O presidente da República brada “É exportar ou morrer” a uma platéia com a nata do empresariado brasileiro. E eu, às margens do riacho do Ipiranga, rogo: “Vamos exportar o Fernando Henrique”. Será bom pra nós e para eles. O produto tem mercado em Petropavlovsk, no extremo oriente da Federação Russa, na Terra de Ellsworth, na Antártica Ocidental, em qualquer duna do deserto do Saara, no elo perdido e, se lhe convier, na tonga da milonga do cabuletê. Na embalagem, blindada para evitar a erosão e torná-la mais chique, listaremos as virtudes do Fernando Henrique Cardoso.
FHC2 é o exemplo da generosidade. Não pode ver banqueiros em apuros. Transforma-se na cavalaria. Faz vaquinha, reza novena e cria o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer). Este se tornou o maior programa social do seu governo. Regados a mais de 20 bilhões de reais, foram salvos e ressarcidos os proprietários, controladores e amigos das instituições filantrópicas do porte dos bancos Nacional, Econômico, Bamerindus, Marka e Fonte-Cidam, entre tantos. Se facilitar, até banco da praça receberá auxílio. Dependerá de quem estiver sentado. O sociólogo ainda será imortalizado na história brasileira como a Madre Teresa de Calcutá do sistema financeiro.
Além de pródigo, Fernando Henrique II também é solidário. Ajuda amigos, conhecidos e estranhos sem distinção. Em 1997 conseguiu a aprovação da emenda constitucional da reeleição a cargos executivos graças ao seu espírito camarada. O falecido companheiro Sérgio Motta, na época ministro das Comunicações, convenceu deputados renitentes, indecisos e famintos a respaldar a proposta do Planalto. Foi fácil. Bastou lembrar a solidariedade de FH, apresentar a lista dos parlamentares devedores do Banco Central e brindar alguns com um agradinho de R$ 200 mil. Nos últimos tempos Fernandinho tem modificado a estratégia. Demonstra sua benevolência com liberações-relâmpago de verbas a desconhecidos e compadres. Tudo para evitar CPIs.
O único inconveniente para os importadores e consumidores é o marido da Ruth Cardoso resolver exercitar a lábia e discorrer sobre compra de votos, favorecimento de empresas norte-americanas no caso do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), a pasta cor-de-rosa e os documentos comprometedores, as desvalorizações abruptas do real para beneficiar banqueiros e investidores, as escutas telefônicas dos diálogos às vésperas e pós-privatizações, a releitura da sua obra A política e desenvolvimento em sociedades dependentes: ideologias do empresariado industrial argentino e brasileiro e ainda querer explicar clamores tolos como “É exportar ou morrer”. Será dose. Mas uma providencial drágea de sonífero o deixará mais tranqüilo que gato de armazém de beira de estrada esparramado em um saco de farinha. Um mimo.
Álvaro Larangeira
Jornalista e doutorando em Comunicação Social//PUCRS