Michael P. Tremoglie, do FrontPageMagazine.com (26 de novembro de 2003)
No rastro da invasão de Miami por anarco-socialistas em protesto contra as reuniões da Área de Livre Comércio das Américas – Alca, é importante que se entenda como se organizam tais movimentos. O Centro de Mídia Independente (ou CMI , ou Indymedia) é a ciberfonte de informação, a CNN e o Clear Channel para quase todos os grupos periféricos de esquerdistas lunáticos dedicados a varrer o capitalismo do mundo. Indymedia é a instituição criada para que anarco-socialistas possam comunicar-se entre si e coordenar suas atividades. Aliás, o CMI foi louvado por nada menos que a prestigiada revista Mother Jones, que observou, em sua edição de 17 de novembro: “As manifestações globais antiguerra que surpreenderam o mundo em 15 de fevereiro nasceram de anos de ativismo globalizado, construído em redes como a Indymedia e o Fórum Social Mundial.”
O CMI define-se, um tanto presunçosamente, como “uma rede de meios coletivos de comunicação que produz informação fidedigna, radical e apaixonada. Trabalhamos com amor e inspiração para as pessoas que continuam a desejar um mundo melhor, a despeito das distorções e relutância da mídia empresarial em cobrir os movimentos de libertação da humanidade”.
Contudo, como alguém presente a uma reunião do CMI em Seattle revelou-me por e-mail, “a Indymedia canaliza recursos de fundações como a Soros e a Ford para suas campanhas contra a democracia, o capitalismo e o governo americano. Recebe doações de empresas como a Mercy Corps. (...) dinheiro (...) doado pela Nike e a Microsoft para caridade na África, a princípio, e que [ o CMI Brasil ] vai usar para seus próprios fins, sem o consentimento delas. (...) Um ativista do CMI disse que ou essas companhias são muito estúpidas, ou o CMI ainda não é considerado grande ameaça ao capitalismo mundial”.
Se ainda restarem dúvidas sobre os objetivos do centro, será suficiente ler o seguinte trecho de um artigo publicado pelo CMI-Austin em 11 de novembro de 2003. O artigo, ao comentar as manifestações anti-Alca, afirma que “Miami é o cenário de uma das mais importantes mobilizações realizadas pelo movimento de justiça global desde o 9/11. No mesmo espírito de resistência demonstrado nos protestos contra a Organização Mundial de Comércio – OMC, uma ampla coalizão de ativistas locais, sindicatos e organizações não-governamentais planejam demonstrações em larga escala, com o intuito de frustrar as negociações e delinear alternativas à globalização corporativa. Desde anarquistas até agricultores familiares, Miami vai transbordar de gente que sabe que um outro mundo é possível”. ( negritos meus )
Um artigo publicado no Indymedia-Pittsburgh faz a mesma declaração. “O governo calcula que entre vinte e cem mil pessoas tentem frustrar o encontro de cúpula, e não vemos razão para desapontá-lo. (...) A série de eventos já programados inclui: fóruns (...) treinamentos de ação, um megaconcerto ao ar livre patrocinado pela Federação Americana do Trabalho-Congresso das Organização Industriais ( AFL-CIO ), comício de metalúrgicos, passeata e manifestação em massa, bloqueio humano para impedir as reuniões (...). Os grupos de ativistas anti-Alca empregarão grande variedade de táticas de luta. Algumas envolvem risco de detenção.” ( negrito meu )
Porém, apesar dos insultos ao corporatismo — o Grande Satã dos anarco-socialistas, é do corporatismo que saiu o CMI. Os Centros de Mídia Independente foram concebidos durante a convenção democrata de 1996, em Chicago. Não foi, entretanto, senão até 1999 que a Indymedia apareceu efetivamente em Seattle, por ocasião das mobilizações contra a OMC.
Os fundadores era Dan Merkle, advogado em Seattle, e Sheri Herndon, ativista profissional. Merkle era a pessoa ideal para liderar a empreitada. Seu sócio na advocacia, Bob Siegel, é o atual presidente da Seattle National Lawyers Guild — uma associação da linha de frente comunista formada em 1930. Merkle fundou diversas instituições sem fins lucrativos na área de Seattle. Ele e Herndon tinham os recursos financeiros, a organização, a técnica e a ideologia necessárias para formar o CMI de Seattle.
