camada de graxa, a fim de que este combustível estalasse ao contato com o fogo."



Os inquisidores estavam ali enquanto o fogo martirizava a vítima, e incitavam-na, piedosamente, a aceitar os ensinamentos da Igreja em cujo nome ela estava sendo tratada tão delicadamente e tão misericordiosamente. Para que houvesse um contraste com a tortura pelo fogo, também praticavam a da água:



"Amarrando as mãos e os pés do prisioneiro com uma corda trancada que lhe penetrava nas carnes e nos tendões, abriam a boca da vítima a força despejando dentro dela água até que chegasse ao ponto de sufocação ou confissão."



Todas as imaginações bárbaras do espírito de Dante, quando descreveu o Inferno, foram incorporadas em máquinas reais que cauterizavam as carnes, esticavam os corpos e quebravam os ossos de todos aqueles que recusavam crer na branda misericórdia dos inquisidores. De acordo com a lei, tortura só podia ser infligida uma vez, mas essa regulamentação era burlada facilmente... quando desejavam fazer repetir a tortura, mesmo depois de um intervalo de alguns dias, infringiam a lei, não alegando que fosse uma repetição, mas simplesmente uma continuação da primeira tortura.... Esse jogo de palavras dava margem a crueldade e ao zelo desenfreado dos inquisidores.







AS MULHERES EM CHAMAS



As pilhas de lenhas e gravetos já estavam acesas e a multidão inquieta, aguardava o início do ritual que conhecia tão bem. Afinal, execuções eram espetáculos imperdíveis, que atraíam a atenção de pessoas vindas de vários cantos. Em meio ao ruído abafado dos comentários sobre os horrores que havia cometido, surgiu enfim a condenada. A turba, que já estava agitada, aproveitou para liberar a tensão reprimida: objetos, palavras de ódio, risos e piadas partiam de todas as direções contra a terrível criatura. Não houve muitas delongas. A sentença foi lida rapidamente, o carrasco, num gesto piedoso, estrangulou a condenada para que não enfrentasse as chamas viva e, em poucos minutos, seu corpo ardia, diante da aclamação selvagem da assistência. Durante mais de 300 anos, cenas como essa se tornaram corriqueiras nas praças públicas de boa parte da Europa e o caminho da fogueira se transformou no destino de milhares de mulheres. Nuas, montadas em vassouras, aterrorizando cidades, aldeias e castelos, no imaginário popular e religioso da época, as bruxas estavam por toda parte, semeando o pavor. A perversidade feminina campeava solta, a serviço dos mandos do demônio e precisava ser contida qualquer custo. De 1450 a 1750, poucas pessoas ousariam contradizer essa doutrina, repetida em tom de ameaça nos púlpitos dos pregadores católicos, assim como nos sermões protestantes depois da Reforma religiosa de Martinho Lutero no século XVI. Bruxaria era uma calamidade tão real quanto tempestades ou pestes, e intimamente ligada à natureza feminina. Com exceção de Portugal e Espanha, onde os principais perseguidos eram cristãos novos e judeus, em quase toda a Europa a porcentagem de mulheres excedeu 75% dos casos.



Em algumas localidades, como o condado de Namur (atual Bélgica), elas responderam por 90% das acusações. Estima-se que 100.000 processos foram instalados pelo continente afora e pelo menos 60.000 vidas se perderam em meio às chamas. Foi em plena Idade Moderna, a mesma que presenciou a descoberta de um novo mundo com as grandes navegações, a ascensão da burguesia comercial, o fim do domínio feudal e a formação dos primeiros Estados nacionais europeus, que o temor às forças do mal deixou o campo da crendice popular para se tornar alvo de uma perseguição sistemática de tribunais leigos, religiosos e da Inquisição, sob controle papal. Não que as fogueiras tenham sido estranhas à sociedade medieval. A Idade Média também presenciou exibições do poder purificador das chamas, a mais notável delas, sem dúvida, aquela que consumiu a vida da jovem Joana d"Arc em 30 de maio de 1431, na cidade de Rouen, então sob domínio inglês. Heroína nacional, Joana ficou famosa depois que conduziu o exército francês à vitória sobre os ingleses em Orléans e deu início à revanche de seu país na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), até aquele momento vencida fragorosamente pelos britânicos. Em 1430, quando caiu prisioneira nas mãos do duque de Borgonha, aliado ao rei inglês Henrique V, seus inimigos aproveitaram a fama das visões que ela costumava ter desde pequena para levá-la à fogueira, mesmo sabendo de sua extrema devoção religiosa. Nesse caso, porém, o cunho político da condenação era tão óbvio, que antes do final daquele século ela seria reabilitada e em 1920 finalmente transformada em santa.



