As tabelas reunidas na publicação – e no CD-ROM – proporcionam uma ampla visão da área cultural ao longo do século XX. Há indicadores sobre o número de bibliotecas, museus e arquivos cinemas, teatros, livrarias, bom como sobre os empreendimentos e setores mais rentáveis da indústria cultural no País: gráficas e editoras, jornais e periódicos, estações de rádio e televisão etc. Também há dados sobre a distribuição de verbas ao ensino e à cultura em todos os estados – que, por muito tempo, priorizaram a então capital federal.
Ópera e Artes Plásticas
Um exemplo interessante são os dados referentes às temporadas de ópera, na cidade do Rio de Janeiro, entre 1910 e 1936. Eles mostram que o Teatro Municipal abrigou, no período, nada menos que 696 espetáculos líricos. Os primeiros anos da década de 20 foram o apogeu da atividade operística na então capital federal, com o recorde de 73 performances em 1920. Há forte predominância do repertório italiano (quase 60% do total de espetáculos), sendo Aída, com 45 encenações diferentes, a ópera mais montada, seguida de Rigoleto (41 montagens).
Quanto aos salões nacionais de belas artes, as tabelas contidas na publicação sobre os anos de 1934 a 1936 apontam uma presença expressiva de mulheres: em torno de um quarto dos artistas concorrentes. Mas elas se saíam tão bem em matéria de produção artística que conquistaram no Salão uma quota de prêmios superior ao percentual de sua presença (32%). As tabelas trazem as quantidades de trabalhos expostos e de artistas premiados, segundo o sexo e a nacionalidade. Algumas tabelas mostram que no início da década de 1930 a cidade do Rio de Janeiro abrigava os mais importantes acervos históricos e artísticos do País. No final da década de 1940, São Paulo reunia quase um quarto dos museus brasileiros, atraindo 48% do total de usuários de museus. O Rio de Janeiro, então Distrito Federal, recebia 28% deles.
Cinema e Teatro
Dados de 1936 já evidenciam a presença avassaladora do cinema norte-americano. Dos EUA vinham 65% dos filmes exibidos, enquanto a produção nacional detinha a segunda posição no mercado (26%). No começo das décadas de 1950 e 1960, os filmes nacionais passam a representar 32% do total distribuído.
No teatro, a situação se inverte: no início da década de 1950, havia uma proporção de três autores dramáticos nacionais para cada estrangeiro encenado. Mais tarde podemos observar o mesmo nos casos do rádio e da televisão aberta, onde a produção nacional foi sempre muito mais elevada do que a importada, correspondendo quase sempre em torno de três quartos das horas semanais desde fins da década de 1970.
Em 1954, São Paulo e Distrito Federal, as duas principais praças para espetáculos de teatro, contribuíam com 76% das representações. Apesar de a cidade do Rio de Janeiro possuir apenas 5% das casas de espetáculo, o contingente de espectadores de teatro no Rio e em São Paulo era equivalente. No caso do cinema, a audiência paulista era o dobro da carioca. Já, segundo dados de 1970, o público carioca de concertos de música erudita superava o paulista.
Livros e periódicos
As informações mostram a concentração de bibliotecas, museus e arquivos no eixo Rio - São Paulo.
Em 1937, em termos nacionais, os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais, nessa ordem, reuniam 55% das bibliotecas existentes. No final da década de 1950, São Paulo assume a liderança, onde se mantém de 1955 a 1964. No entanto, o tamanho dos acervos paulistas se equiparava aos do Rio de Janeiro, cuja Biblioteca Nacional abriga o maior acervo de livros do País.
No caso da edição de livros, a região Sul/Sudeste, liderada por São Paulo, reunia, em 1936, quase 60% das editoras em operação no Brasil. A publicação traz tabelas sobre os livros editados, segundo os assuntos, as unidades da federação e as respectivas tiragens. Os dados revelam que em 1970 houve uma ampliação da dependência da atividade empresarial dos livros didáticos e manuais escolares, os quais, em conjunto, foram responsáveis por 38% dos títulos em primeira edição em termos de tiragem. Outra tabela indica que, em 1972, a quantidade de obras traduzidas respondia por 27% dos lançamentos.
Em relação aos periódicos, na primeira metade da década de 1930, os jornais não diários constituíam 64% do total. Em 1945, São Paulo e Rio de Janeiro (Distrito Federal) eram responsáveis por 55% dessas publicações. Eram editados no Rio oito dos nove periódicos com tiragem superior a 100.000 exemplares (o outro de São Paulo) e 13 dos 21 periódicos com tiragem na faixa de 50 mil a 100 mil exemplares (Em São Paulo havia sete nessa faixa). Dez anos depois, Minas Gerais, com 13% dos periódicos, e Rio Grande do Sul (8%) ganharam espaço, e a participação de São Paulo e Distrito Federal caiu para 45%. A publicação traz tabelas com números dos periódicos por tipo, segundo as principais características (noticioso, humorístico, esportivo, Estatísticas do século XX religioso, etc.).
Rádios e TVs
As mudanças tecnológicas na década de 1930 – como a introdução dos rádios de válvula – impulsionaram o crescimento do público ouvinte e ampliaram o número de estações. Em 1937, mais da metade das 63 estações de rádio havia sido instalada nos três anos precedentes. A expansão acelerada persiste na década seguintes, alcançando 11 estações, sendo que 58% das novas emissoras foram criadas entre 1936 e 1945. A capital paulista e outras cidades do interior de São Paulo abrigavam 45% das estações brasileiras. O Rio de Janeiro tinha 13 emissoras, incluindo a Rádio Nacional, líder de audiência. Tanto o poder federal como alguns governos estaduais controlavam emissoras de grande impacto de audiência. Em 1960, o País já possuía 735 emissoras de rádio, incluindo as primeiras 10 estações de freqüência modulada, e 15 emissoras de televisão. Dez anos depois, o número de estações de rádio pulou para 1004 e a cobertura televisiva estava a cargo de 63 emissoras.
Sobre as estações de rádio, são apresentadas tabelas detalhadas, com número de empresas e estações em funcionamento, instalações, pessoal ocupado por funções, número de horas de irradiação e até classes de ondas. Há tabelas, por unidades da federação, sobre televisão, rádio e imprensa, incluindo os jornais editados em língua estrangeira.
Verbas públicas
A publicação traz, ainda, várias tabelas, com dados nacionais e por estado, sobre as despesas públicas com o ensino e a cultura. Podemos observar que a distribuição de verbas sempre foi desigual, mesmo entre os pólos culturais. Na primeira metade da década de 1930, por exemplo, o poder público central garantia a totalidade dos recursos concedidos ao ensino superior e à manutenção de entidades culturais no Rio de Janeiro, capital do País. A União desembolsava no Distrito Federal 85% de todas as subvenções para manutenção de estabelecimentos públicos de ensino superior.
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