O título deste artigo estabelece um paradoxo. Como pode ser difícil escrever de maneira simples?
Escrever de forma simples e alcançar os objetivos propostos é uma arte que poucos dominam. Muita gente opta pela erudição de seus textos, como uma forma de demonstrar profundo conhecimento da matéria, e impressionar o leitor com uma verborragia e malabarismos lingüísticos.
Jorge Amado foi esse grande escritor, justamente por ter oferecido ao povo brasileiro, e posteriormente ao mundo, uma prosa simples, honesta e objetiva , onde o leitor é literalmente sugado pela magia de seus textos, onde repousa o espírito e a alma do povo brasileiro, na sua essência mais pura. Explorando a brasilidade de seus personagens, Jorge Amado passou a ser um escritor universal. Um russo, um americano ou um asiático sente a mesma emoção ao ler os seus livros. Jorge não complicava o texto, e esse foi o maior de seus méritos, responsável pela sua universalidade.
Na França do século 19, havia um homem, por nome de Camille Flamarion, considerado um grande vulgarizador. O vulgarizador era um elemento capaz de trazer à luz do conhecimento popular os assuntos mais complexos. Com o passar dos tempos, esses elementos foram desaparecendo, restando apenas a categoria dos complicadores. A finalidade do complicador é colocar bem longe do alcance popular, as matérias e assuntos de interesse relevante ao público, estabelecendo assim, uma espécie de reserva de domínio, ou monopólio sobre determinadas áreas do conhecimento humano. Normalmente são homens influentes, narcisistas e mergulhados até o pescoço no charco da vaidade. São bastante fluentes no economês, e sempre que tiverem chance de complicar, com certeza o farão com maestria.
Certa ocasião, fiz uma demonstração a pedido de um amigo, de como se poderia escrever um texto, onde o leitor menos preparado ficaria preso num labirinto de idéias desconexas.
Vejam o texto:
CONVITE À REFLEXÃO
Levando-se em consideração o quadro vigente e o risco em potencial de cairmos em um circunlóquio ideológico, onde estiolar-se-íam todas as tentativas de estabelecermos parâmetros conclusivos, embora revestidos de caráter legal, é mister que não esmoreçamos e procuremos atingir um consenso. Porém, para tal, haveremos de nos abster de atitudes insólitas e malévolas, o que certamente far-nos-ía decrescer na escala ascendente rumo a um "up grade" espiritual, condição à qual nos exporia à uma situação dantesca.
Contando com o seu irrestrito apoio, coloco-me à disposição para acolher os seus conceitos para ulteriores considerações, tendo em vista que V.Sa. possui um vasto cabedal científico concernente ao assunto em epígrafe, sendo o mesmo, verdadeiro agente catalisador para o intercâmbio de proposições.
Certo da sua compreensão e nobre colaboração,
envio os meus préstimos.
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Fora a complicação, e salve a simplicidade!
Maurílio Silva - silmaster@yahoo.com.br
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