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Artigos-->Brizola: o Noriega de Carazinho -- 24/06/2004 - 16:22 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Noriega-Brizola



Sebastião Nery



Tribuna da Imprensa – setembro de 1988



1. SALVADOR. Na semana passada, em Brasília, fui jantar em casa de uns amigos e lá encontrei um grupo de importantes oficiais da ativa do Exército: generais, coronéis, majores. A conversa começou pelas eleições deste ano, passou para a sucessão presidencial e daí a pouco estava na gravíssima e dramática penetração do tráfico internacional de drogas no Brasil e sua ligação com políticos brasileiros. De repente me vi dentro de uma sabatina. Eles queriam saber qual a verdadeira medida da ligação de Brizola com o crime organizado no Rio: jogo do bicho, cocaína, ferro-velho, ouro fundido, prostituição, etc Entrei na madrugada fazendo uma análise minuciosa, detalhada, do problema e mostrando como Brizola substituiu conscientemente, estratégicamente, a representação política nas favelas e subúrbios do Rio, tirando os velhos líderes tradicionais do fisiologismo chaguista, que trocavam votos por empregos, assistencialismo, força política e pondo no lugar deles os poderosos chefes do tráfico de drogas que Brizola chama de “cinturão popular para derrotar as elites urbanas”.



2. MILITARES – Os oficiais do Exército ficaram perplexos. Eles tinham dados, conheciam os fatos, estavam preocupados, mas ainda não tinham feito uma análise política e sociológica do processo. Mostrei-lhes que o poder político sempre foi uma transferência de representação. No interior, no Nordeste, os coronéis são o braço social e político do poder estadual. Os governadores governam ainda hoje através dos líderes do interior, muitos deles de tradicionais famílias. Comandam pelo assistencialismo, pelo fisiologismo, pela troca de voto por poder administrativo. É um velho vicio do concentrado poder político do país. Mas de qualquer forma esses “coronéis” são legais, representam suas comunidades, defendem a seu modo os interesses da população, conseguem estradas, escolas, melhorias e empregos públicos. Nas grandes cidades, os coronéis são de famílias ou líderes que dominam tradicionalmente os subúrbios, as favelas. No Rio, eram ou são os Mesquita em Jacarepaguá, os Fernandes em Santo Cristo, Jorge Leite em Madureira, Armando Fonseca na Rocinha, etc Um método antigo e viciado de fazer política. Mas, de qualquer forma legal, eles se elegiam ou mandavam representantes para a Câmara de Vereadores, para a Assembléia, para a Câmara Federal.



3. BRIZOLA – Os oficiais do Exército tinham ouvido o galo cantar, mas não sabiam bem onde, Mostrei-lhes que, na medida em que Brizola substituiu esses “coronéis urbanos” tradicionais pelos chefes do tráfico de drogas nas 454 favelas do Rio, ele criou um “exército marginal” para comandar seu “cinturão popular” em torno da cidade. É que, no primeiro instante de uma convulsão social que não está longe de acontecer, não seriam os partidos políticos, a Igreja, ou quaisquer lideranças legais que iriam comandar ou controlar a explosão. Seriam inevitavelmente os chefes da droga, porque são eles que tem armas, dinheiro, ligações com autoridades, força, portanto poder sobre os mais de 2 milhões de favelados e mais de 2 milhões de moradores das periferias pobres, é o “exército brizolista”. Não é mais o ilegal “Clube dos Onze” de 1963. É o marginal “Clube dos 454” de hoje. E uma estrutura dessas não se monta trocando flores. É negociando poder ou dinheiro. Daí é que vem toda essa fantástica “caixinha” que Brizola faz em nome do PDT para tentar comprar a presidência da República. Até agora ele aplicou o dinheiro em terras no Uruguai e nas suas gordas contas bancárias de Montevidéu e Nova Iorque. Mas, na hora em que a campanha esquentar, ele vai “desovar” esse “dinheiro sujo”.



