No texto anterior, que ilustrei com um casal de colibris no espaço a afagarem-se como só eles sabem, sequer me passou pela cabeça - e já é a segunda vez - que os colibris são subtis: dão-se em beleza visual e auditiva, mas, logo que o gesto pareça partir para lhes retirar a liberdade, zás... Dão à asa e lá vão nossos olhos voando atrás até esgotarem o alcance nos pontinhos negros que se desfazem na imensidão azul.
No entanto , eu só pretendia mantê-los na magnificiência visual, mas, mesmo que neste apreço a ocorrência seja apenas virtual, o casalinho canoro trouxe-me ao silêncio dos olhos a realidade.
E foram-se tal qual se vão tantas pequenas coisas belas que ninguém deve forçar a permanecer. É exactamente essa a sensação real da liberdade... A maior das revelações e que também é delicadamente subtil. Sequer forço o retorno virtual dos colibris...
António Torre da Guia |