Naquele posto de gasolina , o combustível era comum, igual
ao de outro posto qualquer. O que ele tinha de especial mesmo era
uma frentista de curvas generosas e molejo especial. Voz suave
e rouca, convencia a qualquer um a encher o tanque até transbordar.
Sem sombra de dúvidas, Raimunda ( qualquer semelhança é mera coincidência ) era a frentista mais gostosa do bairro. Apesar de frentista o forte de Raimunda eram os seus atributos traseiros. Dentro de um mini-short e uma minúscula blusa, Raimunda fazia com que Atanagildo completasse o tanque três vezes ao dia. Nem regulava mais o carburador. O negócio era consumir o máximo possível e depois abastecer o carro e ser contemplado com aquele visual arrasador da morena. De tanto abastecer o seu carro , Atanagildo acabou ficando íntimo de Raimunda. Daí para uma geral num motel foi um pulo só. Troca de óleo e lubrificação completa com óleo de mamona. Teria sido um “crime perfeito” não fosse o fato de Raimunda nunca mais ter aparecido no posto para trabalhar. A clientela estava desolada. O faturamento do posto caiu vertiginosamente. Depois de quase um mês desaparecida, até que enfim Raimunda dera notícias. Escrevera uma carta para os colegas de trabalho e clientes se desculpando pelo sumiço e explicando que por motivo de saúde preferiu voltar a sua terra natal, no interior da Bahia para morrer junto aos seus entes queridos, visto que era portadora de uma doença incurável, e terminava a fatídica carta listando todos os clientes que ultrapassaram os limites de um simples abastecimento . Era uma lista de respeito. Havia gente de todo tipo: de garis à Pms, de estivadores a pastores e entre mais de cem nomes lá estava o de Atanagildo. Esta realmente não estava no programa. O boato logo se espalhou pelo bairro e a mulherada tentava a todo custo colocar as mãos na lista da Raimunda para se certificar se os maridos haviam sucumbido aos encantos da frentista fatal . O medo dos machões era de que o dono do posto não resistisse as propinas oferecidas para a liberação do documento, que a essa altura já estava valendo uma fortuna.
Atanagildo não dormia mais. Os olhos já estavam bem fundos e com imensas olheiras. Passava as noites em branco. Começava a emagrecer. Perdera a fome. Estava sofrendo uma verdadeira tortura chinesa. Então tomou coragem e procurou um especialista e se submeteu a uma bateria de exames, inclusive o teste de HIV ( principalmente ). Só agindo assim poderia se livrar do fantasma da Raimunda, ou se despedir de vez da vida boêmia. No dia marcado para o resultado Atanagildo suava frio no banco de espera da clínica. Até que uma voz com som grave vindo de uma das salas o convocou a entrar. Já dentro da sala Atanagildo foi direto ao assunto : -“E então doutor?” “ Como é que eu estou?” O médico olhando bem sério para o pobre paciente disferiu: - “ O senhor está com um problema muito sério.” “Algo que o senhor adquiriu há pouco tempo.” Quase desfalecendo Atanagildo suplicou: - “ O quê doutor?” - “ O senhor está com uma tremenda úlcera nervosa que precisa ser tratada o mais rápido possível.”
- “ Mas doutor,e a Aids?”
- “ O senhor não tem Aids coisa nenhuma meu amigo”.
- “ Úlcera nervosa?” “Obrigado meu Deus!” Atanagildo se levantou eufórico e tascou um forte abraço no médico e saiu porta à fora comemorando a sua mais nova doença : Bendita úlcera nervosa . E para encerrar o incidente organizou um tremendo churrasco para comemorar o seu diagnóstico no botequim bem em frente ao posto de gasolina. A maioria dos convidados fazia parte da lista da Raimunda, e o boteco lotou.