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Artigos-->Como queria Bin Laden -- 17/03/2004 - 15:19 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como queria Bin Laden



Ali Kamel (*)

Rio, 16 de março de 2004



Quando vi pela televisão os simpatizantes do Partido Socialista Operário Espanhol, em frente às sedes do Partido Popular, com cartazes onde se lia a palavra “paz”, levei um susto. Eles cobravam a verdade sobre a autoria dos atentados de Madri, que o governo insistia em atribuir ao ETA. Mas por que pedir “paz” aos partidários de Aznar? A leitura não poderia ser outra: eles atribuíam a culpa pelos atentados à decisão de Aznar de apoiar a guerra do Iraque. Ou seja, os culpados não seriam os membros da al-Qaeda, mas o governo espanhol. Foi política eleitoral feita em cima de cadáveres. Os espanhóis concordaram com a tese e acabaram dando a vitória aos socialistas. Mas o vitorioso não foi o PSOE. O vitorioso foi Osama bin Laden.



A derrota do PP foi uma surpresa. Às vésperas do atentado, ele era o franco favorito nas pesquisas, porque fez a Espanha crescer e criou 4,5 milhões de empregos. Era de se imaginar que o atentado faria o povo se unir ainda mais em torno de seu governo. Desafiado por um atentado monstruoso cujo objetivo era justamente atingir Aznar, o povo espanhol não tinha outra saída moral senão apoiá-lo. Se não tivesse havido atentado, teria sido legítimo derrotá-lo, caso o povo não tivesse superado a irritação de um ano e meio antes, quando Aznar contrariou 90% dos eleitores e apoiou a guerra. Mas, diante dos 200 cadáveres, derrotá-lo foi a pior mensagem que os espanhóis poderiam dar ao mundo. Aznar foi punido, não tanto porque teria mentido ao acusar primeiro o ETA, mas porque, ao apoiar a guerra, teria colocado o país na mira da al-Qaeda. Este é, porém, um pensamento torto, covarde, que vive no mundo da ilusão. “Não mexamos com eles que eles não mexerão conosco”. Porque, na lógica da al-Qaeda, ninguém está a salvo. O presidente de governo eleito já anunciou que retirará as tropas espanholas do Iraque. Como quer Bin Laden.



As Nações Unidas já tinham dado recado semelhante: depois do atentado que matou seus funcionários em Bagdá, abandonaram o Iraque. Os dois exemplos dão à al-Qaeda a certeza de que o caminho perverso dos atentados é eficaz. Até o resultado das eleições espanholas, eu estava confiante em que, depois da tragédia, a Europa finalmente entenderia o poder do inimigo. Quando vi todos os chefes de Estado demonstrando indignação, imaginei que dali fosse sair um plano para uma ação conjunta e decisiva para enfrentar o que o mundo tem de fato pela frente: uma guerra entre os que defendem a liberdade de pensamento, os direitos humanos, os mais altos valores da Humanidade e aqueles que vivem num mundo em que não há lugar para a razão.



Mas ainda não foi dessa vez. O que vemos é França, Itália, Alemanha, mortas de medo, tentando incrementar medidas internas de segurança para evitar novos ataques. Como se a questão fosse de polícia. Não percebem que medida alguma de segurança pode evitar um ataque como os da al-Qaeda. Se os aviões estão impenetráveis, eles vão para os trens. Se os trens estiverem impenetráveis, eles seguirão para o metrô. E se um dia for possível tornar seguro o transporte de massa, os terroristas acharão outras multidões para matar. O trágico é que a derrota de Aznar fará cada político europeu pensar duas vezes antes de aderir com a intensidade necessária à guerra antiterror. Tomarão medidas profiláticas, mas temo que não terão coragem de bater de frente com o inimigo. Vão se apequenar, temendo que seus países virem alvo preferencial e que, depois, na fatalidade de um atentado, sejam corridos do poder. Como na Espanha. Não percebem que não há saída: a França não apoiou a guerra, mas treme de medo porque ousou fazer valer seus princípios republicanos e proibiu o uso do véu.



Não, nem todos se deram conta de quem é o inimigo: um grupo que imagina que fala com Deus, vê a todos que pensam de forma diferente como seres impuros e é dono de uma verdade que quer impor ao mundo pela força. O inimigo se diz muçulmano, mas é apenas uma seita enlouquecida de um ramo já enlouquecido do islamismo. Combatê-lo é urgente. O inimigo está confiante. Na carta em que assume o atentado, ele sequer esconde futuros passos: “Trazemos boas novas aos muçulmanos do mundo: o ataque dos ‘ventos da morte negra’ nos Estados Unidos está agora em estágio final e, queira Deus, em breve pronto”.



(*) ALI KAMEL é jornalista









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