4. GABEIRA – Na saída do jantar, já madrugada, um dos oficiais me chamou a um canto e perguntou nervoso: “Nery, será que você não está exagerando? Será que o Brizola e o PDT do Rio têm mesmo esse acordo, essa associação, essa aliança com o tráfico de drogas e o crime organizado?” Eu lhe disse apenas duas coisas: “Coronel, ponho minha mão sobre a bíblia e lhe asseguro que, diante de Brizola, Maluf é uma menina de primeira comunhão. E mais. Lembre-se da declaração de Gabeira, poucos dias atrás. Gabeira é um dos intelectuais mais brilhantes, mais lúcidos, mais capazes e mais profundamente partici-pantes que o país tem hoje. Ele disse que o poder militar do Comando Vermelho, da Falange Vermelha, do tráfico de drogas no Rio, é muito maior do que toda a luta armada dos anos 70 contra os governos militares. E este é um exército marginal à disposição de Brizola. O coronel me perguntou se eu estava disposto a discutir esse assunto mais profundamente, outra hora. Disse-lhe que estava, contanto que fosse em público, em um auditório. Não sei se ele dormiu aquela noite. Mas certamente acordou em pânico, Domingo, com a magnífica denuncia de Roni Lima, no Jornal do Brasil: “Comando Vermelho abre morros para Marcelo Alencar”.



5. JORNAL DO BRASIL – Logo no Domingo um dos oficiais presentes ao jantar telefona para minha casa em Brasília (eu já estava aqui em Salvador), não me encontra e depois diz a um amigo meu que não era possível que, no jantar de quarta-feira, eu já não soubesse da matéria que o Jornal do Brasil publicaria Domingo, porque antecipei todos os dados e fatos. O que me impressionou sobretudo foi os traficantes terem fechado as favelas para todos os outros candidatos, com exceção do candidato do PDT, terem recebido a bala e corrido do morro de São Carlos, no Catumbi, o candidato do PTB, deputado Roberto Jefersson, e todas as ordens estarem sendo dadas a partir dos presídios onde estão Escadinha e outros líderes do Comando Vermelho, da Falange Vermelha através de bilhetes de “torpedos”. E o oficial perguntou a este amigo meu: “Será que não vai ser feita uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal ou Senado para apurar isso? Onde estão os partidos e seus líderes”?



6. ARTUR DA TÁVOLA – Foi perfeita a reação de Artur da Távola: “Marcello Alencar é o candidato dos bandidos. A notícia do Jornal do Brasil atesta a aliança entre o jogo do bicho, o tóxico e os pedetistas”. E Marcello Alencar, com aquela tremenda cara-de-pau tombando como garrafa vazia, passou recibo: “Vou ter os votos dos bandidos mas terei também votos das polícias civil e militar”. O Roni Lima, do JB, tem razão: “Essa aproximação de políticos com os cada vez mais armados e organizados traficantes dos morros é pelo oportunismo eleitoral. Não existe nenhuma favela do Rio se organizando sem o aval do tráfico, atesta o funcionário da prefeitura. Fingir que os caras não existem é chumbo grosso”.



7. NORIEGA – Quem assistiu o debate entre os dois candidatos a presidência dos EUA, Bush e Dukakis, ouviu bem quando Dukakis acusou o governo Reagan “por suas relações com o general Noriega, o ditador panamenho, traficante de droga”. Aqui no Brasil é muito pior. Um candidato a presidência da República é o próprio Noriega nacional, o Noriega Brizola que faz ele próprio o seu partido, aliança com o crime organizado. Engane-se quem quiser. Seja estúpido quem for. Mas a esta altura ninguém mais tem direito, no país, de dizer que não sabe, não viu, não lhe contaram, que os candidatos do PDT são os candidatos do tráfico de drogas, que Brizola é o candidato à presidência do “cartel Medelin” nacional, já está denunciado, mostrado, provado. Os ilustres oficiais da ativa do Exército do jantar da semana passada em Brasília já não tem o direito de se mostrarem surpresos, perplexos, com a audácia de Brizola, o único político brasileiro importante que já teve coragem de fazer alianças e engordar sua caixinha com o crime organizado todo. Até aqui, o mais que ousavam era fazer pactos com o jogo do bicho. Brizola joga pesado com os traficantes de drogas, como disse Artur da Távola, ele e o PDT foram os primeiros.



8. E O EXËRCITO – As Forças Armadas lutaram desde o primeiro dia da Constituinte para manterem, na Constituição, seu privilégio de responsáveis e fiadores da ordem interna. O que é ordem interna? Será que a ordem interna é apenas a greve dos trabalhadores empobrecidos e explorados por uma política econômico-financeira criminosa? Será que a ordem interna é apenas a luta do povo brasileiro em defesa dos interesses nacionais negociados, retalhados, vendidos nos açougues dos banqueiros internacionais pelos Mailson Nóbrega da vida? Será que a entrega do poder político a o tráfico de drogas nas favelas e periferias das grandes cidades não é problema de ordem interna? Como imaginar que possa chegar à presidência da República um Noriega nacional publicamente aliado, conluiado, associado, ele e seu partido, com os bandidos do tóxico? Não podemos entregar a Nação ao Noriega de Carazinho.









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