Discordamos do ministro Palocci quando, na esteira de Lênin, afirma que o esquerdismo é uma doença infantil. No Brasil, essa noção anacrônica de reforma socialista ou, como preferem os radicais, de revolução permanente, tem sido uma doença endêmica que constitui o cerne de todo o mal que nos mantém neste atraso contínuo, em relação aos desenvolvidos países verdadeiramente capitalistas e autenticamente liberais.
O esquerdismo é, na verdade, uma moléstia grave, extremamente grave. Enquanto ainda tivermos parcelas significativas da elite acadêmica e da Igreja Católica hipnotizadas pelos furúnculos de Marx, continuaremos a observar o resto do mundo desfilar à nossa porta a caminho da prosperidade, enquanto nós marchamos para trás, rumo ao estatismo, à planificação econômica, ao centralismo ineficaz dos sistemas únicos , à primazia dos interesses do governo sobre os da sociedade, à substituição da livre iniciativa pela ação cobiçosa da oligarquia de um comissariado ávido por nossa produção de bens, pelos cargos fisiológicos e, sobretudo, pela renda nacional.
O chamado abril vermelho expõe as contradições da permissiva administração petista. A Presidência tem sido exercida, de fato, por José Dirceu, que usa, como fachada, a aura operária de um Lula da Silva visivelmente incapaz de sequer compreender a complexidade do cenário político-estratégico onde se insere o Brasil. Quando chamado a justificar a inação do governo diante dos atos de barbárie praticados pelo MST, o nosso presidente, instruído pelo politburo, limita-se a criticar os excessos , mas nada faz para reprimir os atos criminosos. Já o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, repete sempre a mesma frase, um insulto à nossa inteligência: Enquanto o movimento estiver atuando dentro dos limites da lei e do marco democrático, resta ao governo o acompanhamento da situação . Implicitamente, com tal discurso, Bastos dá respaldo às invasões ilegais de propriedades produtivas e improdutivas por bandoleiros armados; entende como legítima a destruição dos patrimônios público e privado; e enxerga legalidade nos bloqueios de estradas e nas ocupações de prédios governamentais. Os ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, e da Reforma Agrária, Miguel Rossetto, divergiram publicamente sobre o modo como o governo deveria tratar a questão. Enquanto Rodrigues exige a defesa do setor produtivo rural, Rossetto recusa-se a considerar as violações da propriedade alheia como um caso de polícia. Parece que o comissariado petista segue a antiga máxima de Lula da Silva de que devem ser respeitadas apenas as leis com as quais concordarmos.
E existem agravantes. Dom José Maria Libório Camino Saracho, bispo diocesano de Presidente Prudente, embora represente o imenso latifúndio da Mitra, em vez de, durante a santa missa, incentivar o amor ao próximo, incita a violência no campo, ao pregar que as terras a ninguém pertencem, senão a Deus. Ora, sendo o comunismo uma doutrina ateísta, isso equivale a dizer que nenhuma terra tem dono; por conseguinte, segundo a vandálica percepção do ilustre prelado, até os quintais de nossas casas podem ser invadidos e saqueados à vontade com a bênção da Igreja e a omissão do Estado. Eis aí uma boa receita para a geração do caos. Cuidemos, contudo, nos exemplos da História, porque ensinam que os cenários marcados pela sujeira dos anarquistas foram lavados com sangue e recompostos, sempre, por funestos e duradouros regimes de exceção.
Antonio Sepulveda escreve às quartas-feiras nesta página.