Para bruxas menos famosas, no entanto, a chegada da Idade Moderna trouxe uma mudança radical na atitude da igreja e dos tribunais em relação ao universo da superstição, do paganismo e do mito com o qual, havia mais de 1500 anos, a Europa convivia. Na mitologia romana, Diana, deusa dos bosques e dos animais, já costumava guiar amazonas noturnas em cavalgadas celestes. Entre as crenças imemoriais germânicas, acreditava-se que figuras ameaçadoras, conhecidas como streghe, se reuniam na floresta em torno de caldeirões para realizar seus rituais. Depois se volatilizavam e invadiam as casas para chupar a vitalidade das crianças. Mas em meio à insegurança da aurora da modernidade, um tempo marcado por mudanças e desgraças contentes como fomes, pestes, guerras e conflitos religiosos, boa parte dessa tradição fantasiosa do passado acabou associada à certeza de que o demônio e suas seguidoras estavam determinados a dominar o mundo.



Feitiços e mulheres voadoras tornaram-se, da noite para o dia, parte de uma grande conspiração demoníaca. Encantos e ungüentos, chamados na época de maleficia, que antes serviam para ajudar as pessoas, transformavam-se em passaporte certo para a morte. Não era preciso muito para provar que a ação infernal estava em andamento. Além das tradicionais acusações de possessões diabólicas, crises políticas e sociais, calamidades naturais ou qualquer outro acontecimento anormal eram capazes de detonar a mortandade. Em Trier, na França, uma feroz epidemia de processos contra as bruxas ocorreu entre 1580 e 1599, quando duas grandes colheitas foram dizimadas por alterações climáticas. No principado alemão de Ellwagen, em 1611, em Genebra em 1530, 1545, 1571 e 1615 e em Milão, em 1630, para citar uns poucos exemplos, centenas foram condenadas à morte após um surto de peste. No século XVII, em Cambrai, também na Franca a instalação de novas indústrias no campo gerou uma onda de ansiedade entre os camponeses que logo desembocou numa grande caça. Algumas alegações contra a bruxaria eram tão descabidas, que só mesmo o clima de paranóia coletiva explicava a relação : Em 1590, depois que uma tormenta no Mar do Norte destruiu um dos navios da comitiva de Jaime VI da Escócia e de sua noiva, Ana da Dinamarca, os dois países iniciaram uma cruel perseguição a feiticeiras. As grandes caçadas vinham assim : Como tempestades de verão, chegavam avassaladoras e de surpresa, mas tinham curta duração. Quase sempre, após um período de frenética perseguição, as comunidades se aquietavam durante os anos seguintes.



Era como se tivessem se livrado de um cancro. Escritos da época registram o quase inacreditável. Na diocese italiana de Como, 1000 execuções em um ano. Em Toulouse, na França, 400 cremações são contadas em um único dia. No arcebispado francês de Trier, em 1585, 306 bruxas delataram cerca de 1500 cúmplices. Embora a maior parte das acusadas tenha escapado à morte, isso não impediu que duas aldeias da região ficassem à beira do extermínio : Sobraram apenas duas mulheres em cada uma delas. O mais impressionante é que a maior parte dessas mulheres, e mesmo dos homens, condenadas chegaram às fogueiras por confissão própria, graças à tortura. Durante esses quase três séculos de morte, conseguir uma confissão era apenas questão de tempo. Quando acontecia de o acusado resistir muito, durante uma sessão de maus tratos, isso só aumentava a convicção de culpa dos interrogadores : Afinal, tamanha resistência só podia ter por trás o auxílio de forças que não eram apenas naturais. Hoje, sabe-se que o uso indiscriminado desse instrumento macabro se confunde com o próprio mapeamento da caça às bruxas pela Europa. O predomínio do temido Tribunal de lnquisição, por exemplo, serviu para atenuar os casos de condenação à morte de bruxas nos países da Península Ibérica e na Itália. Embora tenha ficado famoso na Idade Média pela prática da tortura, na época em que começou a grande repressão européia, a partir do século XV, os inquisidores já haviam elaborado uma extensa reforma jurídica que garantia não só assistência legal aos acusados como restringia a ação dos torturados a casos muito especiais.



