Durante o Governo Collor, o lunático Lutzemberger (é assim que se escreve?), então ministro do Meio Ambiente, espantou-se com a riqueza da Amazônia, que só então, junto com o outro Fernando, veio a conhecer “in loco”. Anteriormente, Lutz já havia rabiscado muitos escritos sobre a Amazônia, sem nunca ter colocado os pés lá. Pode-se entender, pois, o seu espanto, quando se deu conta da quantidade de besteira que havia escrito sobre a área.
Em Usina de Letras, a coisa não é muito diferente. Como de jornalista e louco cada usineiro tem um pouco, seus escribas passam a escrever sobre qualquer coisa, “do cocô à bomba atômica”, como diria Jô Soares, como profundos especialistas que são, senhores absolutos da verdade – aí incluídas, obviamente, também as senhoras e as sukitas usineiras. Muitos sabem das coisas apenas “de orelhada”, mas, apesar disso, opinam sobre assuntos que têm a mesma consistência de um cocô recém-colocado por uma vaca no pasto.
O que não quer dizer que ninguém tenha o direito de opinar sobre o cocô ou sobre a bomba atômica. Usina de Letras é a única editora virtual, me parece, que permite qualquer pessoa se cadastrar e escrever sobre o que der na telha. Até de lá colocar seu cocô. O que torna as páginas de Usina realmente democrática, apesar de um tanto poluída, pois permite a publicação de todas as vertentes de pensamento, sem censura prévia – o que, sem dúvida, ocorre com outras editoras semelhantes, especialmente aquelas dominadas por facções ideológicas.
Muitos usineiros culpam o capital transnacional, que vem ao Brasil para uma noite no motel/bordel da especulação e na manhã seguinte dá tchau. Outros malham o judas de todas as sextas-feiras do ano, o FMI, como o responsável por todos os nossos problemas sociais. Outros ficam com brotoejas só de pensar que os americanos irão ocupar uma área em Alcântara, para lançamento de foguetes.
Em primeiro lugar, é bom esclarecer que o dinheiro especulativo existe apenas para isso: especular. Para nada mais. Soros que o diga. Tinha 22 bilhões de dólares antes do calote russo, hoje tem a metade. Faz parte do jogo. Se ele perdeu, alguém ganhou. No caso, fez-se até uma melhor distribuição de renda. Todos nós sabemos que esse dinheiro especulativo tão rápido entra em nosso País como sai. Não era nosso dinheiro mesmo, não iria ficar aqui para sempre, nem por muito tempo. Era apenas o dinheiro das velhinhas que moram ao norte da linha do Equador. Veio “fazer um ganho” e se foi. O que há de mal nisso? Por que nós não fazemos igual?
O FMI, por outro lado, é tratado como agiota. E, provavelmente, o seja de verdade. Porém, a culpa por me endividar, por exemplo, com um agiota, é minha ou do agiota que me emprestou o dinheiro? O fato de nossa dívida, pública e externa – juntas, um PIB inteiro nos tempos de FHC –, ter chegado à estratosfera, é culpa do FMI e dos bancos em geral, como muitos dizem, ou não é única e exclusivamente culpa da nossa incompetente equipe econômica? Empresta dinheiro de agiota quem quer. O agiota está no seu papel, assim como o bandido está no dele, e a vaca de – além do leite – lançar cocô no pasto. O agiota que vá para o diabo que o carregue, mas que o diabo deveria levar junto consigo também nossos fracassados doutores de Harvard, que botaram nossa economia no atoleiro, isso deveria, sim.
Outra bobagem é esse assunto em pauta hoje, em que até o Ministro da Defesa foi chamado para explicar à Câmara dos Deputados: a cessão de uma área em Alcântara para os americanos lançarem seus foguetes. “O relator da matéria na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputado Waldir Pires (PT-BA), é contra o acordo por considerar que ele atinge a soberania nacional.” (O Estado de S. Paulo, 5/9/2001)
Qual soberania nacional estaria em questão? É claro que os americanos não vão permitir que tenhamos acesso à tecnologia que seria trazida à base de Alcântara. Não é que eles sejam malvados imperialistas, apenas é uma questão de resguardar seus segredos tecnológicos. Não iriam abrir sua caixa preta científica, talvez a mais avançada do planeta, em troca do aluguel de um simples terreno – mesmo que esse terreno fique em um local privilegiado, próximo à linha do Equador, ocasionando uma economia de uns 30% de combustível, em relação a Canaveral, para colocar satélites em órbita terrestre. Além do mais, é uma exigência da lei americana, que exige apenas o óbvio: a preservação do conhecimento tecnológico.
O Brasil já tem acordos espaciais semelhantes com a China, para lançamento de um satélite nacional (CBERS), e com a Rússia, e não consta que esses países tenham ferido nossa soberania nacional, simplesmente por não terem repassado sua tecnologia ao Brasil. Se você ceder um quarto a um casal de amigos, isso não quer dizer que você vá perder a “soberania” sobre sua casa, caso você não exija que as malas dos amigos sejam abertas, para você contar as cuecas e as calcinhas que lá dentro se encontram.
Ora, ceder um espaço aos americanos, aos ucranianos ou aos japoneses, para que guardem suas tralhas tecnológicas e lancem foguetes, longe da arapongagem petista, não é ferir a soberania nacional. É apenas fazer uso inteligente de nosso tutano para ganhar um dinheiro extra com nossa base estrategicamente colocada próximo à linha do Equador. Nada teremos a perder, só a ganhar. Afinal, se for por medo da espionagem americana, que iria se instalar fisicamente em nosso território, convém lembrar a nossos exaltados patrícios nacionalistas que não há uma única ligação telefônica, não há um mísero fax nem um e-mail sequer que transite no mundo sem que esteja sendo rastreado pela arapongagem americana (*)
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(*) A rede Echelon é um sistema secreto de vigilância e interceptação das telecomunicações, operada em escala planetária pela Agência de Segurança Nacional (NSA), dos EUA.
Há suspeita de que, na época da concorrência para a implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), os EUA, com o Echelon, bisbilhotaram mensagens da França para o Brasil. A França, como se sabe, era um dos principais concorrentes de Tio Sam. Assim, não foi difícil os EUA vencer o contrato bilionário com a Raytheon.