BÓIA-FRIA
Bóia-fria, sabem, é o trabalhador que leva comida de casa para comer no local do trabalho.
Há muitos desses na atividade agrícola: cortadores de cana, apanhadores de frutos...
Os anônimos bóias-frias são fracos em renda, mas são fortes em tolerância: suportar privação e sofrimento. Fazer o quê?
Wanderley Cordeiro de Lima foi um desses. Agora é maratonista com medalha, de bronze, mas poderia ser de ouro, não houvesse sido barrado, conforme é do conhecimento geral. Famoso e admirado, revelou-se, sobretudo, um caráter de valor.
O inusitado da intrusão provocou sentimentos de impotência e frustração nos telespectadores.
A ocasião faz o homem, diz-se; faz não, revela!, seria melhor dizer.
O comportamento de Wanderley deu uma amostragem da índole do brasileiro: pacífico, tolerante, compreensivo. Pretendeu dar seu buquê ao intruso.
A imprensa divulga haver muita violência no Brasil.
A miséria empurra muita gente para a criminalidade e/ou para a mendicância.
Admira-me não haver ainda mais criminalidade e/ou mendicância, ante a grandeza da miséria; enquanto isso os meios de comunicação: "compre isto, compre aquilo..." Quanto mais eficaz a propaganda, maior a sensação de privação do pobre.
Pergunta-se: Que forças impedem este país de subir ao pódio do desenvolvimento social e econômico?
Há impedimentos internos e externos. Os meios de comunicação talvez pudessem nos ajudar a conhecê-los; o discernimento e o empenho de todos e de cada um os poderiam coibir. Há homens por trás, usufruindo de um consumismo máximo. Entre esses não há bóias-frias.
Diógenes Pereira de Araújo
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