Na Inglaterra, onde suspeitos de bruxaria só podiam ser submetidos à tortura com autorização dos conselhos superiores de Justiça, a caça às bruxas também teve pouca expressão. Já na Alemanha, dividida em dezenas de ducados e principados independentes política e judicialmente, a caça às bruxas ganhou proporções assustadoras. Nada menos de 50% dos processos contra elas aconteceram em terras germânicas, e a maior parte resultou em morte. Às vezes, a descoberta de uma fraude conseguia evitar que a perseguição chegasse a um final dramático. Em 1633, o jovem inglês Edmund Robinson denunciou uma mulher que o teria levado a um sabá de bruxas, onde estavam reunidas cerca de sessenta feiticeiras. O menino deu o nome de dezessete delas, todas imediatamente presas e condenadas. Algumas dúvidas sobre o depoimento, no entanto, levaram o bispo de Chester a interrogar Edmund e ele acabou admitindo ter forjado a história por sugestão do pai, que havia indicado todos os nomes "por inveja, vingança e desejo de tirar vantagem"", descobriram os juízes.



Na Escócia, o ensaio de uma grande repressão nacional em 1661 entrou em colapso quando os eméritos caçadores de bruxas John Kincaid e John Dick foram flagrados dando picadas em mulheres acusadas de bruxaria : Nos tribunais, essas pequenas marcas eram a prova de que elas haviam feito pacto com o diabo. Foram poucas, porém, as caças detidas por evidência de fraudes. Normalmente, quando uma perseguição se instalava, nada conseguia detê-la e o pânico tomava conta da população. A princípio, todos estavam sob suspeita e a melhor defesa era o ataque. Uma vez iniciada a caça, delações não paravam mais.



Assustadas com a perseguição, multas pessoas logo se punham a entregar as vizinhas na tentativa de livrar a própria pele de potenciais acusações. Cada possível bruxa levada a julgamento, por sua vez, não tardava a incriminar mais uma lista de acusadas num efeito dominó que levava grandes levas de pessoas diante dos juízes. Cenas e relatos como esses não só foram realidade como contavam com uma robusta fundamentação teórica de uma obra sinistra. Publicado em 1486, o livro Malleus Maleficarum, escrito pelos inquisidores papais alemães Heinrich Kramer e James Sprenger, foi um eficaz instrumento nos tribunais para consolidar a crença de que uma grande conspiração arquitetada por Satã e suas seguidoras, as bruxas, tomava conta do mundo. Até o final do século XV, o manual já era um best seller, recordista absoluto entre qualquer livro anterior ou posterior sobre demonologia, com mais de uma dúzia de edições.



Na detalhada obra, que explicava desde os feitiços mais comumente praticados até como localizar a presença das malignas criaturas no seio da sociedade, Kramer e Sprenger não pouparam esforços para mostrar que a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente. O velho temor católico de monges e padres celibatários estava mais forte do que nunca. "A perfídia é mais encontrada nas pessoas do sexo frágil do que nos homens" garantiam os dois. Bruxas eram o mal total : Renunciavam ao batismo, dedicavam seus corpos e almas ao demônio e, suprema lascívia, costumavam manter relações sexuais com ele. Principalmente durante os sabás, reuniões em que as forças do mal se reuniam para banquetear-se com criancinhas não batizadas e que sempre terminavam em fabulosas orgias. Testemunhos da época davam notícia de sabás reunindo até 1.000 bruxas.



Para provar a propensão natural da mulher à maldade, não faltavam argumentos aos autores do Malleus. A começar por "uma falha" na formação da primeira mulher, por ser ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela no peito, cuja curvatura é, por assim dizer contrária à retidão do homem. A própria etimologia da palavra feminina confirmava essa fraqueza original : Segundo eles, femina, em latim, reunia em sua formação as palavras fide e minus, o que quer dizer menos fé. Defender idéias assim não era exclusividade dos dois inquisidores alemães. A aversão à mulher como ser mais fraco e, portanto, mais propenso a sucumbir à tentação diabólica era moeda corrente em todas as regiões da Europa - dos pequenos vilarejos camponeses aos grandes centros urbanos. Nos sermões de padres por toda a Europa, proliferava a concepção de que a bruxaria estava ligada à cobiça carnal insaciável do "sexo frágil", que não conhece limites para satisfazer seus prazeres. Com seu "furor uterino", para o homem a mulher era uma armadilha fatal, que podia levá-lo à destruição, impedindo-o de seguir sua vida tranqüilamente e de estar em paz com sua espiritualidade.



