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Artigos-->A Inquisição Petista -- 13/12/2003 - 20:35 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) |
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INQUISIÇÃO PETISTA
Laerte Braga
José Torquemada Genoíno, de comum acordo com os integrantes do Santo
Ofício, decidiu transferir a reunião do diretório nacional do PT,
domingo, para Brasília. O partido que sempre foi comandado (e continua
sendo) por São Paulo, vai buscar os ares da capital para a fogueira em
que serão colocados Heloísa Helena, Luciana Genro, Babá e João Fontes.
Querem evitar protestos, querem que a repercussão seja a menor possível.
Jânio Quadros chamou Brasília de cidade maldita. Referia-se à solidão,
diagnosticada por vários líderes políticos, que a capital provoca. Uma
ilha da fantasia, como classificou Millôr Ferrnandes.
Uma interpretação mais objetiva: querem evitar ter que encarar os
militantes do partido e explicarem o inexplicável. É a mais deslavada
prática de barbárie no melhor estilo ACM. A truculência como meio de
ação política.
A vesgueira política de gente como Genoíno, José Dirceu, Antônio
Palocci, a mediocridade de Lula, são incapazes de perceber que, naquela
atitude, a expulsão, vão começar a acelerar o processo de morte um
partido que foi diferente e hoje é um PFL da vida, como qualquer PSDB ou
PMDB do mundo.
Só enxergam o poder.
Há uma diferença abissal entre a emocionada indignação da senadora
Heloísa Helena e a cínica postura de um governo envolvido pelo que há de
mais podre na sociedade brasileira. Tentam transformar essa capacidade
de ser gente, em Heloísa Helena, em algo patético. É que viraram zumbis
no deslumbramento pelo poder, pelos galinheiros subterrâneos, pelas
jóias da H. Stern.
Não são mais capazes de identificar o ser humano como tal. Adotaram a
prática de Malan, um dos mais aperfeiçoados produtos da tecnologia
robótica norte-americana. Tudo se resume a índices.
A velha frase de Lincoln se presta a situações como esta: você pode
enganar a uma pessoa por algum tempo. A muitas pessoas por muito tempo,
mas não pode enganar a todas as pessoas por todo o tempo.
Os jornais dão conta de um arranjo entre os tucanos para salvar a
reforma tributária. Claro. A oposição é de mentira. Houve apenas uma
troca de guardas no Palácio.
O instituto da fidelidade partidária é saudável, mas se presta acima de
tudo a impedir que o programa do partido seja desvirtuado. Lula e sua
turma nem se lembram mais do que seja esse programa.
O diabo é que Heloísa Helena, Luciana Genro, Babá e João Fontes cismaram
de trazer à público esses compromissos e os novos deuses do Olimpo de
Brasília não admitem contestação.
Em 1998. no comício do candidato a governador de Minas, Patrus Ananias,
do PT, na cidade de Itamar Franco, Juiz de Fora, o deputado Paulo
Delgado, o mesmo que investiu contra Noam Chomsky (uma espécie de pulga
na asa da águia, frase de Luís Viana Filho respondendo a Raimundo
Magalhães Júnior), disse o seguinte em sua peroração: quem conhece o
Patrus vota no Patrus, mas o doutor Itamar também é um bom candidato.
Traição é isso.
Há um aspecto político importante na decisão de expulsar de imediato os
quatro parlamentares. Não querem problemas nem nas eleições municipais
do próximo ano e nem em 2005, quando da serão eleitos os novos
presidentes do PT. Presidentes e diretórios. Querem uma limpa antes,
cortar cabeças o mais rápido possível.
Há uma história, dentre muitas, se verdade ou não. não importa, ilustra
bem o que quero dizer. É sobre a mulher de um general condenado à morte
nos expurgos estalinistas. A senhora foi pedir a Stalin pelo marido e
ele respondeu assim: não posso. Eu estou aqui porque fui perdoado por ele.
A lógica perversa e repugnante do autoritarismo. Da prepotência. Só são
humildes e bondosos com a Monsanto. Com os fundos de previdência privada
dos Estados Unidos. Com as companhias falidas que controlam o sistema de
energia elétrica no País. Com os banqueiros. Com o latifúndio que
plantou transgênicos em desrespeito à lei. Que mata trabalhadores rurais.
Como diz Mr. Palocci, os projetos sociais no Brasil custam muito caro.
Segunda-feira o PT amanhecerá um partido qualquer se consumada a
violência da expulsão dos quatro parlamentares.
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