Assisti recentemente um filme sobre a juventude do mito “Che Guevara” numa sessão de cinema de arte, em Fortaleza, onde ao seu final havia a proposta de um debate sobre o filme. De fato, ao final da sessão, cinco debatedores foram apresentados à platéia, um professor de história, um representante da Comissão de Anistia do Ceará e duas professoras, todos universitários, que fizeram questão de se dizerem militantes socialistas.
A cada um deles foi dada a palavra. Aí o que se viu foi uma torrente de elogios à revolução cubana, do papel do “Che” na luta, das maravilhas do governo cubano. Até, sobre uma saudosa visita da mãe do mito em Fortaleza, falou-se à exaustão. Sobre o tema do filme, nada, apenas o historiador tocou levemente no assunto. Muitos da platéia começaram a sair. Quando os demais renitentes, entre eles eu, também já ameaçavam abandonar o recinto. Resolveram iniciar o debate. Fui o primeiro a formular uma pergunta. A seguinte: “Pelo que se viu no filme, Guevara foi uma pessoa de elevado espírito libertário, poético, humanista, misericordioso, um emérito tratador e salvador de vidas alheias, sendo médico.
No filme, ele diz: “que não foi militar porque não aceitaria limpar as botas de ninguém”. Fundamentando-se nesse perfil, se Che Guevara continuasse vivo, será que apoiaria a ditadura militar imposta pelo Comandante Fidel Castro, durante esses 43 anos, de perseguições e fuzilamentos à opositores políticos e intelectuais? A resposta inicial foi um enorme silêncio. Depois o professor disse que somente uma pitonisa poderia adivinhar qual seria o comportamento do grande mito. Aí repliquei, encontrando inspiração nas palavras do poeta/cantor Arnaldo Antunes, ex-Titãs, dizendo-lhe: que o homem não só quer comida, pão e água, o homem quer, essencialmente, liberdade política, econômica e de expressão. Novo silêncio. A partir daí, só se falou do filme. Fim.