Ainda "a bíblia do caos" e impagáveis possíveis desdobramentos. Para Millôr, a única maneira de evitar a ingratidão é nunca praticar o bem. Ele que, para a divisão clássico-helênica dos gêneros, propõe uma outra, convenhamos, assaz revolucionária: a Tragédia, a Comédia, o Drama e a Chatice.
Cada vez millôr, o humorista me faz pensar em lampejos da nossa melhor poesia, como o "amor/humor" oswaldiano, que os concretistas,
em seu paideuma, elegeram como sendo a mãe de todos os poemínimos (viva Tchello d Barros, também usineiro!) brasileiros da silva e de vanguarda.
Cada vez millôr, o humorista me faz pensar que:
poetas canônicos como o próprio Oswald e sua legião de seguidores;
frasistas como Nelson Rodrigues e sua miríade de plagiadores;
minicontistas de veia, como os dois vampiros, o de Curitiba", Dalton Trevisan, e o outro, uilcon pereira, o "vâmpiro de textos para sempre àssombradado" (valeu, Jorge Pieiro!);
criadores de poemas-piada, como tantos por aí, em livros, telas e paredes;
poetas-publicitários geniais, como os irmãos Campos, Décio Pignatari ou Paulo Leminski;
poetas-tradutores, como José Paulo Paes, Carlos Vogt e tantos outros que admiro;
poeminimalistas e haikaisistas diversos;
todos eles, com toda a minha reverência,
tiveram (têm) lampejos do melhor Millôr.
Em Millôr, a quantidade (assombrosa) é de uma qualidade (idem)!
Com "a bíblia do caos" na mão esquerda
e a caneta bic na direita, continuo
ejaculando anotações a esmo. Sem a pretensão de igualá-los ou de superá-los, Deus me livre de ter medo ou vergonha, agora, de imitar, ou até plagiar, os mestres:
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Nos sobrolhos contraídos,
é visível o sortimento de culpa
do senador licenciado.
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Ora, finda a cirurgia plástica,
a boca aberta, morta de desgosto,
procura - que mudança drástica!
- aquela ex-fisionomia elástica
plastificada em seu impróprio rosto.
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É, aquela novela com a Sandy acabou deixando
muita gente, ao que vejo, pela hindumentária, simplesmente hippienotizada!
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E esta frase (de quem será?), a mais antiga de que me lembro, lida, como frase entre frases, para meu espanto e arrepio estético, no Estadão, que o meu avô assinava. Gostei e passei a repeti-la muitas vezes, orgulhosamente, para os meus ouvintes na época: "Oh, a inútil gravidez dos abacates!