"Aldo Rebelo é tão nacionalista que luta, com muita coragem, pela abolição do pão francês.
Ele apresentou um projeto de lei que obriga a adição de farinha de raspa de mandioca à de trigo.
Com a modernidade de Rebelo, o futuro do governo Lula está garantido"
Aldo Rebelo é um dos políticos mais admiráveis que o Brasil já teve. Sua nomeação para o ministério do governo Lula consagra uma carreira marcada pela defesa intransigente das cores nacionais. Ele ficou conhecido em todo o país pelo projeto de lei que proíbe o uso de estrangeirismos na língua portuguesa. Mas não é sua única iniciativa meritória em prol da pátria.
Aldo Rebelo é tão visceralmente nacionalista que também luta, com muita coragem, pela abolição do pão francês. Estamos no Brasil, não na França. Então não há motivo para comer pão francês. O pão francês é o instrumento através do qual as forças espúrias do imperialismo se insinuam na consciência nacional. O pão genuinamente brasileiro não é o de trigo, mas o de mandioca.
De fato, Aldo Rebelo apresentou um projeto de lei que obriga a adição de farinha de raspa de mandioca à farinha de trigo. No Brasil, as autoridades têm o costume de adicionar certa porcentagem de um produto a outro: álcool é adicionado à gasolina, coliformes fecais são adicionados à água do mar, doações de campanhas eleitorais são adicionadas aos salários dos servidores públicos. A tal propósito, a reforma ministerial criou quase 3.000 novos cargos. Uma porcentagem dos proventos dos novos contratados será desviada para abastecer o caixa do PT, sob a forma de contribuição voluntária ao partido.
O primeiro ano do governo Lula foi muito ruim. O segundo certamente será melhor. Basta aproveitar direito o talento renovador de Aldo Rebelo. Pouco tempo atrás, ele lançou a idéia de proibir a adoção, pelos órgãos públicos, de qualquer tipo de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra. O princípio responde aos mais rígidos critérios de gerenciamento administrativo. De acordo com o projeto de Aldo Rebelo, quanto mais funcionários forem usados para executar um trabalho, melhor.
Se uma repartição inteira puder ser substituída por um simples computador, deve-se abolir o
computador. Aldo Rebelo considera justamente que a administração pública é rápida demais, barata demais, eficiente demais. Precisamos inchá-la ao infinito. Foi o mesmo raciocínio que o levou a condenar a adoção de catracas eletrônicas em veículos de transporte coletivo. Por que adotar uma máquina alienígena se por meio do salário mínimo podemos empregar um legítimo cobrador nordestino?
Outros importantes projetos legislativos de Aldo Rebelo foram o exame obrigatório de DNA antes da cremação de cadáveres, a construção de um campo de futebol para cada 1 000 unidades habitacionais e a proibição de pagamento de royalties (o estrangeirismo foi usado pelo próprio Aldo Rebelo, não por mim) entre multinacional e subsidiária. A indústria farmacêutica nacional gostou tanto do último ponto que se tornou a maior financiadora das campanhas eleitorais do novo ministro. Na última legislatura, Aldo Rebelo também tentou garantir um salário-desemprego de oito meses a todos os trabalhadores desocupados com mais de 50 anos. Vamos ver se, na condição de principal articulador político do governo, ele levará adiante a proposta.
Com o cosmopolitismo e o espírito de modernidade de Aldo Rebelo, o futuro do governo Lula está garantido. Azar das catracas eletrônicas. Azar do pão francês.