E o Senhor se dirige a Miguel, o educador-libertador solitário, parente longínquo de um missionário purificador, e lhe diz que irá destruir a universidade por conta do desvio do processo de saber que lá se desenvolve escandalosamente. Diz que lá se esqueceu de enfatizar que ciência é a busca incessante da sabedoria, não de técnicas e decorebas. Diz que a academia já se esqueceu de formar alunos-cidadãos, formadores de nações e grupos livres, preocupando-se apenas na transmissão de conhecimentos adquiridos e armazenados, como se esses fossem puras mercadorias. Salienta, ainda, que a universidade aparenta ser a guardiã de toda a sabedoria, fora da qual só reinaria a escuridão, numa prepotência galopante. Na tentativa de demover o Senhor de sua intenção, Miguel pede: Senhor, e se em meio aos milhares e milhares, houverem apenas 100 educadores-libertadores (EL), haveria uma chance de recuperação para a academia? E o Senhor diz que se Miguel for capaz de encontrar 100 EL, Ele, o Senhor, não destruirá a universidade. Pensa Miguel, faz as contas e diz: Senhor, e se eu encontrar apenas 50 EL, o Senhor promete que não destruiria a universidade? Sim, responde o Senhor. Se você encontrar 50 EL, não a destruirei. Pensa mais Miguel e lhe diz: E se eu encontrar apenas 20 EL, o que o Senhor fará? Por sua fidelidade ao compromisso de libertação, Miguel, se você encontrar 20 EL, não destruirei a universidade. Triste, Miguel reconhece a cruel realidade e diz ao Senhor: Meu Senhor, e se eu encontrar apenas 10 EL, o Senhor pouparia a universidade? Sim, Miguel, eu a pouparia. Nesse momento Miguel acorda de seu devaneio, sua viagem ao passado, quando ainda existia a arcaica universidade comandada pelos "donos do saber". Ao olhar ao seu redor, agradece ao Senhor por ter consigo os vários caminheiros, cada um com seu saber, ninguém dono da verdade, onde se misturam acadêmicos, letrados, não letrados, pessoas simples e até mesmo os chamados leigos e ignorantes em vários assuntos. E continuaram a reunião científica sobre filosofia e educação libertadora que falava da natureza do ser humano e de Deus, cuja diferença não mais se mostrava importante para eles.
