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Artigos-->BATUCADA DA VIDA - 6 -- 20/07/2004 - 13:35 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Anja sabia que tinha partido o coração de Tico, mas era melhor assim, do que ficar alimentando fantasias que poderiam feri-lo muito mais.

Desde que ela viu o cabo Anselmo pela primeira vez, experimentou uma sensação especial em seu viver. Por um breve instante ela sentiu felicidade.

Seu coração bateu mais forte por aquele homem que tinha sorriso fácil e um jeito brejeiro, e que ao perceber sua emoção, soube falar-lhe direto ao coração, do jeito que as mulheres gostam.

Anselmo era noivo, e não tinha como esconder tal fato, pois mais de uma vez Anja encontrou-o na rua com a moça que ele prometera desposar.

Mas as coisas eram muito simples na cabeça de Anselmo, que rapidamente conquistou a simpatia do Torca, e tanto fazia se estivesse de serviço ou de folga, sempre aparecia no boteco para tomar uma folha podre ou um jiló, como chamavam as cachaças de infusão que Torquato preparava para seus fregueses.

Nessas visitas, ele não deixava por menos. Fazia a corte escancaradamente para Anja, que se desmanchava toda com os galanteios e os carinhos que o rapaz lhe fazia.

Não demorou muito e Anselmo seduziu a garota, levando-a para uma casa de tolerância, onde alugou um quarto por algumas horas, para manter com ela relações sexuais sem qualquer tipo de preconceito, o que ele não conseguia com sua noiva.

O fato de Anja não ser mais virgem, parecia não incomoda-lo, mas machista como era, sempre que estava numa roda de amigos, deixava claro que somente se casaria com uma mulher zero kilômetro, o que deixava Anja para a condição de filial.

A moça, mesmo sabedora dessas coisas, preferia se iludir, pois era mais fácil achar-se amada do que usada. Não que Anselmo não a amasse, mas do jeito dele, sem ter que assumir compromissos.

Ele era cuidadoso para não engravida-la, numa época em que esse tipo de coisa ainda era tabu, cuidava para que ela usasse pílulas anticoncepcionais.

Torquato a advertira diversas vezes que era melhor ela procurar uma pessoa disposta a assumi-la. Uma pessoa de bem, como o Tico. embora ele não tivesse nada, tinha caráter, e um bom coração. Anselmo somente queria se divertir com ela, e esse relacionamento não levaria a nada.

- Se você fosse filha da Bartira de verdade, eu diria que você herdou dela essa cabeça dura. Dizia Torquato sempre que o assunto entre ele e Anja era sobre o Anselmo.

Naquela tarde Torquato não fizera outra coisa senão dormir. Bebera a manhã toda e não agüentou ficar acordado até o momento de fechar o bar. O movimento atipicamente fraco fizera com que ele decidisse se recolher mais cedo. Bartira ficou tomando conta do negócio, e depois que despachara Tico, começou a fechar o estabelecimento, para também ir dormir.

Foi quando Anselmo retornou, desta vez sozinho, e pediu para que ela deixasse ele entrar, pois precisava falar-lhe.

Ela hesitava, pois Torquato estava dormindo e não gostava de estranhos no boteco depois de fechado, mas como Anselmo insistisse muito, ela por fim cedeu.

Ele começou a envolve-la, tanto na conversa macia quanto nos abraços e beijos, até deixa-la no ponto de abate.

Uma vez era pouco, e não foi satisfatório, Anselmo queria mais dela, e haveria de conseguir tudo naquela terça-feira de carnaval.

Não adiantou nada Anja esboçar alguma resistência, pois ela mesma queria muito aquele homem, e não via porque resistir mais. Entregou-se finalmente, mais uma vez, cedendo às fantasias do policial, que a levou para a cama, no quarto que era contíguo ao de Torca.

Fornicaram a noite toda, tomando cuidado para se manterem silenciosos, de modo a não acordar o dono do boteco, que roncava alto.

Quando Anselmo se decidiu ir embora, Anja parecia querer pedir-lhe que ficasse, que ficasse com ela, mas as palavras não saiam de sua boca, quando ele virou-se e disse:

- Essa foi a saideira, pelo menos por enquanto, pois vou me casar no sábado e não poderei vir te ver por algum tempo, até o assanho de recém-casada de minha mulher se aplacar.

Aquelas palavras machucaram Anja, que começou a chorar e se amuou num canto da cama, com a cabeça entre os joelhos.

Anselmo pediu-lhe a chave, pois o Torquato poderia acordar a qualquer instante e não gostaria de encontra-lo ali.

Ela lhe deu a chave, e não se moveu do seu canto.

Quando Anselmo estava a destrancar a porta, Torquato levantou atordoado, acreditando tratar-se de um ladrão, e de posse de uma arma, começou a atirar, sem porém acertar o alvo.

Anselmo abaixou-se, sacou sua arma e atirou certeiro no coração do velho, que estrebuchou atrás do balcão, enquanto Anja, ao ouvir os tiros saiu do quarto gritando, mas não foi rápida o suficiente para impedir a tragédia. Encontrando o corpo de Torca ensangüentado, atirou-se sobre ele, como a querer salva-lo, mas já era tarde.

Anselmo, confuso, tratou de se retirar dali, enquanto moradores começavam a chegar, para acudir aos gritos da garota, agra desconsolada ao lado do "padrinho" morto.

O rabecão veio retirar o corpo quando já amanhecia.

Anja deu seu relato aos policiais, informando terem sido assaltados, quando Torca reagiu e foi morto pelos ladrões.

Depois de liberada ela seguiu para o Instituto Médico Legal, que funcionava ali perto, no velho prédio da faculdade de medicina, perto do Pelourinho.

Era facilmente identificável pelo forte odor de cadáveres em decomposição, que não poucas vezes invadia a rua, indignando moradores e passantes.

Ela recolhera todas as economias de Torca, visando lhe dar um funeral digno, mas um dos agentes funerários que ficavam quais urubus em carniça, cercando o necrotério, aproveitou-se da jovem meio confusa e, tomando todo seu dinheiro, desapareceu. Torquato teve um enterro de indigente, num canto qualquer do cemitério das Quintas dos Lázaros, debruçado sobre uma favela. Do outro lado do muro, mausoléus ricos e requintados, como se a podridão dos mortos pudesse diferir daqueles palácios lúgubres ou das covas rasas, que os cachorros cavavam para fazer dos defuntos enterrados sem caixão, uma refeição ligeira antes que os coveiros os espantassem, isso quando o faziam.



Continua...





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