O clima de desconfiança em relação às mulheres teve também predileções profissionais. Quando não era o caso de grandes perseguições orquestradas para expurgar males como a peste, certos ofícios tipicamente femininos tinham precedência na lista de denúncias. Curandeiras, vitais para uma sociedade onde a medicina ainda era uma ciência incipiente, tornavam-se herejes e apóstatas da noite para o dia. Cozinheiras também viviam sob constante desconfiança, assim como as parteiras. Acusadas freqüentemente de batizar os recém-nascidos em nome do diabo ou de matá-los para usar seus corpos em rituais, elas foram vítimas de anos de suspeita acumulada, numa época em que a taxa de mortalidade infantil era altíssima Em 1587, a parteira alemã Walpurga Hausmannin, foi processada por ter causado a morte de quarenta crianças, algumas com até 12 anos. Entre os métodos que ela empregava, estavam o estrangulamento, esmagamento de cérebro da criança no parto e aplicação de "um ungüento do diabo sobre a placenta", de modo que a mãe e a criança morressem juntas. Seu destino foi a fogueira. O mesmo de uma parteira húngara, que em 1728 conseguiu uma marca duvidosa, mas perfeitamente factível para seus contemporâneos : Ela morreu queimada por ter batizado nada menos do que 2000 crianças em nome do demônio. Para quem se acostumou a relacionar a figura das bruxas a personagens pitorescas de contos da carochinha, como a madrasta de Branca de Neve ou a fada malvada de Cinderela, às vezes fica difícil acreditar em histórias assim. Mas elas existiram e deixaram em seu rastro uma cruel realidade da morte de milhares de mulheres inocentes em fogueiras piamente acesas para limpar o mundo.



A identidade com o pecado original, principalmente na história do cristianismo católico, foi um fardo pesado para a mulher até o século XVII.



Desde os primeiros eremitas cristãos, nos desertos da Síria é do Egito, a busca da austeridade religiosa pelo isolamento ascético tornou-se não só uma regra obrigatória para o aprimoramento espiritual, mas também consagrou o papel da mulher como a principal tentação mundana, capaz de afastar o homem do caminho da purificação. Uma norma que, na Europa, começaria a se consagrar a partir do século VI, quando São Bento de Nursia fundou o mosteiro de Monte Cassino, na Itália, e deu início ao movimento monástico beneditino, que marcaria profundamente a atitude religiosa do continente.











João Paulo II Pede Perdão pelos Pecados dos Fiéis, mas Desculpa a Igreja





CIDADE DO VATICANO (Reuters) -- Em uma das mais expressivas atitudes de seu papado, João Paulo II pediu perdão, neste domingo, pelos muitos pecados cometidos no passado pela Igreja Católica, inclusive em relação a fiéis de outras religiões.



"Nós perdoamos e pedimos perdão", declarou o papa durante a homilia de uma cerimônia inédita realizada na Basílica de São Pedro.



"Pedimos perdão pelas divisões entre os cristãos, pelo uso da violência que alguns cristãos empregaram em nome da fé e pelo comportamento de desconfiança e hostilidade algumas vezes adotado em relação a seguidores de outras religiões", acrescentou. A frase "violência em nome da fé" foi uma referência freqüentemente usada para o tratamento dispensado aos hereges durante a Santa Inquisição, as Cruzadas e a conversão forçada ao catolicismo.



"Pelo papel que cada um de nós teve, contribuindo para a distorção da face da Igreja, nós humildemente pedimos perdão", disse o papa. Em um outro momento da missa, que marcou o "Dia do Perdão" no Ano Santo dos católicos -- os 2000 anos do nascimento de Cristo --, João Paulo II e seus principais assessores pediram perdão por pecados específicos contra judeus, mulheres, outros cristãos e grupos étnicos.



Por várias vezes, o papa afirmou que os católicos deveriam ver o início do milênio como uma chance ideal para procurar o perdão pelos pecados do passado, inclusive aqueles da igreja como uma comunidade.



João Paulo II classificou essa iniciativa como uma "purificação da memória", necessária para que a igreja avance. O papa disse, ainda, que os cristãos estão preparados para perdoar o próximo por abusos sofridos ao longo dos séculos. Esta foi a primeira vez na história da Igreja Católica que um de seus líderes fez um reconhecimento tão veemente dos pecados cometidos em nome da fé.



O pedido de perdão, porém, abrangeu não apenas os pecados ocorridos na Idade Média, mas também na história mais recente. Ainda que veladamente, João Paulo II admitiu a omissão da Igreja durante o Holocausto.



O papa, porém, não se referiu à igreja como a perpetradora dos pecados, mas sim seus fiéis, que agiam em nome da fé.







Fontes :



1) http://www.cnnbrasil.com/2000/mundo/europa/03/12/papa5.reut/index.html





2) http://marged.vila.bol.com.br/inquisicao.html













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