ffffd5>  993300 size=2>Este querido irmão antoniano e benquisto portuga é mais novo do que eu três anos. Se nas mesmas ganas de físico sentido como eu andar e não for propositadamente desconsiderado, como Amado foi em face das lambusadas conveniências políticas que manietaram os anos noventa, será sem favor o próximo e segundo escritor lusófono a lograr o Nobel da Literatura, quiçá já aí adiante, no decurso do lustro que fecha o primeiro estúpido decénio do século que dealbou em sombrio prenúncio.  993300 size=2> Alguns Dados Biográficos
António Lobo Antunes nasceu em Lisboa em 1942, vertido no seio de uma família de veias aristocráticas. Aos 7 anos decidiu ser escritor, mas aos 16, na altura da inscrição para a faculdade, o pai inscreveu-o na Faculdade de Medicina. Todavia, nunca deixou de escrever durante o tempo de estudante forçado. Quando tirou o curso de médico psiquiatra, foi para Londres, porque queria trabalhar no mesmo hospital onde Somerset Maugham tinha experimentado o esplendor da medicina a fazer amor com a escrita.
Quando chegou de Londres o recrutamento militar esperava-o e impeliu-o para a luta parda da guerrilha em Angola, tendo sido no hospital de guerra que tomou consciência plena dos outros e da morte. Regressou do conflito angolano em 1973 e só nessa altura conheceu a sua filha mais velha, nascida duas Primaveras antes.
Trabalhou durante largo tempo na Alemanha e na Bélgica. Pouco depois de se ter separado da esposa, em 1976, publica o seu primeiro romance, "Memória de Elefante", em 1979, que é a história dessa separação. Após o deslumbrante sucesso deste seu romance decide renunciar à Medicina e dedica-se integralmente à literatura.
Qualificam-no de escritor "imprescindível à narrativa contemporânea". A beleza da sua prosa, a sua exactidão e pormenorizado rigor, assim como a complexa arquitectura de suas histórias, fazem dele o escritor mais inteligente e sedutor da narração actual. A sua prosa abarca um universo indimensional, onde cabe de tudo, desde a alegria, o humor, o entusiasmo, a poesia, mas a acicatante omnipresença da morte não permite classificar os seus romances no sentido propriamente alegre e optimista.
O seu último romance "Exortação aos Crocodilos", publicado em 1999 e com o qual ganhou o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, é por ele considerado o mais conseguido, mas também o mais estranho. Tudo o que estava dentro do livro acabou por acontecer.
Descreve um homem que teve um acidente vascular cerebral e José Cardoso Pires, grande amigo seu, sofreu exactamente o mesmo mal. Aborda também uma mulher que morre de cancro de rim e curiosamente a mãe de suas filhas morreu desse mesmo efeito.
Em última notícia, escrevia um romance para o qual ainda não tinha criado título. Trata-se de um texto cuja personagem principal é uma rapariga muito jovem, que nunca experimentou o amor, não conhece a morte e não sabe nada da vida, sem dúvida algo naturalmente vivido por onde vai perpassando.
Ao falar, quando cede a respostas, António Lobo Antunes dá a impressão que mastiga as palavras, saboreia-as e dá-as como bolo alimentar pronto a satisfazer as digestões cerebrais da estupidez hodierna que o molesta com o óbvio à sombra de aflitiva sobrevivência. Por isso mesmo, embora sorridentemente enfadado, o escritor não regateia o alimento subreptício que para nada mais serve senão adiar a existência e andar à volta da mesma volta.
António... O lobo uiva Por entre a paisagem ruiva Que arde na indiferença... Antes de unires a história Ó caçador da memória Para trás pensa e repensa...
Pelos uivos a presença Dos coiotes e hienas Como sempre está na era Dos despojos que sobrarem Para os filhos se cevarem Com a morte sempre à espera.
Torre da Guia = Portus Calle |