As doações à Indymedia tornaram-se dedutíveis de impostos através do mecanismo de patrocínio fiscal. O patrocinador fiscal é uma entidade jurídica que recebe doações isentas de imposto federal e as repassa a uma outra entidade sem status de isenção. [1] O patrocinador fiscal da Indymedia era a Jam for Justice [2] — uma instituição sem fins lucrativos criada por Merkle. O atual financiador é o CMI baseado na Universidade de Illinois, Urbana-Champaign [3], que agora é isento de impostos. [4]
Um dos primeiros doadores do CMI é, por ironia, a Glaser Foundation. Rob Glaser é o fundador da RealNetworks e RealPlayer, uma corporação da Internet bastante rentável. Assim, conquanto a Indymedia afirme evitar corporações e financiadores, é justo a esses que deve sua existência. Glaser está encantado com a Indymedia.
É paradoxal que o CMI seja o elo entre a riqueza da tecnologia capitalista e o anticapitalismo. Bem, talvez menos paradoxal do que parece. O fato de a Indymedia ter sido desenvolvida e financiada por indivíduos tão ricos quanto Soros, Glaser e Merkle é emblemático do Vanguardismo de Lênin. Segundo a filosofia leninista, cabe à vanguarda dos intelectuais e talentosos conduzir os operários ao paraíso. A Indymedia faz parte dessa vanguarda.
O verdadeiro paradoxo dos Centros de Mídia Independente é o seu nome. Eles não são nada independentes, embora se iludam na crença de o serem. Os CMI, bem ao contrário, dependem muito das lideranças comunistas, anticapitalistas e antiamericanistas. Gente a quem Thomas Sowell chamou de “os ungidos”. Gente que acredita estar de posse de alguma sabedoria especial capaz de fazer do mundo um lugar melhor — se ao menos nós tivéssemos o bom senso de lhe dar ouvidos.
Os administradores do CMI são a versão moderna daqueles que organizaram a Associação Internacional dos Trabalhadores há mais de um século. A AIT, ou Primeira Internacional, foi criada em Londres, em fins de 1800. Seu propósito era estabelecer uma sociedade sem classes e sem Estado, que traria a felicidade e a paz ao mundo.
O resultado dos esforços dessa internacional comunista foi a morte de cem milhões de pessoas e o empobrecimento de bilhões de outras. Foi uma péssima idéia então e é uma péssima idéia agora.
* * *
N. da T.:
[1] fiscal sponsor – Os patrocinadores fiscais fazem mais que captar e aplicar recursos; eles também os administram a uma taxa de 4%. Dada sua natureza não-lucrativa, são as únicas entidades autorizadas a receber fundos, imprescindíveis, portanto, para as que não têm o mesmo status fiscal.
[2] Como todo núcleo bem nutrido, a Jam for Justice gerou filhotes mais especializados — por exemplo, o Center for Social Justice, cujo foco é provocar mudanças no sistema penal norte-americano.
[3] A coordenadora Sascha Meinrath explica por que o centro de Urbana-Champaign passou a administrar as finanças do CMI: http://lists.cu.groogroo.com/mailman/archive/imc/2002-March/002427.html
[4] Elevado à categoria de patrocinador, o CMI de Urbana-Champaign, Illinois, pode repassar recursos ao Tactical Media Fund - TMF, que ele mesmo criou para financiar projetos de mídia que, por não terem vínculos diretos com a Indymedia, estão em condições ainda melhores de conseguir novas fontes de financiamento. As conexões financeiras são intricadas, mas quase sempre previsíveis. Beneficiária de Urbana, a Western MA Citizens for Independent Broadcasting (v. também http://www.cipbonline.org/) é uma emissora da Democracy Now! e tem vários benfeitores elegantes, dentre os quais destacam-se os departamentos de Comunicação e de Estudos Afro-americanos, ambos da Universidade de Massachusetts; a Media Education Foundation; a livraria on-line Food for Thought Books, o American Friends Service Committee e a Palestine Action Coalition.
Mais informações sobre os tentáculos da Indymedia:
1- arquivos de mensagens do CMI: http://lists.cu.groogroo.com/mailman/archive/imc/
2- artigo de Milla Kette n’O Expressionista: http://www.oexpressionista.com.br/queima_roupa/file2003_06.shtml"